quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Hannibal


Mas que raio, quem é este Will Graham?! De onde saiu este fulano?! Onde está o Hannibal? Porque é que desde a primeira temporada temos de levar com este Will Graham como personagem principal quando a **** da série se chama Hannibal?
Bem, parece que este tal de Will Graham foi o tipo que prendeu (?) Hannibal Lecter, nos livros, de que supostamente a série é uma adaptação passada nos nossos dias, com um Hannibal Lecter muito mais novo. Por esta altura, com tantas modificações à história original, até os fans que leram os livros se estão a sentir um bocado perdidos.

Custou-me, a sério, custou-me muito, aceitar este novo actor como Hannibal. A interpretação mítica de Anthony Hopkins não é algo que se esqueça. Mas chegando à terceira temporada da série já estou habituada, e até fascinada com este novo Hannibal, um Hannibal em liberdade e no activo como nunca o tinha visto. Muitos parabéns ao Mads Mikkelsen: não tinha um trabalho fácil pela frente tendo que competir com o fantasma de Anthony Hopkins mas conseguiu brilhantemente encarnar o canibal (se não o mesmo um outro, tão convincente, tão intimidante, tão real como o dos filmes).
Infelizmente, a participação de Hannibal, nas três temporadas, têm sido subaproveitada. É disso que me queixo.
Quem me diria que ao assistir à primeira temporada de uma série sobre Hannibal Canibal eu haveria de bocejar e quase adormecer à mesa? A série tem conquistado prémios merecidíssimos (a beleza com que se filma o horror é arrepiante), mas a primeira temporada fez-me sono. Demasiado uso de sonhos, imaginações, e mais tarde até de alucinações (quando Will tem uma meningite ou algo semelhante), e convenhamos, uma pessoa chega do trabalho, cansada, e a certa altura já não percebe se o que está a ver é mesmo real ou um sonho ou o raio que o parta! Começo-me a perder na narrativa, a bocejar incontrolavelmente, a desinteressar-me do que o tal Will anda a fazer. Mas quem são aqueles serials killers, afinal?! Então e o Hannibal está ali para quê, só para dar nome à série?
E a primeira temporada lá vai indo assim, as cenas repugnantes a única coisa a conseguir abrir-me os olhos quase a fechar-se. Na segunda série, porém, abri os olhos.
Finalmente, quando eu já perdia a esperança, Hannibal entra em cena. E quando Hannibal entra em cena, Hannibal “devora” a cena. Todos os outros personagens desaparecem e finalmente temos Hannibal Show!

 Convincente, intimidante, aterrador, e bom como o milho. (Mas se alguém perguntar eu não disse isto.)

No final da segunda temporada, Hannibal foge para a Europa com a psiquiatra dele, Bedelia Du Maurier, a nossa grande Gillian Anderson. [É interessante, e gratificante, assistir a como a Gillian cresce como actriz de papel em papel desde a Scully dos X-Files. O carisma da grande senhora que actualmente enche o écran nem se adivinhava nesses dias, apesar do poder da personagem, e da série, e do mito.]
Todo o período passado em Itália é o meu preferido. Nem percebo porque é que alguns fans se queixam de falta de acção. Falta de acção?! O que mais houve foi acção. Bedelia demasiado aterrorizada para tentar fugir, Bedelia que não se atreve a comer nada que tenha carne, mas alimentada a ostras (segundo alguém diz, na série, as ostras dão melhor sabor à carne), Bedelia que se livra de dar a Hannibal o confesso gosto de a provar. Comportam-se, ambos, como marido e mulher num casamento de conveniência da alta sociedade. Um par de tios! Conveniente para ele, que não gosta de solidão, aterrador para ela, que sabe que vai acabar na mesma travessa onde Hannibal vai servindo os convidados que aceitam o jantar. Se calhar vejo ali o que outros não vêem, e gostei particularmente da cena em que Hannibal mata um comensal durante a sobremesa. A expressão de tia incomodada na cara de Bedelia, impagável!
“Aníbal, que aborrecido, estragar-me a refeição desta maneira!”
“Desculpe, Bedelia, fui impulsivo, admito!”
“Ora, Aníbal, seja honesto que já é crescidinho!... Estava a pensar em matar o homem assim que trouxe o picador de gelo para a mesa!”
“É verdade. Peço desculpa, Bedelia, não torna a acontecer. Que tal a sobremesa?”
“Estragada, o que é que espera?... Sinceramente, Aníbal, começo a ficar farta desta situação. Se ao menos o Aníbal ficasse farto também, mas o Aníbal nunca fica farto… E poupe-me a graçola que de que pondera fartar-se de mim, porque estou farta das suas ironias também. Olhe, coma-me de uma vez ou deixe-me comer descansada, é o farta que eu já estou!”
Mas Hannibal não quer estar sozinho, deve ser a sua maior fraqueza, e acaba por não comer a companhia.

