domingo, 21 de fevereiro de 2021

The Hunger Games: Catching Fire / Os Jogos da Fome: Em Chamas (2013); The Hunger Games: Mockingjay - Part 1 / Os Jogos da Fome: A Revolta – Parte 1 (2014)

Quando aqui fiz a crítica ao primeiro filme, perguntava-me quem seria Katniss quando não andava a ser perseguida na floresta. Agora já sei. Katniss é daquelas protagonistas Young Adult que estão muito na moda e que não passam de “action figures” à Schwarzenegger, mas no feminino como manda o “espírito dos tempos”. Queixei-me do mesmo quanto à Juliana de “The Man in the High Castle”, protagonista que ali está para fazer as coisas que o enredo precisa que ela faça. Profundidade nenhuma, motivações as mais básicas. Isto era o pior dos filmes de acção dos anos 80 e continua em força, pelos vistos.
O único esforço para aprofundar Katniss é um stress pós-traumático levezinho que a faz ter um ou dois pesadelos depois de sobreviver aos Jogos da Fome, mas nada de grave ou incapacitante.
Até o triângulo amoroso (?) é incompreensível. Mas afinal ela gosta é do Gale, ou do Peeta, ou dos dois, ou de nenhum? Assim o que parece é que ela beija aquele que ali está mais perto porque… está ali mais perto. Coisinha mais mal feita. Ao menos podiam ter aprendido com “Os Diários do Vampiro”, um triângulo amoroso Young Adult verdadeiramente épico, daqueles que nos prendem a respiração.
Mas vamos lá aos filmes.


The Hunger Games: Catching Fire / Os Jogos da Fome: Em Chamas
“Os Jogos da Fome: Em Chamas” é a continuação do enredo onde o primeiro filme acabou. Katniss sobrevive aos Jogos da Fome, mas de maneira tão subversiva que inspirou as populações dos distritos oprimidos à rebelião. A princípio a elite dominante do Capitólio decide passeá-la e a Peeta, numa espécie de romance de telenovela para distrair a populaça. Quando não funciona, o malvado do Presidente Snow (malvado como só Donald Sutherland consegue fazer sem grande esforço) decide eliminá-la. Muda a “narrativa” política, e agora Katniss e os outros vencedores de prévios Jogos da Fome vão ter de se confrontar nuns Jogos especiais que celebram os 75 anos do regime.
A única maneira em que esta história funciona, e funciona muito bem apesar de tudo, é ao basear a elite despótica na Antiga Roma, desde os nomes ao vomitorium. (O próprio nome do país vem de “panem et circenses”, pão e circo.) O filme adquire uma gravitas que se calhar não merece quando os vencedores / participantes / gladiadores dos Jogos desfilam em quadrigas numa arena perante a tribuna do Presidente. Isto leva-nos imediatamente para a imagética dos filmes bíblicos de gladiadores e de cristãos lançados aos leões que têm um peso profundo no nosso inconsciente colectivo, entre os quais Spartacus, o antigo e o recente. Não é difícil de imaginar que isto seria Roma se os romanos tivessem reality shows na televisão. Mas quem viu o “Spartacus” recente sabe que também os tinham, apenas não tão mediáticos como agora.
A parte mais chata do filme, curiosamente, foram mesmo os Jogos. E detestei aquela coisa dos macacos assassinos. Completamente escusado.
Mas desta vez Katniss e Peeta e outras personagens simpáticas que conhecemos entretanto parecem mesmo feitos ao bife. Até que chega a reviravolta surpreendente.

The Hunger Games: Mockingjay - Part 1 / Os Jogos da Fome: A Revolta – Parte 1
“Os Jogos da Fome: A Revolta” (primeira parte) começa exactamente onde o segundo “episódio” terminou, levando Katniss para o meio da rebelião da qual se tornou um símbolo mais ou menos sem querer.
Aqui o tom da série torna-se mais pesado, com imagens a lembrarem muitos cenários de guerra que já vimos na realidade, e repressão e execuções na rua à maneira dos vários regimes ditatoriais que têm existido aqui e ali. Mais uma vez o filme ganha uma gravitas que não sei se merece, emprestada de acontecimentos reais e exteriores à história que só nos tocam por esse motivo: porque aconteceram mesmo.
As personagens continuam bidimensionais, o que se torna cada vez mais notório e incomodativo à medida que o enredo progride. Sim, empatizamos com elas porque lhe conhecemos os nomes e as caras (da Katniss, pelo menos, dos outros nem isso) e porque temos coração, mas nada que perdure quando o filme acaba.
A acção passa-se agora no bunker do quartel-general do exército da Resistência (um exército que ninguém sabia que existia, nem a própria Katniss). O secretismo compreende-se, mesmo assim, porque os rebeldes não querem denunciar a sua posição e armamento antes de estarem em condições de atacar. Depois de ver a destruição infligida ao seu próprio distrito, Katniss decide finalmente assumir-se como símbolo da rebelião. Agora é que ela se torna realmente um alvo a abater, mas Katniss já sabia que o era e não tem nada a perder. Ou quase nada. Peeta foi capturado pelo Capitólio.
O resgate de Peeta é a parte mais empolgante do filme. O suspense da acção militar é merecido, decorrente do enredo e não “emprestado do exterior” como os exemplos que referi antes.
Não resisto a mencionar um momento que me fez rir, embora não devesse. A certa altura Katniss agarra-se a alguém a chorar quando percebe que tanto Gale como Peeta podem morrer. “Perdi os dois! Perdi os dois!”, lamenta-se. Apeteceu-me ser mázinha: Olha filha, quem tudo quer… Mas procura em tua volta, aí perto como tu gostas. Há muito peixe no mar. Mais um, menos um, para quem muda de homem conforme a fase da Lua, não há-de ser nada.
Duas últimas notas para as interpretações de Philip Seymour Hoffman (uma das suas derradeiras), num grande papelão como Plutarch Heavensbee. Já Julianne Moore foi criminosamente subaproveitada como Presidente Coin.
Falta-me ver o fim da história. Os filmes estão a tornar-se mais interessantes de “episódio” para “episódio” e pode ser que ainda me surpreenda. Vou deixar as conclusões finais para essa altura.

The Hunger Games: Catching Fire / Os Jogos da Fome: Em Chamas
13 em 20

The Hunger Games: Mockingjay - Part 1 / Os Jogos da Fome: A Revolta – Parte 1
14 em 20

 

 

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