Fez no dia 18 três anos que comecei a escrever este blog. Foram muitos anos a escrever muitas coisas. Escrevi sobre o que se passava na minha existência, mas mais frequentemente sobre o que se passava na minha cabeça, e nem sempre as coisas coincidem. Escrevi sobre a vida mas escrevi muito mais sobre a morte. E foram histórias, emoções, reflexões, lamentos e prazeres... Acho que quem ler tudo isto fica com uma ideia muito clara a meu respeito. Não é esse o grande objectivo de um escritor, a imortalidade?
Três anos de palavras não são três dias. Já é um livro que aqui está, aqui e no arquivo deste grande ciberespaço. Nos últimos tempos tenho ponderado se me apetece continuar. Tive de me tentar recordar - já me tinha esquecido - do momento em que comecei a escrever, e porque o fiz. Tinha um emprego na altura que permitia o tédio das horas mortas, como esta, em que escrevo à mão no papel o que depois virá a ser online. Nessa altura tinha muito tempo e, acima de tudo, muita vontade de desatar o nó das palavras e dizer algo ao mundo da minha justiça.
Mas passaram três anos. Muita coisa mudou. Também mudou a minha motivação, e a minha vida, e a minha vontade. Disse-o aqui, após um interregno propositado sem nenhuma escrita, que tinha voltado diferente. Nem podia ser de outra maneira. E, nesta diferença, já não me apetece muito falar com o mundo. No post de dia 12 não devia ter permitido comentários, mas fiz ainda melhor: não os li. Hei-de ler, se lá estiverem, mas às vezes falta-me a coragem. Falar com o mundo implica estar aberto e receptivo a muitas mentes diferentes, até antagónicas, e neste momento procuro o refúgio do que me é familiar e confortável. Tal como não sei se hei-de continuar com esta coisa, não sei se hei-de continuar a permitir comentários. Temo que a partir daqui os meus contactos com o mundo sejam mais cautelosos e resguardados.
Valeu a pena? Acho que é a pergunta que tenho de fazer a mim própria após estes três anos com uma janela aberta para a minha mente, para as minhas emoções, para o meu ser. Foi gratificante? O que aprendi? O que ganhei? O que cresci?
Depois de pensar nisso, decidirei.
post scriptum
Gostava de ter coragem de voltar a ler tudo o que escrevi nestes três anos.
12 comentários:
Minha cara
Não a conheço, espero n a estar a incomodar por comentar aqui, só recentemente descobri este blogue e confesso não fui cuscar muito longe nos arquivos e portanto pouco ou nada sei da sua persona que escreve, a qual não é você, da mesma forma que eu não sou um tipo que assina Lobo Solitário. Até pode pensar que é, mas isso é uma ficção; quando alguém leva a escrita um pouco mais a sério como você, a escrita transcende sempre o escritor, pode basear-se nele, mas está para além dele (vide o chavão: "O Autor não é a sua obra").
Parece-me contudo que escrever é sempre um acto positivo. Se sofre de "ansiedade de influência" como a define Harold Bloom e se sente dúvidas em relação ao seu trabalho é também uma incógnita para mim.
Deve dizer que tenho gostado do que lhe tenho lido e que para além do desejo de imortalidade que menciona, um escritor terá também o desejo de partilha com os leitores, o desejo de lhes dizer algo que os toque, que lhes "agrade". Nesse aspecto, parece-me que o que escreve funciona.
Em época de reflexão, de tentativa de nos melhorar-mos enquanto seres humanos, etc, olhe, deixe-me desejar-lhe um óptimo Natal, um excelente Ano Novo e reiterar-lhe o seguinte: Gosto de a ler e de aprender com o que escreve. Se deseja ou não continuar a partilhar-se com os outros essa é uma decisão que lhe cabe inteiramente a si.
Bonne chance
Às vezes é difícil partilharmo-nos com os outros. Outras vezes precisamos desesperadamente de o fazer.
Acompanho o teu blog desde o início. Deste-nos tanta coisa! Falo por mim. Através do teu blog interessei-me por coisas que nem sabia que existiam. Às vezes sentia-me perdida em relação a certas coisas que escrevias, aqui e no fórum, porque não as compreendia. Por isso posso dizer que cresci um bocadinho ao ler-te, pois interessei-me por outros assuntos.
Não me alongo mais. É só mesmo para saberes que deste muito aos teus leitores, apesar de dizeres que escreves para ti...
*
{yuna, do planet telex}
Sabes, tudo morre, é inevitável... e isto dos blogs - fui aprendendo - tem muito que se lhe diga.
Este blog - o teu - há dois anos ainda era o mais visitado da blogosfera dark, e não só... hoje está às moscas...
