sábado, 23 de dezembro de 2006

Que fazer com este blog?

Fez no dia 18 três anos que comecei a escrever este blog. Foram muitos anos a escrever muitas coisas. Escrevi sobre o que se passava na minha existência, mas mais frequentemente sobre o que se passava na minha cabeça, e nem sempre as coisas coincidem. Escrevi sobre a vida mas escrevi muito mais sobre a morte. E foram histórias, emoções, reflexões, lamentos e prazeres... Acho que quem ler tudo isto fica com uma ideia muito clara a meu respeito. Não é esse o grande objectivo de um escritor, a imortalidade?
Três anos de palavras não são três dias. Já é um livro que aqui está, aqui e no arquivo deste grande ciberespaço. Nos últimos tempos tenho ponderado se me apetece continuar. Tive de me tentar recordar - já me tinha esquecido - do momento em que comecei a escrever, e porque o fiz. Tinha um emprego na altura que permitia o tédio das horas mortas, como esta, em que escrevo à mão no papel o que depois virá a ser online. Nessa altura tinha muito tempo e, acima de tudo, muita vontade de desatar o nó das palavras e dizer algo ao mundo da minha justiça.
Mas passaram três anos. Muita coisa mudou. Também mudou a minha motivação, e a minha vida, e a minha vontade. Disse-o aqui, após um interregno propositado sem nenhuma escrita, que tinha voltado diferente. Nem podia ser de outra maneira. E, nesta diferença, já não me apetece muito falar com o mundo. No post de dia 12 não devia ter permitido comentários, mas fiz ainda melhor: não os li. Hei-de ler, se lá estiverem, mas às vezes falta-me a coragem. Falar com o mundo implica estar aberto e receptivo a muitas mentes diferentes, até antagónicas, e neste momento procuro o refúgio do que me é familiar e confortável. Tal como não sei se hei-de continuar com esta coisa, não sei se hei-de continuar a permitir comentários. Temo que a partir daqui os meus contactos com o mundo sejam mais cautelosos e resguardados.

Valeu a pena? Acho que é a pergunta que tenho de fazer a mim própria após estes três anos com uma janela aberta para a minha mente, para as minhas emoções, para o meu ser. Foi gratificante? O que aprendi? O que ganhei? O que cresci?
Depois de pensar nisso, decidirei.





post scriptum
Gostava de ter coragem de voltar a ler tudo o que escrevi nestes três anos.

13 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Minha cara

Não a conheço, espero n a estar a incomodar por comentar aqui, só recentemente descobri este blogue e confesso não fui cuscar muito longe nos arquivos e portanto pouco ou nada sei da sua persona que escreve, a qual não é você, da mesma forma que eu não sou um tipo que assina Lobo Solitário. Até pode pensar que é, mas isso é uma ficção; quando alguém leva a escrita um pouco mais a sério como você, a escrita transcende sempre o escritor, pode basear-se nele, mas está para além dele (vide o chavão: "O Autor não é a sua obra").


Parece-me contudo que escrever é sempre um acto positivo. Se sofre de "ansiedade de influência" como a define Harold Bloom e se sente dúvidas em relação ao seu trabalho é também uma incógnita para mim.

Deve dizer que tenho gostado do que lhe tenho lido e que para além do desejo de imortalidade que menciona, um escritor terá também o desejo de partilha com os leitores, o desejo de lhes dizer algo que os toque, que lhes "agrade". Nesse aspecto, parece-me que o que escreve funciona.

Em época de reflexão, de tentativa de nos melhorar-mos enquanto seres humanos, etc, olhe, deixe-me desejar-lhe um óptimo Natal, um excelente Ano Novo e reiterar-lhe o seguinte: Gosto de a ler e de aprender com o que escreve. Se deseja ou não continuar a partilhar-se com os outros essa é uma decisão que lhe cabe inteiramente a si.

Bonne chance

the dreamer disse...