 Aníbal, caríssimo, quer comer-me de que maneira, exactamente?

De regresso à América, Hannibal entrega-se. Pensei que era o fim da temporada, e talvez até da série, visto que existe a perspectiva de que ninguém a quer continuar, apesar dos prémios. (!!!)
Não, subitamente, voltamos ao tal fulano, ao tal Will Graham, super-profiler, a investigar serial killers medíocres. Bem diz o Chilton, a Hannibal, mais ou menos que “você vai ter sempre o seu nicho, mas tem que ver, a sua sofisticação, a sua erudição, não é apelativa a um público tão vasto”. O público identifica-se mais com a brutalidade de um serial killer que massacra famílias. Não alcança o requinte artístico de Lecter. E talvez seja por isto que a série não vai ser continuada...
Mais dois episódios e já estou a bocejar e a adormecer. Porque é que não deixam o Graham ficar lá com a família e os cães? Qual é o interesse em mostrar serial killers medíocres, ao nível de “Mentes Criminosas”, quando a série tem ali uma diamante, e nem sequer em bruto, um diamante polido e cintilante na coroa de um dos maiores monstros de sempre? A quem é que interessa ver o tipo bronco que mata famílias, quando lá está o Lecter, atrás do vidro? Os livros? Já inventaram tanta coisa que não está nos livros que os livros não são desculpa. Porque é que o Hannibal tenta comer o cérebro de Will, o que é que aconteceu ao célebre: “O mundo é um lugar menos interessante sem si, Clarice”? Não devia ser um lugar mais interessante com o Will, também, se o Hannibal gosta tanto dele que se entrega para que Will o visite?... Ou, pelo contrário, o Hannibal está tão farto do Will como eu estou? Está tudo doido?... Will diz que sente falta dos cães, mas não vai sentir falta de Hannibal. É curioso, porque quando o maluco foi para a Europa atrás de Hannibal, a única coisa de que senti falta neste personagem foi precisamente dos cães. (Já somos dois, Will.) Não sei quem é que pensou que este personagem ia ser interessante. Numa outra série de profilers, onde não houvesse um Hannibal, talvez. E por falar em Europa, quem era aquela senhora japonesa que aparece durante alguns episódios e desaparece outra vez sem ser explicada? Sei, vagamente, dos fóruns da série, que é alguém relacionado com alguém da criadagem da família Lecter. Quem é que pensou que não era preciso explicar quem ela era? Por falar em família, o que é que aconteceu a Misha, irmã do Hannibal, que ele não matou mas comeu? Quem era o prisioneiro na casa dos Lecter?...
Em vez disto tudo, andamos a ver um serial killer que mata famílias. Não compreendo estas opções, não compreendo. Compreendo uma tentativa de criar cenas perturbadoras, do mais perturbador que já vi na vida, e se calhar este enredo psicológico não se presta tanto ao torture porn que é o resto da série? O mesmo torture porn que vai matar a série, ao que parece? Como é que diz o ditado? Dar pérolas a porcos, em vez de bolotas? Tinham tudo para fazer uma grande série! Tudo! Mas não fazem, não porque não podem, não porque não sabem, mas porque não querem, e não se percebe as opções.
A melhor opinião que já ouvi foi a do fan que sugere que Thomas Harris devia escrever outro livro. Afinal, esta série já é outro livro que só de longe se aproxima dos originais. Não acredito que venhamos a ver a Clarice aqui. Nesta versão, o Hannibal era capaz de a comer também. E lá ficava o mundo um lugar menos interessante. Como o Hannibal atrás das grades. Bocejo.


1 comentário:

Unknown disse...

Vai tomar no seu cu com teus comentários idiotas.Vai bocejar numa rola.