Pois, trata-se de ir alimentando as expectativas das gentes, ou seja, o seu tesão! Não metias fotos de gente despida, caralhos e conas, suponho que também pouco te dedicasses ao flirt virtual... Enfim: 90% de quem anda na blogosfera anda pela foda! Não por que lhe interesse ler algo ou partilhar algo!
Lamento... que o teu blog se tenha tornado este deserto... talvez tu não, não sei.
Os «góticos» que por aí - e por aqui - andam... não passam da versão «veste de preto» da vulgaridade da população em geral!!
Dark kiss, Gotika.
O comentário da Yuna pesa muito. Muito mesmo. Vou levar isso em conta. Já não é a primeira vez que isso acontece.
Discordo do que dizes, Klatuu. Já há muito tempo que não olho para o contador de visitas nem isso me interessa. Nem estou desiludida com a qualidade dos visitantes. Nem tão pouco acho que todos os góticos e baby-góticos que por aqui passam sejam a vulgaridade. O que disseste tem um pouco de verdade mas penso que estás a generalizar demais.
Quanto aos outros comentários, e aos dois atrás mencionados também, de facto o que se passa comigo é uma coisa pessoal, que não tem a ver com o mundo de fora mas com o mundo de dentro (já estou a escrever como o goldmundo, lol!).
Ainda não decidi. Mas a decisão virá de dentro, não de fora.
Se não nos virmos, bom ano novo!
Que 2007 seja melhor que 2006, Gotika.
*
[yuna]
Descobri este blog já há algum tempo, e a partir dessa descoberta, do acaso, vim a descobrir muito mais. Muitos mundos, muitos pensamentos, muitas histórias, memórias... A partir da leitura do seu blog fiz muitas reflexões, para mim mesma, para me descobrir um pouco mais também. E sinceramente fui crescendo.
E agora recomecei a lê-lo do ínicio, acompanhando os três anos que tem passado por aqui. A ler os escritos do passado estou a descobrir ainda mais coisas. E espero que a sua decisão seja manter o blog. Continue a dar-me e a tantos outros leitores como eu novas descobertas e reflexões.
Não desista.
Espero que neste novo ano encontre o que procura. Boas entradas * Feliz 2007
[joana, menina gotica de 16 anos]
"Tudo vale a pena qd a alma n é pequena" E a tua é grande!
N des como perdido o tempo q aqui passaste. Fizeste-nos bem...
E sem querer influenciar-te (pq como dizes "a decisão virá de dentro")mas incapaz de me conter apetece-me pedir-te:
Continua!
Bjs!
Foi a primeira vez que aqui vim, mas gostei imenso e já percebi por que é que o teu link está em tantos blogs onde fui.
Tomo a liberdade de te linkar, por acreditar que este blog é uma referência (para góticos e não góticos) na arte de bem escrever.
Alô.
Bem, para o valer a pena, só conheço uma resposta, que a ou o Synne Soprana já referiu, no entanto necessário des-clichézar para aceder ao seu sentido vivo: depende da intensidade de alma que se sopra no acto.
De resto e quanto a isto e a mim, venho aqui sempre ler os teus textos, raramente comentando, mas isso... Até porque não sei como dar um simples net-olhar de contacto, para começar diálogo ou não, iniciando-se na silenciosa aceitação do outro... E a maioria dos teus textos, pois.
Abreijo.
Pois: há escritas que nos calam, porque como que são expressão da pessoa, do seu carácter e quotidiano, do seu absurdo e sentido. Fogem do argumentário generalista em que as ideias se pretendem impessoais e debatíveis. A uma rosa de sangue, seja nos momentos felizes, seja nos momentos infelizes, ou se começa com a devida vénia e respeito, ou se está a confundir as flores todas do jardim.
Eu gosto muito dos teus textos (para o caso de isto não ter ficado claro ;) Mas no limite, penso que não é isso que interessa (ou não só, isto é, por si só não vale uma pétala sequer). Ou então, talvez seja só isso que interessa - noutro limite, algo assim.
PS: Não sei se este comentário não terá sido um pouco em “on” :P Somos uma mistura tão estranha de tanta coisa.
PS 2: Não quis dizer com o "des-clichézar" que a ou o Synne Soprana o usara em cliché - referia-me ao fundo geral de cultura e ilustração portuguesa em que tal expressão se ajavardou bem para lá da interpelação que contém.
Vale sempre a pena escrever... especialmente quando se escreve como tu. Três anos é muita coisa, então, porque não continuar? Vejo que tens muitos leitores atentos, isso não é um sinal? Pelo menos eu vou continuar a vir aqui, e já te adicionei aos meus favoritos.
Fica bem
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