quinta-feira, 10 de março de 2016

The X-Files, versão 2016: Eu não quero acreditar!

 

Eu não quero acreditar que foram exumar o cadáver dos Ficheiros Secretos ao altar incensado onde repousava em paz e sossego para toda a eternidade dos séculos e séculos... para isto!
Deixem-me dizer-vos: fui uma grande fã da série e nunca perdi um único episódio! E nem sequer me considero uma das maiores fãs da série. Havia fanáticos, na altura, que assobiavam o tema dos X-Files, fanáticos que usavam boné dos X-Files! Nunca fui dessas fanáticas, mas nunca perdi um episódio. Tive pelo menos duas bandas sonoras da série e do filme, em CD!, que ainda ouço hoje em dia. A minha experiência com os Ficheiros Secretos foi sentida e visceral, consumida com avidez cerebral e emocional, e por fim integrada nos arquivos do inconsciente activo onde sempre permanecerá como a memória difusa e vaga de algo que marcou e que passou.
Dentro deste tipo de ficção (sobrenatural, horror, fantástico) esta foi simplesmente a série mais importante dos anos 90, uma série que influenciou tudo o que vimos depois, desde "Lost" a "Sobrenatural", desde "Fringe" ao recente "iZombie", e a toda a miríade de séries e filmes, mais ou menos sérios, que despontaram das raízes de conteúdo, estilo e narrativa que "The X-Files" lançou. Mais ou menos subtil, a influência ramificou-se e nunca mais nada seria mesmo.
O primeiro filme ("The X-Files: Fight the Future", 1998) foi bom e no espírito da série. O segundo filme ("The X Files: I Want to Believe", 2008) estragou tudo. Como muitos outros fãs, senti-me defraudada e ludibriada em tudo o que me tinha sido dado a entender dos universos de Mulder e Scully, e não houve nada que me tenha irritado mais do que a revelação de que Mulder e Scully tiveram um filho, e que o tiveram por meios absolutamente naturais (afinal, tinham uma espécie de caso que "nós" nunca vimos), quando tudo na série nos levou a pensar que aquela gravidez era alienígena, e muito mais interessante que o fosse! O segundo filme, assim, abriu um problema muito maior: por que raio é que Scully deu o miúdo para adopção?! Mesmo que fosse um miúdo meio-alien, que raio de solução era essa?! E o Mulder, afinal, o pai biológico, não tinha nada a dizer sobre o assunto? Na minha opinião, grande asneirada da parte do filme.
Gozei aqui com o filme de 2008, e preferi esquecer que alguma vez tinha visto aquilo. O affair, a gravidez normal, a adopção. Nada daquilo fazia sentido. Melhor recordar a grandiosidade dos X-Files quando eram a vanguarda do género.

(Para quem se preocupa com o puto, esta mini-série continua a telenovela. Agora eles estão arrependidos de terem dado o puto para adopção e sentam-se de mão dada a pensar onde ele está. Como se não fossem o Mulder e a Scully, que até extraterrestres encontram se quiserem!... Vão lá procurar os puto e deixem-se de lamúrias, vocês dois!)

