
Esta é a única coisa de jeito que ouvi desses senhores: "As ideias não se apagam, discutem-se".
Nota: Se bem que pôr a culpa do mal que grassa no país nos pobres dos imigrantes não é só xenófobo; é a cegueira total. Conheço alguns senhores da classe política que deviam não apenas ser metidos num avião mas antes levar um valente pontapé no cú e uma profissão nova, varredores do lixo, e talvez assim se começasse alguma coisa nova. Nunca, em tempo algum, apoio ou apoiarei a ideia do cartaz que reproduzo aqui, tirado da página do PNR (se eles pedirem ou cobrarem copyright, eu tiro.)
Este também é o post que nunca julguei ter de vir a fazer. Mas é mesmo isso, em democracia as ideias não se apagam, discutem-se, e vamos ter de discuti-las mais tarde ou mais cedo. Adiei infindamente o momento de o fazer.
O que me faz finalmente abordar o assunto é uma polémica recente num fórum que frequento e que não vou identificar. E passo de seguida a contar a história desde o princípio.
Não me lembro exactamente de há quanto tempo os skinheads/nacionalistas (não sei como se chamam a si próprios actualmente) começaram a frequentar bares e outros locais que antes eram apenas frequentados por góticos e afins, mas vou apontar uma data mental para mim própria que é 2005. Alguém me corrigirá se estiver errada. Isto acontece em Lisboa mas já me disseram que no Porto também se passa, não sei até que ponto, por isso que alguém mais próximo me elucide.
O que os levou a escolher a nossa companhia, desconfio bem, é o facto de os góticos serem uma tribo sobejamente conhecida pelo pacifismo. Depressa os skins perceberam que ali não iam arranjar arranjar confusão. Quem não gostou da companhia acabou por evitar os locais ou pura e simplesmente continuou a frequentá-los como se nada fosse porque, a bem dizer, as pessoas já lá estavam, há muitos anos!, quando eles decidiram assentar arraiais.
Foi com muita surpresa que os vi chegar e procurar a nossa companhia. Eu ainda sou do tempo em que os skinheads, nos anos 80, quando os de hoje ainda gatinhavam, andavam à procura de góticos no Bairro Alto para lhes baterem. Ah pois é! Tamanha mudança de atitude deixou-me intensamente intrigada como não podia deixar de ser.
Se é certo que os skins frequentam meios góticos -- resta-me saber se eles estão no meio de nós ou se eles são o meio de nós? -- não de estranhar que frequentem os nossos fóruns. E voltamos à história que me levou finalmente a escrever. Nesse fórum de que sou membro, alguém colocou como evento, ao lado do Super Bock e do Vilar de Mouros, o Encontro Nacionalista (ou o que seja que aquilo se chame) previsto para o próximo fim de semana. Seguidamente estalou a polémica, que eu não cheguei a ver porque foi de tal ordem que foi apagada e os moderadores do fórum decidiram que a partir de agora ali não se discute política de maneira nenhuma. A decisão dos moderadores do fórum não vai ser comentada aqui. Deixei apenas um post a dizer que discordava e a avisar que ia falar sobre o assunto no meu blog, e se a conversa continuar será no local. É uma filosofia de vida que tenho tratar as coisas nos lugares próprios e obedecer às regras da casa alheia que, neste caso, é a deles, e disso não me afastarei nem discutirei noutro lado.
Mas este post não é sobre o que aconteceu nesse fórum em específico mas sobre algo muito, mas muito mais grave, que é a ausência de capacidade de debate democrático que observo nas gerações mais novas, ironicamente aquelas que nasceram depois do 25 de Abril, o alheamento entre elas e a política, e a maneira como as discussões acabam em insultos básicos e, fundamentalmente, daí a ligação ao cartaz, o desconhecimento de que as ideias não se apagam, discutem-se.
Um fórum onde só se pode discutir cultura, religião e outras paixões pessoais é o Antigo Regime. Fátima, Fado e Futebol. A facilidade com que se instaura a proibição de falar de política, tal como o fanatismo de extrema direita e de extrema esquerda (mas mais de extrema direita que o Bloco ainda está muito mais soft -- até quando?) que ataca as franjas da juventude de hoje preocupa-me. Preocupa-me muito mais, contudo, a indiferença da maioria, principalmente a dos jovens que os velhos já estão cansados. Este post serve também de marco temporal para este acontecimento que julgo histórico.
E uma daquelas histórias que se conta aos netos. Pena eu não ter netos.
Voltemos ao cartaz. Não é com humor que se minimiza isto. Os Gatos não perceberam porque vivem noutro patamar. É preciso fazer um esforço para perceber como é que jovens de 20 anos são aliciados para o ódio e as razões que os levam a isso. É preciso falar com eles. É preciso discutir as suas ideias. É urgente acabar com o estado de coisas que origina que o ódio se volte contra o elo mais fraco (os imigrantes) quando se devia voltar contra o elo mais forte (a corrupção que segura este pantanal em que se tornou o país que os nacionalistas pensam que defendem).
Isto é tudo uma questão de ideias. As erradas e as certas. Eles têm razão, sabem? Perdeu-se a honra. É preciso dizer-lhes que a honra não está no ódio. A honra está, por exemplo, na honestidade, no respeito, naquela coisa que se chama ter uma coluna vertebral.
Eu percebo o ódio deles, mas o ódio deles está no lugar errado. Os anglo saxónicos têm uma boa expressão para isto: "your heart is in the right place". É cada vez mais preciso ter o coração no sítio certo. Alguns corações passaram-se para o lado errado. Perante o que temos assistido actualmente, e quem não vê não tem um problema de coração mas sim de falta de óculos, não é difícil perceber os porquês da coisa.
Por hoje é tudo. Ninguém é profeta na própria terra mas tenho a impressão de que me vou ter de referir a isto muito mais vezes, e com melhores palavras. Queria eu que não. Mas há três anos atrás, quando comecei a escrever este blog a insurgir-me contra o estado das coisas e a anunciar que chegava a escuridão, também me chamaram "pessimista" e "deprimida". Olhem, eu não estou deprimida. Estou apenas de olhos abertos. E vocês? Deus queira que desta vez a profecia caia em saco roto... but I don't think so.