domingo, 20 de setembro de 2020

The Hunger Games / Os Jogos da Fome (2012)

 

É difícil não gostar desta história. Algures numa sociedade autoritária, uma revolta dos oprimidos foi esmagada pela elite opressora. Como castigo e “lembrança”, esta elite organiza jogos de morte escolhendo à sorte dois jovens de cada distrito insurgente. Este ano, a lotaria fatal calhou à irmã mais nova de Katniss, que parece não ter mais de 13 anos. Katniss, a irmã mais velha, voluntaria-se para ir aos jogos em seu lugar. Logo aqui temos de empatizar com a protagonista, uma irmã mais velha que se oferece em lugar da irmã mais nova sabendo que muito possivelmente irá morrer em vez dela. Katniss é corajosa mas não acredita nas suas hipóteses de derrotar os outros adversários. Começa um jogo mortal, transmitido na televisão para a elite organizadora, em que só um dos adversários pode ser vencedor. Todos os outros terão de morrer.
Digo que é difícil não gostar desta história porque é difícil não torcer pelos fracos e oprimidos. Mas depois de ouvir falar tanto de “The Hunger Games”, esperava muito mais daqui. Esperava algo que me chocasse, talvez. Mas se calhar depois de ver “Spartacus”, amargo e sangrento, já pouco me consiga chocar.
Ou se calhar os livros são melhores do que o filme, ou se calhar os filmes seguintes são melhores do que o primeiro e ajudam-nos a criar um laço mais forte com os protagonistas? Confesso que não queria ver a miúda morrer, mas tirando o facto de ser uma miúda a lutar pela sobrevivência não consegui senti-la como personagem tridimensional. Quem é Katniss quando não está a ser perseguida pelos campos? Não sei. Talvez os filmes seguintes me esclareçam.
“The Hunger Games” faz parte de uma série de Young Adult distópico que tem tido muito êxito recentemente. (Outro exemplo é “Divergente”, um filme que eu já vi e não gostei, de que nem me apetece fazer a crítica. Tenho o livro e perdi qualquer vontade de o ler.) Não me espanta que as gerações mais novas estejam fascinadas com distopias. Eu sempre estive, desde os clássicos “Farenheit 451” de Ray Bradbury e “1984” de George Orwell (que ainda não li mas está na lista), só para citar os que me ocorrem mais à memória. Durante uns tempos o gosto pela distopia parece ter-se esbatido, mas voltou em força. Não me admira nada porque estas são as primeiras gerações (a começar pela minha) que vão ter um nível de vida abaixo do que os seus pais tiveram. À medida que as desigualdades se aprofundam, regressa o interesse no modelo máximo da sociedade de elites e oprimidos, a sociedade distópica.
Isto para mim não é novidade nenhuma. A desigualdade é o estado normal do mundo segundo o conheço. Sempre cresci tão rodeada de pobreza, crueldade, indiferença, insensibilidade, hipocrisia (como a daquelas pessoas que ganham 5000 euros por mês e “sentem-se bem” a comprar comida para os pobrezinhos no supermercado duas vezes por ano, mas se calhar já não se “sentiam bem” se lhes pedissem para abdicar de quatro quintos do salário para o distribuir pelos trabalhadores explorados de forma mais justa para que estes já não fossem pobres, porque aí os pobres já são pobres porque são estúpidos, coitadinhos, e quem ganha 5000 euros por mês é porque os merece) para me comover com uma Katniss ficcional. Katnisses conheço eu muitas, de carne e osso, todos os dias a lutar pela sobrevivência e a engolir exploração e humilhações (quando não são coisas piores) porque precisam do ordenado mínimo para subsistir. Os verdadeiros Jogos da Fome.


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