Às vezes é difícil partilharmo-nos com os outros. Outras vezes precisamos desesperadamente de o fazer.
Acompanho o teu blog desde o início. Deste-nos tanta coisa! Falo por mim. Através do teu blog interessei-me por coisas que nem sabia que existiam. Às vezes sentia-me perdida em relação a certas coisas que escrevias, aqui e no fórum, porque não as compreendia. Por isso posso dizer que cresci um bocadinho ao ler-te, pois interessei-me por outros assuntos.

Não me alongo mais. É só mesmo para saberes que deste muito aos teus leitores, apesar de dizeres que escreves para ti...

*


{yuna, do planet telex}

Lord of Erewhon disse...

Sabes, tudo morre, é inevitável... e isto dos blogs - fui aprendendo - tem muito que se lhe diga.
Este blog - o teu - há dois anos ainda era o mais visitado da blogosfera dark, e não só... hoje está às moscas...
Pois, trata-se de ir alimentando as expectativas das gentes, ou seja, o seu tesão! Não metias fotos de gente despida, caralhos e conas, suponho que também pouco te dedicasses ao flirt virtual... Enfim: 90% de quem anda na blogosfera anda pela foda! Não por que lhe interesse ler algo ou partilhar algo!
Lamento... que o teu blog se tenha tornado este deserto... talvez tu não, não sei.
Os «góticos» que por aí - e por aqui - andam... não passam da versão «veste de preto» da vulgaridade da população em geral!!

Dark kiss, Gotika.

Unknown disse...

Inomináveis Saudações, Gotika.

Antes dos blogs atuais que possuo, eu tinha um denominado Sobre Filosofia E Poesia E Música E Magia E Mundo no Windows Live Spaces, que eu fundei em junho deste ano. Entre junho e agosto foram inúmeras visitas, comentários, elogios... Eu me sentia elevadamente bem, muitíssimo bem, o ego inflado, alto! De repente, a partir do meio de agosto, as visitas desapareceram pouco a pouco, os comentários eram cada vez mais escassos... Eu falava de assuntos sociais, desenvolvia crônicas acerca de problemas como violência e preconceitos, falava de música, de Filosofia... Era, sem querer ser aqui arrogante, um blog utilíssimo para aqueles que procurassem coisas utéis na blogosfera tão recheada de pessoas que nada fazem além de elevar o lixo que se vê em nossa "civilizada" sociedade todos os dias. A diminuição dos comentários, o deserto que tornou-se meu blog, fez-me sentir o mesmo que está sentindo, Gotika. Enterrei-o em minha Cova. Não me arrependo por isso.

No entanto, não estou lhe dizendo para fazer o mesmo, nem que não o faça. Quem sou eu, afinal, para lhe dizer o que fazer com algo que lhe é parte d'alma já a três anos? Sou apenas um cara, um Inominável Ser qualquer, que um dia adentrou no Pórtico Das Trevas e lhe pediu para linkar o blog dele. Apenas isso. Apenas te digo que hoje os meus blogs, os três que possuo e um que eu tenho com a minha amiga Agnes Mirra não são, exatamente, os mais visitados da blogosfera. Não são os mais comentados, são quase desertos. Continuo a escrever neles por amor, amor ao escrever, pois eu possuo o motivo da imortalidade que vós citastes. Sou O Inominável Ser mesmo, não me confundo comigo mesmo, eu mesmo estou em tudo o que eu escrevo.

Por que lhe digo isso? Apenas por isso: LEIA A VOSSA ALMA E DESCUBRAS O VOSSO VERDADEIRO OBJETIVO EM SER O QUE ÉS E FAZER O QUE FAZES.

Ninguém mais pode fazer isso por ti.

Mas, não leve, também, a sério, o que lhe digo.

Esqueça tudo o que lhe disse.

Leia a si mesma.

E comente consigo mesma o que lerás em ti.

Saudações Inomináveis, Gotika.

katrina a gotika disse...

O comentário da Yuna pesa muito. Muito mesmo. Vou levar isso em conta. Já não é a primeira vez que isso acontece.

