domingo, 2 de janeiro de 2022

War of the Worlds / Guerra dos Mundos (Fox/Canal+) [2019 - ?]

Sem aviso, um ataque extraterrestre mata instantaneamente a grande maioria dos seres humanos. A arma é invisível. Só se salvam os poucos que se encontravam dentro de elevadores ou em subterrâneos. Entre eles Kariem, um migrante sudanês que estava a tentar a sua sorte a atravessar o Canal da Mancha dentro de um camião-cisterna vazio, uma dessas histórias que ouvimos tantas vezes nas notícias. Kariem ia à procura de uma vida melhor no Reino Unido. Foi um dos sortudos, ou nem por isso? O que o espera é um cenário pós-apocalíptico em que os mortos se acumulam no chão. Kariem acaba por ser um trunfo para os poucos sobreviventes, uma vez que, tendo vindo de um país em guerra, é o único que sabe usar armas que os defendam dos extraterrestres. É irónico e um comentário à actualidade.
Depois desta primeira vaga de morte, os invasores enviam para o terreno uns robôs implacáveis e mecânicos em forma de cão sem cabeça que por si só seriam capazes de causar pesadelos. Estes robôs destinam-se a exterminar os poucos sobreviventes.
Mas quem são os invasores? Seres alienígenas de outro planeta, com um único olho e tentáculos? A verdade é muito mais inquietante.
“Guerra dos Mundos” é uma produção euro-americana e passa-se em França e Londres. É uma daquelas séries cada vez mais raras em que os personagens franceses falam mesmo francês entre eles. Por outro lado, e por muito que possa ser um chavão dizer isto, a acção é efectivamente um pouco mais “parada” do que estamos habituados, e são privilegiados os diálogos e as consequências emocionais que afectam os sobreviventes, à boa maneira europeia. Eu não acho este tipo de abordagem um defeito, e lá por não haver tiroteios de cinco em cinco minutos não quer dizer que não aconteçam coisas pesadas e chocantes. Se calhar ainda mais chocantes, porque mais subtis e inesperadas. Duas irmãs falam dos problemas familiares que as afastaram uma da outra, quase nos esquecemos de que estamos a assistir a uma série pós-apocalíptica, quando de repente…
Vi a primeira temporada e fiquei na dúvida, mas a segunda temporada convenceu-me. É uma história bem conseguida a partir do clássico de H. G. Wells, e até mete viagens no tempo sem perder coerência. Aqui, o principal não são as cenas de acção (embora algumas sejam de uma tensão de cortar à faca) mas os limites que cada uma das espécies, humanos e invasores, está disposta a cruzar para sobreviver. E no fim faz sentido.
Isto é, se a segunda temporada fosse o fim. Eu estava convencidíssima de que sim, porque tudo encaixou e se resolveu. Mas antes de escrever esta crítica fiz alguma pesquisa e descobri que vai haver uma terceira temporada. Não sei se gosto da ideia. Acabou tudo tão bem, tão limpinho, não era melhor deixar assim? Receio bem que uma terceira temporada (à custa do sucesso das anteriores) venha estragar o que as duas primeiras conseguiram.


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