domingo, 10 de abril de 2022

Pedro e Inês (2018)

“Pedro e Inês”, adaptação do romance de Rosa Lobato Faria “A Trança de Inês”, retrata a lendária paixão de D. Pedro e D. Inês de Castro (ou melhor, do mesmo Pedro e da mesma Inês) em três momentos temporais distintos: o século XIV, quando tudo aconteceu, o presente, e uma sociedade distópica que tanto pode ser o presente como o futuro, mas que me cheirou fortemente a África ou América do Sul e aos cultos tipo Jim Jones.
Em todos estes universos a paixão proibida de Pedro e Inês repete-se de maneiras diferentes, transmitindo um fatalismo trágico que os apaixonados não conseguem superar em nenhuma das três “vidas” distintas. Terá sido uma alusão a uma relação kármica tão forte que nem a reencarnação a consegue resolver? Ficará a cargo do misticismo de cada um.
Gostei principalmente da reconstrução histórica no séc. XIV, muito embora toda aquela cena tétrica tão bem nossa conhecida, o desenterrar de Inês e a sua coroação e beija-mão post-mortem, segundo alguns historiadores, nunca terá acontecido. Terá sido uma lenda fabricada em narrativas espanholas a partir do séc. XVI. A lenda sobreviveu porque queremos acreditar nela, porque é romântica, trágica e chocante, digna de uma “Guerra dos Tronos” se se escrevesse Fantasia Grim Dark na altura.
Por falar nesta cena, é de todas a mais artística do filme. Enquanto D. Pedro imagina uma Inês adormecida e bela, toda a corte a vê como o cadáver apodrecido que realmente está sentado no trono.
Gostei, sinceramente, dos monólogos do Pedro da nossa época enquanto internado no hospital psiquiátrico. Acreditem ou não, as palavras de Rosa Lobato Faria soam-me a Mão Morta no melhor da poesia de Adolfo Luxúria Canibal. Só por isso já vale a pena ver o filme, que recomendo vivamente.

O problema crónico do som
Este filme sofre do mesmo problema que já apontei aqui em “Perdidos”. Ora o som está muito alto (quando há música) ou está muito baixo (nos diálogos). Estive eu a fazer o papel de Normalizer, com o comando na mão, ora levantando o som, ora baixando, até quase ficar com uma tendinite. Amiguinhos, eis o conselho de uma amadora destas coisas dos Editores de Som: existe um efeito, chamado Normalizer, que coloca o som dentro de parâmetros inferiores e superiores. É só usar! Se a mancha de som estiver muito larga, é porque o som está muito alto; se a mancha estiver estreita, é porque está muito baixo.
Vão dizer-me que é um efeito propositado e uma opção estética. Estética uma ova; inestética e irritante, isso sim. Os únicos filmes que utilizam esta técnica de propósito são os filmes de terror que usam o som para pregar sustos, e isto são os filmes maus! Escutem os bons filmes e digam-me lá se o espectador precisa de andar a fazer de Normalizer com o comando!
Felizmente, a narração de Pedro está no volume ideal, o que salva esta desgraça sonora. A narração de Pedro é mesmo o melhor do filme.

(14 em 20, que podia ter sido mais, mas o problema do som foi irritante e amador e arrancou-me demasiadas vezes ao filme)


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