Discordo do que dizes, Klatuu. Já há muito tempo que não olho para o contador de visitas nem isso me interessa. Nem estou desiludida com a qualidade dos visitantes. Nem tão pouco acho que todos os góticos e baby-góticos que por aqui passam sejam a vulgaridade. O que disseste tem um pouco de verdade mas penso que estás a generalizar demais.

Quanto aos outros comentários, e aos dois atrás mencionados também, de facto o que se passa comigo é uma coisa pessoal, que não tem a ver com o mundo de fora mas com o mundo de dentro (já estou a escrever como o goldmundo, lol!).

Ainda não decidi. Mas a decisão virá de dentro, não de fora.

Se não nos virmos, bom ano novo!

the dreamer disse...

Que 2007 seja melhor que 2006, Gotika.

*


[yuna]

Anónimo disse...

Descobri este blog já há algum tempo, e a partir dessa descoberta, do acaso, vim a descobrir muito mais. Muitos mundos, muitos pensamentos, muitas histórias, memórias... A partir da leitura do seu blog fiz muitas reflexões, para mim mesma, para me descobrir um pouco mais também. E sinceramente fui crescendo.
E agora recomecei a lê-lo do ínicio, acompanhando os três anos que tem passado por aqui. A ler os escritos do passado estou a descobrir ainda mais coisas. E espero que a sua decisão seja manter o blog. Continue a dar-me e a tantos outros leitores como eu novas descobertas e reflexões.
Não desista.

Espero que neste novo ano encontre o que procura. Boas entradas * Feliz 2007

[joana, menina gotica de 16 anos]

ACABOU. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Synne Soprana disse...

"Tudo vale a pena qd a alma n é pequena" E a tua é grande!

N des como perdido o tempo q aqui passaste. Fizeste-nos bem...

E sem querer influenciar-te (pq como dizes "a decisão virá de dentro")mas incapaz de me conter apetece-me pedir-te:
Continua!

Bjs!

Yashmeen disse...

Foi a primeira vez que aqui vim, mas gostei imenso e já percebi por que é que o teu link está em tantos blogs onde fui.
Tomo a liberdade de te linkar, por acreditar que este blog é uma referência (para góticos e não góticos) na arte de bem escrever.

Vítor Mácula disse...

Alô.

Bem, para o valer a pena, só conheço uma resposta, que a ou o Synne Soprana já referiu, no entanto necessário des-clichézar para aceder ao seu sentido vivo: depende da intensidade de alma que se sopra no acto.

De resto e quanto a isto e a mim, venho aqui sempre ler os teus textos, raramente comentando, mas isso... Até porque não sei como dar um simples net-olhar de contacto, para começar diálogo ou não, iniciando-se na silenciosa aceitação do outro... E a maioria dos teus textos, pois.

Abreijo.

Vítor Mácula disse...

Pois: há escritas que nos calam, porque como que são expressão da pessoa, do seu carácter e quotidiano, do seu absurdo e sentido. Fogem do argumentário generalista em que as ideias se pretendem impessoais e debatíveis. A uma rosa de sangue, seja nos momentos felizes, seja nos momentos infelizes, ou se começa com a devida vénia e respeito, ou se está a confundir as flores todas do jardim.

Eu gosto muito dos teus textos (para o caso de isto não ter ficado claro ;) Mas no limite, penso que não é isso que interessa (ou não só, isto é, por si só não vale uma pétala sequer). Ou então, talvez seja só isso que interessa - noutro limite, algo assim.

PS: Não sei se este comentário não terá sido um pouco em “on” :P Somos uma mistura tão estranha de tanta coisa.

PS 2: Não quis dizer com o "des-clichézar" que a ou o Synne Soprana o usara em cliché - referia-me ao fundo geral de cultura e ilustração portuguesa em que tal expressão se ajavardou bem para lá da interpelação que contém.

' Claudjinha disse...

Vale sempre a pena escrever... especialmente quando se escreve como tu. Três anos é muita coisa, então, porque não continuar? Vejo que tens muitos leitores atentos, isso não é um sinal? Pelo menos eu vou continuar a vir aqui, e já te adicionei aos meus favoritos.

Fica bem