quarta-feira, 2 de agosto de 2006

De cócoras

Um homem, senhor Cadete, fecha-se por dentro destas noções, ausente na sua presença de mulher, acreditando que alguém ainda lhe continua pondo as mãos nos ombros, se eles choram de saudade e se isso lhes inspira a certeza necessária. Quando, de súbito, um estranho como você aponta o queixo na direcção do rapaz e pergunta se ele não medra, eu sinto que errei em tudo na vida, porque um dia quis morrer e desisti por causa deles.
Nunca mais fui capaz de me endireitar por dentro da vida. Continuo vivo, é um facto, mas de cócoras, de cócoras perante o mundo e, se me puser de pé, a minha vista já não vê o longe, nem sequer mesmo o outro lado da rua.
A este menino pode ter acontecido algo de semelhante, porque os rapazes da sua criação cresceram e estão de pé na vida, ao passo que ele tem a tristeza encostada à carne, e a tristeza já lhe entrou nos ossos. Pois será que ela mina os seres assim por dentro, chupa-os até devorar a seiva dos ossos e dos nervos; será que a tristeza envelheceu um corpo antes mesmo de ele crescer e se tornar jovem para então poder multiplicar-se?




João de Melo, in "O meu mundo não é deste reino"

8 comentários:

AcesHigh disse...

... a tristeza existe quando algo nos falta.
... a tristeza existe quando perdemos algo que nunca mais tornamos a ver.
... a tristeza existe quando nos sentimos inuteis.
... a tristeza existe quando procuramos forças e não a encontramos.
... a tristeza existe quando damos tudo e não recebemos nada.

... a tristeza existe porque... tem que existir!
Porque se tivéssemos sempre a rir esta vida seria um enorme circo! lol


Não conheço o livro mas tentei perceber mais ou menos o texto e... deixei estas palavras.
kiss*

Anónimo disse...

A tristeza existe porque, desde a nascença fomos enganados, pelos pais, também eles enganados por alguém, pela religião, pela política, e depois, por sucessivos enganos dos outros. Uma autêntica pescada de rabo na boca!
Mas não nos ensinaram que podemos sair desse samsara.
De facto podemos sair mas não nos ensinaram.
É pouco prático, e perigoso ter sociedades de pessoas maduras, capazes de decidir por elas. Com pessoas felizes, dificilmente existiriam fronteiras territoriais ou outras. Esta felicidade também é tudo menos andar com um sorriso de encher a face. É antes, serenidade, como os Budas. As pessoas imaturas seguem sempre a opinião dos outros, por isso vergam e quebram.
Quando alguém começa a vergar, é certo, que à medida que o tempo vai passando, mais dificil se torna erguer.
Em sociedade, erguer significa ter sucesso financeiro.
Digo que sucesso, significa ter a noção do que se quer, e para onde se dirigir, com vista à realização pessoal. Os que têm dinheiro podem ter coisas, mas estão vazios de alma. Os que não têm, olham para os primeiros com inveja.
É um manicómio!
Concordo com Osho, quando afirma que a tristeza da humanidade começa quando as comparações com o outro surgem.
Endireitem-se.
Descubram-no em vós.
Ninguém mais vos pode dar essa liberdade.

^^c^^

Klatuu o embuçado disse...

O João de Melo também não é deste mundo...

Vítor disse...

Auto-citação:

Venho por este meio solicitar para a tristeza os mesmos direitos atribuídos à felicidade. Essa seria a melhor forma de encará-la, de lhe fazer justiça. Encarar a tristeza como uma simples ausência de felicidade é, na minha opinião, injusto. Sentir tristeza também é uma forma de sentir.

Silvia disse...

Talvez, sim. (resposta interior ao texto)

beijo

Silvia disse...

Caledonia-bay,

não está.

*

katrina a gotika disse...

Isso é porque não gosto muito de aderentes.

:>

Anónimo disse...

(...)Os vultos tornam-se cada vez mais evidentes, e a inexplicável vontade de amar(..)

Como um louco perdido na escuridão sinto as palavras, sinto os receios, busco o meu ser, escondo-me por trás do meu eu e acredite, por todos os momentos não esqueço aquele em que acredito.

Um dia é apenas um dia, uma vida não é apenas uma vida.

Persigo a perfeição, nos actos, aqueles que encontrei e defendo-me, porque estou a assumir aquilo que quero e não apenas aquilo que consigo.