O título diz quase tudo, este é um filme de possessões e exorcismos como podemos esperar de qualquer filme de exorcismos, mas com uma nuance controversa para quem se interessa por estas coisas (eu). Esta nuance é um spoiler, portanto quem quiser ver o filme primeiro pode fazê-lo, mas também advirto que o filme é um autêntico cliché sem esta… originalidade.
Para começar, gostei da protagonista Angela. Numa era de Twitters e Instagrams, Angela tem um blog (como este) onde escreve artigos sobre Satanás e o Anticristo (como muitas críticas a filmes e séries neste blog). Espero que não seja isso a possuir-me também. Aliás, nestas coisas há sempre um despoletador da possessão, mas neste caso, sinceramente, não me consigo recordar do que foi.
Angela tem um pai militar de alta patente, irlandês e muito católico, e um namorado de quem o pai não gosta porque os dois vivem em pecado. A certa altura, não me lembro porquê, Angela começa a exibir traços de comportamento atípicos nela, falando como se estivesse bêbeda e bebendo muita água, ao mesmo tempo que manifesta ataques de pânico. Por fim, Angela causa um acidente de carro que a manda para o hospital.
Angela fica 40 dias em coma, em estado vegetativo, ligada à máquina. É tão final que os médicos já desistiram. O pai e o namorado decidem desligá-la do suporte de vida. Assim que o fazem, é o milagre. Angela recupera totalmente, quando já a julgavam em morte cerebral.
Mas a cura física não equivale a uma cura mental, e os efeitos da possessão continuam a manifestar-se. Angela é internada na ala psiquiátrica onde acontece uma das cenas mais tensas do filme. De alguma forma, Angela escapa do quarto e entra no berçário, onde pega num bebé e parece tencionar afogá-lo não fosse a pronta intervenção dos seguranças. O comportamento de Angela torna-se cada vez mais estranho, especialmente quando começa a falar Aramaico (ou uma linguagem demoníaca) e incita todos os pacientes da ala psiquiátrica a matarem-se uns aos outros ou a si próprios. Depois disto (e de outros episódios) é a própria directora de psiquiatria que lhe dá alta, entregue ao pai e ao namorado, dizendo-lhes que nada mais podem fazer por ela ali.
É nesta altura que entra em cena o Vaticano que, acredita-se, tem todo um departamento para lidar com manifestações diabólicas, e Angela já estava no “radar” deles. O cardeal Bruun é enviado para a América para realizar o exorcismo.
Aqui é que começa a parte controversa. O cardeal Bruun não está apenas convencido de que Angela está possuída, como acredita que Angela é o Anticristo. (Os 40 dias em coma seriam o espelho dos 40 dias de Jesus no deserto.) Sendo o Anticristo, não vale a pena exorcizá-la porque o problema não está num espírito possuidor mas nela própria. O que ele quer fazer é matá-la com o devido ritual.
Aqui, sinceramente, não percebi a teologia da coisa. Foi o próprio Vaticano (e o próprio cardeal Bruun) a confirmar a possessão. Como é que se passa da possessão para o Anticristo? São “coisinhas” diferentes. Basta ler o Apocalipse. Não quero com isto dizer que “Anticristo só há um, é o Damien e mais nenhum”. O Anticristo pode não ser um homem (ou uma mulher); conhecendo a linguagem da Bíblia nada nos garante que não seja uma organização. O que o Anticristo não é nem pode ser é alguém possuído por um demónio ou pelo Diabo. O Anticristo é um servidor voluntário do Diabo. É o vilão e não a vítima. Como o nome indica, é o anti-Cristo que vai arrastar as nações para a batalha do Armagedão e precipitar a Segunda Vinda. Como é que alguém possuído pode alguma vez ser anti seja o que for se não tem vontade própria? Eu quero crer que quem escreveu este enredo não leu o Apocalipse ou não percebe nada de teologia.
Mas enfim, Angela sobrevive, como obviamente teria mesmo de sobreviver sendo o Anticristo, e começa a fazer milagres (isto sim, vem no Apocalipse) e a ser adorada por multidões de seguidores nas redes sociais. É tradição (devido à linguagem bíblica) associar a ascensão do Anticristo ao mundo da política, mas, tendo em conta que hoje em dia alguém se consegue eleger na nação mais poderosa do mundo através do Twitter, direi que está muito bem pensado.
E aqui o filme acaba. Exactamente aqui, quando finalmente ia a algum lado e começava a fazer sentido. “The Vatican Tapes” acabou por se tornar um filme mau sobre possessão e um filme péssimo sobre o Anticristo. No entanto, devido ao fim abrupto, cheira-me a ambições de uma sequela.
10 em 20
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