domingo, 20 de março de 2011

"2012" (2009) / "Apocalypto" (2006)


Existe a noção errónea de que um filme de terror tem que incluir necessariamente o sobrenatural. Tal não é verdade, como provam os filmes-catástrofe (como "2012") que se tornaram quase um sub-género (um outro exemplo recente: "O Dia Depois de Amanhã"). Mas existe um outro tipo de filmes, também eles com cenas eventualmente chocantes (e assustadoras), que se situam numa área bem mais cinzenta. "A Escolha de Sofia", é ou não um filme de terror? Mas foi filmado com a intenção de ser um drama. "Titanic", é ou não um filme de terror? E, no entanto, foi feito com a intenção de ser romântico (mas não é verdade que se não fosse o horror do naufrágio era apenas mais uma história de namorados)?
"2012", filme de terror/catástrofe que retrata a extinção da humanidade devido à inversão dos pólos terrestres tal como predita pelo povo Maia na data de 21 de 12 de 2012, podia ter causado mais medo, muito mais medo, mas algo falhou. Tenho para mim que os protagonistas permaneceram sempre demasiado seguros (enquanto o mundo literalmente desabava e a terra era engolida pelo mar) para causar aquela empatia necessária que leva a que se tenha medo "na pele deles". Não há efeito especial capaz de suprir esta falha mas até neste ponto a catástrofe não foi muito "catastrófica". Esperava-se mais do fim do mundo em efeitos visuais, digo eu. Os que vi não me pareceram muito convincentes (por comparação, por exemplo, ao já citado "O Dia Depois de Amanhã", esse sim, pela maestria da realização, verdadeiramente arrepiante).
Às vezes estes filmes têm efeitos surpreendentes. Provocou-me lágrimas de desespero ver aquele metro ser cuspido de uma montanha que acabava de se partir ao meio. Mas, pensando bem, nada mais natural do que estas lágrimas, afinal... egoístas. Foi a única situação em todo o filme em que pensei "podia ser eu", porque ando todos os dias de metro e a zona de Lisboa... "POSSO SER EU!" E chorei, obviamente. Senti-me naquela pele. De resto, não. Passei o filme todo a temer pelo cãozinho, e foi só isso.
De "2012" esperava um filme capaz de provocar pesadelos. De onde não o esperava era de "Apocalypto".


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"Apocalypto", de Mel Gibson, está na minha opinião na área cinzenta e subjectiva. Feito na intenção de retratar ficcionalmente o período histórico do declínio do povo Maia, aterrorizou-me do princípio ao fim. A realidade (mesmo a realidade do passado) mete mais medo do que a ficção. Para mim, sem dúvida, este é um filme de terror. Assusta-me ainda mais pensar que pode haver quem não considere tal. Há mais a temer do homem do que de qualquer sobrenatural.


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Duas notas curiosas
1. Sem ter consciência do facto, juntei dois filmes que falam da cultura Maia. (E foi mesmo inconsciente, visto que ainda há pouco tive de ir verificar se os índios de "Apocalypto" não eram antes Incas ou Aztecas - tendo a confundi-los.)
2. É curioso que gostei muito mais de "O Dia Depois de Amanhã" mas passada meia dúzia de anos acabo a atribuir a mesma nota a "2012", um filme de que sem dúvida gostei menos. O que prova o seguinte: muita quantidade do "mesmo" acaba por tornar o espectador indiferente e com a perda de originalidade desce necessariamente a fasquia.

5 comentários:

Sabine disse...

Olá Katrina, tudo bom? Ainda não assisti Apocalypto, pelo motivo que você citou no final, variedade do tema. Cansou já né? Mas agora deu curiosidade, rs. Gostei quando disse "passei o filme todo a temer pelo cãozinho", como você sempre quando aparece animal em algum filme eu fico apenas com dó dele. Primeira vez que passo por aqui, agora que comecei um blog estou passeando pela rede. Um abraço!

Anónimo disse...

"[Gostei quando disse "passei o filme todo a temer pelo cãozinho", como você sempre quando aparece animal em algum filme eu fico apenas com dó dele.]"
oh, que lindo! fico alegre em saber que ainda existem pessoas com sentimentos nesse mundo.
Quanto ao filme eu ainda não vi, mas pelo seu post eu fiquei curioso para assistir. Ah! Eu adorei seu blog, ótimo trabalho!

katrina a gotika disse...

Sim, para ser sincera, também no Aliens 1 estava mais preocupada com o gato do que com eles todos. :)
Não mencionei no post mas no filme "2012" há um episódio muito interessante: tentam-se salvar exemplares de cada espécie, como na arca de Noé. Mas isso passa tão depressa e é-lhe atribuído tão pouca importância que quase não se nota.

Triñ disse...

:)
Exatamente como disseste, de certa forma a realidade intensifica o pavor que pode nos ser causado pelo simples fato de não salientar-nos a possibilidade ou certeza da inexistência. É algo que envolve os dois filmes, sim?
Penso que, ao considerar a pontencialidade da cinegrafia, o objetivo de "2012" não era exatamente de fazer temer, como alguns passados. Em tal ponto que, da mesma forma que surgiu o provável desastre, apareceram infinidades de teorias e comprovações fundadas ou infundadas quais indicavam a fraude do mesmo.
Então, pois bem que havia toda a certeza dos protagonistas que sobreviveriam, então estaria tudo bem, mesmo que o planeta fosse totalmente dizimado '-'

katrina a gotika disse...

Trin:

Então, pois bem que havia toda a certeza dos protagonistas que sobreviveriam, então estaria tudo bem, mesmo que o planeta fosse totalmente dizimado '-'

Agora é que disseste tudo. Até parecia que o objectivo do filme era salvar aquela família (e o cãozinho!) e que se lixasse o resto da humanidade.
Quanto mais penso no filme mais me parece que foi essa a grande falha. Em "O Dia Depois de Amanhã" dá-se a importância devida à tragédia que se vai desenrolando no resto do mundo. Em "2012" não se vê isso. A certa altura, aquela primeira "cena de acção" em que a família foge num carro enquanto o chão vai desabando atrás deles parece mais uma cena ladrões a fugirem à polícia... Entretanto, a Califórnia caía, literalmente, para dentro do mar (como se vê na imagem acima)...