domingo, 18 de julho de 2021

La Vénus à la fourrure / Vénus de vison (2013)

"Vénus de vison" é um daqueles filmes intelectuais que lançam muitas questões mas não tencionam responder a nenhuma. Ou melhor, é daqueles filmes que cada espectador vai interpretar à sua maneira, de acordo com as suas convicções, preconceitos e sensibilidades. O melhor mesmo é não dar respostas.
A complexidade começa logo na sua descrição, um filme que é a adaptação de Roman Polanski da peça de teatro “Venus in Fur” do norte-americano David Ives, que é por sua vez inspirada no livro “A Vénus de Kazabaïka” de Leopold von Sacher-Masoch, esse mesmo a que o termo “masoquismo” deve o nome. É uma interpretação dentro de uma interpretação de uma interpretação.
As voltas que eu dei para encontrar o título do livro em português, “A Vénus de Kazabaïka”! Como se depreende, não é o meu género nem nunca vai ser. Embora, inescapavelmente, conheça o tema “Venus in Fur”, original dos Velvet Undeground, que me causa a mesma indiferença. (E o original dos Velvet Undeground nem é a minha versão preferida, por falar nisso.)
No fim de um dia de audições, o director da peça referida está sozinho no teatro, muito frustrado com todas as actrizes que viu, quando lhe entra pela porta uma candidata que o convence a ficar fora de horas para lhe dar uma oportunidade. Esta actriz parece uma ignorante, ou faz-se passar por isso, mas quando começam a falar das personagens e do livro torna-se cada vez mais notório que ela sabe muito mais do que deu a entender a princípio, que na verdade “domina” o tema (e nestas coisas o termo “dominar é importante), e que ali está para acusar a peça de ser sexista e pornográfica e para humilhar o seu director. A questão é: porquê, e com que objectivo? Ele próprio lhe pergunta directamente algumas vezes: “quem é você?”. Eu tenho a minha interpretação, ou melhor, a resposta que para mim, amante do sobrenatural, seria mais satisfatória: ela é a própria deusa Vénus a dar uma lição do poder da sexualidade feminina a quem não percebe nada do assunto.
Tenho a certeza de que não é esta a interpretação do realizador, nem dos críticos, mas era a que me daria mais gozo. Porque, no fim de contas, embora tenha gostado muito da conversa/confronto entre os dois, e de achar que os temas abordados são interessantes, depois de tudo espremido a verdade é que acabei com um encolher de ombros indiferente. Se calhar estes temas já me interessaram mais, quando ainda estava na idade da curiosidade, mas tudo isto já me parece tão “batido” (outra palavra nada inocente) que já não percebo o que há de novo a dizer. Ou se calhar Polanski não me conseguiu dizer nada de novo.
O que não significa que seja um mau filme. Tendo em conta que a acção se passa toda no palco do teatro, como se fosse mesmo uma peça, em que entram apenas dois actores que têm de fazer tudo sozinhos, surpreendeu-me como é que o filme me conseguiu agarrar tanto sem nunca lhe sentir momentos mortos. Só porque os temas são batidos, não quer dizer que não continuem intelectualmente estimulantes.
Mas o meu gosto pessoal quer acreditar que foi mesmo Vénus quem entrou no teatro. Se não foi, devia ter sido.

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