“Eu ajo como se não me importasse que as pessoas não gostem de mim. Mas lá no fundo… secretamente até gosto.”
É difícil gostar de Wednesday e é difícil não gostar. Wednesday é agora uma adolescente de 16 anos com ideias muito próprias que consegue ser expulsa de várias escolas normais (como seria de esperar). Finalmente, os Addams mandam-na para o internato Academia Nevermore (esse mesmo Nevermore) onde Gomez e Morticia se conheceram e apaixonaram.
A princípio Wednesday planeia fugir, mas é apanhada num mistério com centenas de anos que implica os Addams e intrigam-na os rumores da existência de um monstro homicida a rondar a escola. Como aspirante a escritora (Wednesday quer “bater” Mary Shelley que escreveu “Frankenstein” aos 19 anos), Wednesday decide ficar e resolver o mistério.
Nevermore é uma academia para párias (lobisomens, vampiros, górgones, sereias) mas isso não torna a adaptação de Wednesday mais fácil. Por exemplo, a sua companheira de quarto, Enid, uma aspirante a lobisomem a quem eu só posso descrever como efusiva, positiva e… cor-de-rosa, é um pesadelo para o mundo isolado e a preto e branco de Wednesday. Wednesday é uma solitária que não quer deixar de o ser, e odeia emoções. Emoções levam a sentimentos e sentimentos levam a sofrimento, é a sua filosofia de vida. Isto implica não querer saber de nada nem ninguém senão ela própria.
Mas Wednesday é uma adolescente, e algumas coisas nunca mudam. Como, por exemplo, ela já não suporta que Gomez e Morticia andem sempre agarrados e aos beijos (é verdade, e já não se suporta!). O romance não está nos seus planos, mas os planos não resistem à idade das hormonas. Wednesday tem de compreender que o seu ideal de ser “uma fortaleza rodeada de um fosso fundo cheio de tubarões” não se adapta ao mundo real. Os amigos são necessários, mesmo os mais irritantes, desde que ela saiba em quem confiar. É preciso baixar a ponte levadiça de vez em quando para os deixar entrar.
Aqui é que está o problema. Vinda do mundo resguardado da Mansão Addams em que tudo revolvia à sua volta (pobre Pugsley), Wednesday não aprendeu em quem confiar e é confrontada com isso vez após vez enquanto investiga os homicídios.
Sejamos francos, Wednesday tem capacidades extraordinárias, inclusive visões que começaram a acontecer-lhe há pouco tempo, mas é uma péssima detective que está sempre a perseguir o suspeito errado. Talvez pela falta de inteligência emocional, algo que se desenvolve com a interacção com os outros, o que Wednesday sempre desprezou. A Academia Nevermore vai ensinar-lhe que ninguém é uma ilha e que os amigos dão muito jeito. Tudo isto são dores de crescimento, mas valem a pena.
A série conta com alguns membros da família Addams que visitam Wednesday. Gomez e Morticia, iguais a eles próprios. O tio Fester, idem. E a Coisa, a que eu vou chamar A Mão para não confundir com o tio It. Nunca julguei sentir tanta empatia por um personagem (?) de desenhos-animados como senti pela Mão quando tentaram matá-la (não perguntem). Foi de fazer as lágrimas virem aos olhos.
Noutra nota, não me perdoo por não ter reconhecido a maravilhosa Gwendoline Christie (Brienne of Tarth de “A Guerra dos Tronos”, uma das minhas personagens preferidas) no papel de directora da academia, Larissa Weems. Algo nela me era familiar, mas não descobri de onde sem pesquisar.
“Wednesday” não podia ter aparecido em melhor altura. Com o êxito dos precedentes “Stranger Things”, “Harry Potter”, “Twilight”, “Os Diários do Vampiro” e outros que tais, o público estava mais do que preparado para um Young Adult com a família Addams. E o sucesso tem sido escabroso. Já viram a dança? Se não, vão ver! Toda a gente vai ver a dança mais tarde ou mais cedo.
“Wednesday” distingue-se pelo humor inteligente e pela personagem que afinal até se preocupa com os outros, por muito que diga que não. Aconselho a toda a gente com sentido de humor e gosto pelo sombrio.
ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA : duas vezes (uma pela história, outra pelos pormenores)
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