segunda-feira, 8 de julho de 2019

O Mistério da Árvore, de Raul Brandão

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De Raúl Brandão li “Húmus” (1917). Já não me lembro porque li. Se calhar por ser considerado o primeiro romance existencialista português. Mas perguntem-me de que trata o livro. Não me lembro. Não ficou nada. Foi daqueles que li por curiosidade e cultura geral. Já deste “O Mistério da Árvore” vou-me lembrar. Não por causa da história propriamente dita, porque quase não a tem. Um Rei que odeia a vida e, principalmente, o amor, manda enforcar dois amantes que entram no seu reino. Na árvore em que eles são enforcados, uma árvore negra e seca, que “não bebia água, nem sugava húmus”, nasce um galho florido. E é isto. Mais do que contar uma história, Raul Brandão pinta um retrato deste Rei e desta árvore em prosa poética. “Só o Rei no Palácio trágico vivia braço a braço com a Dor. A vida, a luz, as árvores lembravam-lhe a sua miséria e enojavam-no. Queria que todo o país fosse negro e viúvo; e o Amor que ele sentia correr na terra, a Morte até, que tudo transformava e enchia de vida, lhe parecia uma abominação.” Do que li de Brandão, sobressai imediatamente a obsessão/fascínio com a terra. A terra como lugar de germinação e a terra como lugar de decomposição. Ventre e sepultura, semente e húmus. Há algo de hippie antes do tempo neste fascínio em que Brandão faz equivaler a natureza à vida, ao amor, à alegria.
Mas confesso que não percebo exactamente onde é que Brandão quer chegar com este conto. Quem é o Rei Trágico? Será psicológico, alguém em particular? Sociológico, a sociedade do seu tempo como Brandão a via? Religioso, a igreja? Político, um louvor ao povo pobre mas “feliz”? Existe aqui uma crítica contundente algures, mas o conto já não basta para a identificar sem termos de ir estudar o autor e a época.


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Este conto encontra-se na compilação “Dentro da Noute – Contos Góticos”, do Projecto Adamastor. O download gratuito pode ser feito AQUI.



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