terça-feira, 1 de novembro de 2016

Devil / O Demónio (2010)


Ando tão decepcionada com os filmes de terror dos últimos anos que quando apanho uma coisinha assim bem feita até dou pulinhos de contente.
O Demónio é um filme exactamente assim: bem feito, simples, competente e poderoso. Cinco estranhos ficam presos num elevador e um deles é o diabo. Sabemos isto logo a princípio e todo o suspense do filme revolve em torno de adivinhar quem ele é. (Eu pensava que sabia, e enganei-me. Ou melhor, algo que o diabo faz leva-me em erro. Mas andei lá perto, apesar de tudo.) Segundo a lenda que nos é contada, por vezes o diabo reúne algumas das almas que já são dele, ainda em vida, para começar a atormentá-las antes de as reclamar para o Inferno. Como as almas já são dele, segundo a premissa, o diabo pode dar-se ao luxo de fazer o que bem lhe apetece a estes "escolhidos", e que eu não vou relatar aqui para não estragar o filme.
Mas parece-me que o diabo tinha em mente, ao dar aquele espectáculo, tomar posse de pelo menos mais uma alma. Falarei dela no final.

Devo confessar que quando o vi o nome M. Night Shyamalan no genérico (escritor e produtor) temi o que se ia seguir. M. Night Shyamalan já nos deu excelentes filmes (O Sexto Sentido, The Village) e outros muito fraquinhos (Lady in the Water, Signs, e o horrível, na minha opinião, que foi Unbreakable / O Protegido). É daqueles casos em que nunca se sabe o que vai sair dali. Se é mérito de Shyamalan (história) ou do realizador John Erick Dowdle, não sei, mas para um filme quase completamente passado num arranha-céus e na maior parte do tempo dentro de um elevador (e de que já conhecemos a premissa) a acção nunca se torna aborrecida. Eu, definitivamente, fiquei presa à cadeira!
Nunca houve um momento lento, um diálogo desnecessário. Esta é uma história simples e bem contada, dentro do género e, mais importante ainda, dentro do tema. Não deve ser fácil conseguir histórias novas e interessantes quando o tema é o diabo, e aqui não se pretendia nada de muito ambicioso, mas ainda assim o resultado é extremamente bem conseguido. (Parabéns a quem pensou no título português de "O Demónio" em vez da tradução à letra "diabo", porque não é de crer que ali estivesse o Diabo mas um mero subalterno, logo, um demónio. Melhor o título português do que o original.) Nunca achei o enredo previsível e no final até tive uma surpresa que não esperava, passe o pleonasmo, porque é dado a entender que o enredo já acabou.


Mas será que acabou? Porque na minha opinião todo o enredo nos conduz a esta outra cena, já quase pós-filme, em que o diabo podia ter conquistado outra alma para si. Uma das personagens, fora do elevador, tem de fazer uma escolha. Dessa escolha, entre o Bem e o Mal, dependeria se mais uma alma ficava marcada. Tudo indica que a personagem vai mesmo fazer a escolha errada, apesar daquilo a que assistiu, e o diabo vai sair mais vitorioso do que no momento em que entrou no elevador.
Não vou revelar a escolha, mas relembro a passagem bíblica que é citada no início: "Sede sensatos e vigilantes. O Diabo, vosso inimigo, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem devorar." (1 Pedro 5:8) Não é por se estar fora do elevador que se está livre de tentações. A tentação de fazer a escolha errada anda sempre em redor, como leão que ruge, quer se acredite ou não no diabo. Os piores demónios são os que nos habitam, e aqueles a que abrimos as portas e que nos ficam a pesar na consciência.
Não sei se o filme queria ser tão profundo ou chegar tão longe, mas foi onde eu cheguei. Por isso,


16 em 20



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