Até tremi quando ouvi rumores de que iam fazer uma mini-série. Esta mini-série, de que tratamos aqui. Sinto sempre estes tremores, este frio na barriga, quando me dizem que vão ressuscitar uma grande série ou fazer um remake de um grande filme. Soa-me sempre a vil metal, e a ideia de Chris Carter estar metido nisto ainda me aborreceu mais. Mas, no reverso da moeda, Chris Carter, metido nisto, foi motivo mais do que suficiente para dar o benefício da dúvida. Assim, dei.
E não quero acreditar no que vi! Sei que não estou a avisar os verdadeiros fãs dos X-Files porque esses, como eu, já viram obsessivamente estes seis novos episódios de 2016. Se tivesse de os avisar previamente, diria apenas: "preparem-se, porque é muito mau!" 
Porque é que é mau? Porque só uma grande história, um grande motivo, um grande enredo, justificaria arrancar esta série mítica do túmulo. É verdade que os zombies estão na moda, mas não era preciso fazer regressar os X-Files em versão zombie: ultrapassada, sem ideias, sem interesse, um cadáver que devia ter ficado em repouso. Só a grandeza justificaria o regresso dos X-Files, não esta paródia (?) sem sentido a que assistimos.
Não vou criticar o trabalho de Duchovny e Anderson, mas nem eles me convenceram. Como se nem eles estivessem grandemente convencidos do que estavam a fazer. Li por aí que ele parecia o mesmo personagem de "Californication" mas não posso comentar porque não vi. O que me parece, sem dúvida, é que Anderson ainda não tinha tirado a pele da Bedelia du Maurier de "Hannibal". Não acredito naquela Scully sofisticada, de saia travada e cheia de maquilhagem. O estilo da Scully era clean. Isto, para quem não sabe, significava, nos anos 90, maquilhagem que mal se notava. Não acredito nesta Scully que de repente tem medo do passar dos anos. Não é a minha Scully.
Mas voltemos ao enredo.
No primeiro episódio, contra tudo o que sabemos, Mulder decide deixar de acreditar numa conspiração alienígena! Depois de tudo o que ele viu, decide fingir que não viu nada?... Não se percebe nem é nada típico de Mulder. O Cigarette Smoking Man (que afinal não morreu) regressa ainda mais malévolo, ainda mais repulsivo, e ainda e sempre viciado. Uma das melhores ideias desta mini-série. Não podiam ser X-Files sem o Cigarette Smoking Man.

Não, isto não é a minha raiva à mini-série. Isto é o Mulder a pisar o poster dos X-Files! Não dá mesmo para acreditar!

No segundo episódio, o FBI reabre os Ficheiros Secretos e Mulder e Scully voltam a trabalhar juntos, também não se percebe muito bem porquê.
No terceiro episódio... Bem, o terceiro episódio foi engraçado. Uma paródia, mas engraçado. Gostei do Lagartomem, uma espécie de réptil que foi mordido por um homem e todas as luas cheias se transformava em ser humano. A experiência é bastante traumatizante para o pobre Lagartomem que só queria voltar a ser lagarto, o que é compreensível.
No quarto episódio... Não sei. Desliguei. Isto é, continuei a ver, mas, como naqueles episódios realmente interessantes dos Ficheiros Secretos como os conhecíamos, aconteceu-me um raro fenómeno de dissociação televisiva em que continuei a ver sem ver nada. Fui abduzida. O corpo ficou na cadeira em frente à televisão mas a mente já não estava lá. Só voltei a mim no último episódio, quando em matéria de 15 minutos acontece uma catástrofe pouco convincente (que não revelarei) e vi cenas de carros parados na auto-estrada e toda a gente a tentar fugir ao mesmo tempo sem conseguir ir a lado nenhum. Acordei, porque de repente julguei que estava a ver "The Walking Dead". E pensei:
Definitivamente, se era para trazer de volta os Ficheiros Secretos tinha de ser em grande, tinha de ser épico, tinha de ser superior a tudo o que existe agora como em tempos foi superior a tudo o que havia na altura! Tinha que ser para tornar os Ficheiros Secretos novamente na série preferida dos fãs, a série pela qual se anseia a semana toda, a série que provoca arrepios de antecipação e medo. Não era para fazer episódios a lembrar o "Sobrenatural", nem o "Fringe", nem o "Lost" (aquelas cenas fora da narrativa, de flashback, ou flashforward, ou sonho, ou fantasia, nem percebi) e muito menos a lembrar "The Walking Dead", e inferior! Tinha de ser superior, imensamente superior, ou mais valia não fazerem nada. Até o episódio do Lagartomem, que foi engraçado, não superou as melhores paródias de "Sobrenatural".
E para quê? Por nostalgia? Não. Por mais um punhado de dólares.

O que dizer mais quando o melhor episódio desta série de seis é uma paródia? É o melhor que podemos esperar dos novos Ficheiros Secretos? Comédia?

Não havia uma ideia suficientemente forte para trazer de volta os Ficheiros Secretos e pela estima que tenho à série original desejo sinceramente que a ressurreição fique por aqui. Entretanto, tenciono esquecer-me de tudo o que vi nestes episódios e não deixar que me poluam a recordação de uma das maiores séries de todos os tempos que foi The X-Files.


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