sábado, 6 de setembro de 2008

All alone in her karma

Nunca me senti tão sozinha. Finalmente descobri porquê. Alguém me falta. Falto eu. O mundo devorou-me e agora já não me encontro nem no espelho. Sou uma carcaça oca. Esta, que aqui escreve, é um fantasma. O fantasma de mim. E agora só existo nas palavras.

De Frodo
Frodo carregou o seu fardo pesadíssimo e salvou o mundo, mas destruiu-se no processo. Deitado na escarpa negra de Mount Doom, já sem força, pergunta-lhe o fiel Sam, para o encorajar: "Lembras-te do cheiro da relva verde do Shire?" E Frodo respondeu: "Não, Sam, já não me lembro de cheiro nenhum, nem de nada". Frodo não mentia. Há algo que acontece a quem tem de fazer mais do que as forças permitem. A acção pode concretizar-se, mas o ser nunca mais volta. Frodo quase se destruía e se lançava ao fogo para não perder o Anel do Poder mas, apesar de impedido por outro ainda mais louco, nunca voltou de todo. O corpo não se lhe tornou um espectro como o dos outros escravos do Anel, mas quase. A cicatriz do Mal ficou-lhe para toda a vida e nunca deixou de doer. Quase espectro, um estranho no meio dos outros, recolheu-se a Valinor para o mundo dos não mortais. Poderá aí ter encontrado conforto por fim? A história não diz.

Em aventuras semelhantes há cerca de três anos por esta altura a minha vida levou-me também a Mordor e a partir daí nunca mais fui a mesma. Roubaram-me a alma no processo. Às pessoas digo que não tenho tempo mas devia dizer em vez disso "não está ninguém em casa".
Como de resto explicar que se leia Wilde, Baudelaire e Lovecraft, tudo ao mesmo tempo, se não para garantir que o cérebro permaneça fora da realidade?
Penso mas não existo. Sou um zombie de mim própria. Agora já sei mas demorei algum tempo a perceber este simples facto. O tempo que demorou a alma distanciar-se para tão longe, mas tão longe, que um dia viu o corpo sozinho e à deriva a lamentar-se "que solidão".
E agora já sei para onde fui. Ao fechar esta folha, desapareci. Penso mas não existo. Ainda sou mas já não sou coisa nenhuma, e certamente não tenho grande intesse em voltar a ser mais que isso.
Mais uma palavra... e já cá não estou.