domingo, 30 de agosto de 2020
The Doors / The Doors: O Mito de uma Geração (1991)
I am the Lizard King
I can do anything
Seria extremamente improvável, senão mesmo impossível, que eu não gostasse deste filme. “The Doors” é quase um video clip do princípio ao fim com todos os grandes êxitos. Podia tudo o resto falhar: actuação, cenários, guarda-roupa, direcção, enredo, que eu continuaria agarrada ao filme enquanto a música tocasse. O que não é o caso. Este filme é um 20 em 20, redondo e garrafal, e, estranhamente, é muito difícil dizer seja o que for do que é perfeito.
Val Kilmer encarnou Jim Morrison tão visceralmente que a certa altura eu me esquecia de que estava a ver um actor, especialmente nas cenas em palco. E o que me deixou de boca aberta: Val Kilmer, ele próprio, cantou no filme (embora algumas vezes se ouvisse mesmo a voz de Jim Morrison). Eu, que gosto dos Doors desde miúda, não conseguiria distinguir a diferença se não soubesse. De facto, até tive de ir pesquisar à net se as canções não tinham sido dobradas. Não foram inteiramente. Uma coisa é interpretar um ídolo da música, outra coisa é cantar como ele a ponto de conseguir “enganar” um fã. Porque é que não deram um Óscar a este homem? Val Kilmer transformou-se em Jim Morrison, da cara ao corpo à voz. Não é esse o pináculo do trabalho de um actor?
Por razão igualmente estranhíssima, perdi o filme quando saiu e só agora o vi pela primeira vez. Deve ter sido daqueles que ficaram na categoria “tenho de ver”, e depois o tempo foi passando e nunca mais me lembrei. É uma razão estranhíssima porque, embora não goste de tudo dos Doors, gosto bastante de algumas canções. “When the music’s over” “toca” na minha cabeça frequentemente. Do que gosto mais até é da sonoridade, inconfundível, que sempre me transportou para lá, para este tempo e para esta geração que não é a minha.
Eram os anos 60, o movimento hippie, e ao mesmo tempo que os Doors conseguiam apelar a essa multidão, toda paz e amor e LSD, chegavam também a uma outra, toda raiva e inconformação e LSD. A geração que buscava abrir as “portas da percepção” para fora de um mundo em que muitos jovens iam morrer para o Vietname, em que a utopia hippie degenerou em cultos sangrentos como os de Charles Manson, em que os Kennedys e Martin Luther King eram assassinados.
Jim Morrison viveu o mantra “sex, drugs and rock’n’roll” até ao limite e pelo mesmo mantra morreu. Aos 27 anos, live fast, die young, sê um cadáver bonito.
Admira-me sempre muito quando os Doors não são apontados como percursores do movimento gótico. Mas alguma vez haveria o movimento gótico sem os Doors? Alguma vez haveria o movimento punk sem os Doors? Led Zeppelin? Quais Led Zepellin sem os Doors? Alguma vez viram Jim Morrison em palco, vestido de negro da cabeça aos pés, de corpo serpenteante, voz poderosa e ganas de partir tudo? Alguma vez leram a sua poesia?
“The Doors” mostrou-me o homem e a banda que eu sempre adivinhei que Jim Morrison e os Doors tivessem sido, das tímidas origens ao estrelato e aos fãs em histeria, ao fim trágico que só podia ter sido aquele. De certa forma, era este o filme que eu tinha na cabeça ainda antes de o ver. Jim Morrison, Pamela Courson e os Doors como sempre os imaginei.
20 em 20. Perfeito.
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