domingo, 28 de agosto de 2022

Sombras, de Patrícia Morais

“Sombras” é o primeiro livro de Patrícia Morais, inicialmente publicado em 2014 pela Cool Books, uma chancela da Porto Editora. Terminado este contrato (e a chancela?), a autora optou agora pela auto-publicação.
Esta é uma história em Young Adult/Fantasia Urbana que agradará a quem gostou de “Twilight”, “Harry Potter”, “Diários do Vampiro” e “Sobrenatural”.
Lilly tem uma vida perfeitamente normal até à noite em que toda a sua família é assassinada. Incapaz de ficar no local onde aconteceu o trauma, Lilly parte para os Estados Unidos, a princípio para estudar Mitologia, mas depressa se junta aos Diabolus Venator, uma organização de caçadores de monstros. É a sua maneira de extravasar a raiva e encontrar um sentido na vida… ou de acabar com ela. Junto dos venatori, Lilly envolve-se num quase triângulo romântico com um dos caçadores, Liam, e um vampiro chamado Louis (não, não é o da Anne Rice). Mas poderá confiar em qualquer um deles?
Como estreia, é inegável que Patrícia Morais tem bastante potencial para fazer mais e melhor, mas vejo ainda muito trabalho, dedicação e vontade de aprender à sua frente. Algo necessário a "Sombras" como pão para a boca teria sido um bom beta reader ou revisor de texto.
Como beta reader de contos mais recentes de Patrícia Morais (em que se nota uma evolução substantiva), já tive oportunidade de dizer à autora que ainda falta um português mais elegante a nível gramatical, e que existe uma tendência permanente de decalcar expressões idiomáticas directamente do inglês (é a tal formação da autora em Tradução a imiscuir-se onde não deve) que até podiam resultar se fossem trabalhadas. Algumas escolhas de palavras são igualmente decalcadas do significado em inglês e, lamento, não resultam na nossa língua.
A nível da narrativa propriamente dita, o maior problema está na (falta de) caracterização e bidimensionalidade das personagens. A Lilly até conseguimos conhecer, mas todos os outros são genéricos. Isto vai-se tornando mais grave à medida que se desenrolam acontecimentos dramáticos que nos deviam fazer sentir alguma coisa… se conhecêssemos as personagens e nos interessássemos por elas. Infelizmente, isto não foi conseguido, o que retira bastante impacto à revelação final, quando nos surge um vilão sem profundidade que nunca passou de um nome no papel.
Por último, as personagens de “Sombras” andam na casa dos vinte anos mas comportam-se, falam e agem como miúdos de liceu, o que é grave numa organização que devia ser antiquíssima, sapientíssima e profissional. Esta “juvenilidade” devia ser revista. Jovens adultas não são adolescentes birrentas que andam a puxar os cabelos umas às outras quando se zangam. Basta dizer que o personagem mais velho, o chefe dos venatori, tem apenas 30 anos. Faltava aqui uma maturidade à altura da instituição representada.
Em suma, e apesar do rumo pesado e dramático que a história podia levar, “Sombras” é um livro leve que aborda o sobrenatural e o romântico sem querer aprofundar os temas que, como espectros, gritam das sombras para serem explorados.
Espero muito mais de Patrícia Morais no futuro.

Onde encontrar o livro: patricia-morais.com/livros/sombras


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