domingo, 25 de maio de 2025

A Travessia (2025)

Esta é uma série de grande qualidade sobre a primeira travessia aérea do Atlântico Sul por Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Demorei um bocadinho a "entrar" na história porque conheço muito pouco sobre o período histórico (1922) e quase zero sobre aviação (sobre a exactidão técnica da travessia têm de ir ler outra pessoa). Na minha ignorância, confesso, e também falta de interesse, sem desmerecimento dos aviadores, tinha a ideia de que Gago Coutinho e Sacadura Cabral tinham voado para o Brasil numa questão de horas, como hoje. A ignorância é minha, mas é mais uma grande razão para fazer e ver esta série.
Disse que conhecia muito pouco sobre o período histórico, mas mais correctamente devia ter dito que conheço muito pouco sobre este Portugal da alta sociedade dos anos 20, com jornalistas, ministros, aviadores, clubes de Charleston. O que me chegou do Portugal deste tempo, via família, foi miséria, analfabetismo, ignorância, pés descalços, fome e obscurantismo. Este é um Portugal que os meus avós nunca conheceram e nunca puderam transmitir-me.
Sacadura Cabral queria ir mais longe e empreender uma circum-navegação mas não teve financiamento do Governo porque se estava em crise e "o povo tinha fome". Este já é um Portugal que eu reconheço, com a puta da crise crónica e os concursos públicos feitos "à medida", os muito pobres que mal podiam comprar um burro e os muito ricos que queriam comprar hidroaviões. No fim das contas, não foi feita circum-navegação nenhuma e o povo continuou com fome. Há qualquer coisa de muito errado com este país.
Regressando à ficção, adorei a atenção aos pormenores nesta série, desde o guarda-roupa à mobília e à loiça. Muitas peças desta loiça, aliás, que não era loiça cara, era o equivalente da loiça do Continente hoje em dia, ainda me chegou como "antiguidade" a preservar porque ainda era da "mãe da avó". O guarda-roupa lembra-me as fotos de família, e respectivos amigos e colegas, em dias de "tirar fotografia", todos no melhor traje e nos uniformes bem aprumados. Ainda tive um professor de liceu que se vestia assim.
Vou só apontar uma criticazinha picuinhas. Pareceu-me que as cenas no avião precisavam de mais vento. Sei que em Hollywood têm umas máquinas de vento que fazem voar os cabelos, mas imagino que isso deva ser muito caro. Também presumo que a barulheira no avião devia obrigar os aviadores a gritar uns para os outros para serem ouvidos, o que deveria implicar legendas. Não sei, digo eu.
"A Travessia" é uma série imperdível para quem gosta de História recente e deixa-me muito optimista quanto ao futuro da produção portuguesa de ficção. Se calhar ainda vou ver uma série de terror de jeito feita por cá, falando muito a sério.
Última nota: então a festa do Neptuno, que eu vi em "Das Boot", existia mesmo! Será que ainda existe? Alguém me esclarece nos comentários, por favor?

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: História, aviação

 

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