quinta-feira, 24 de junho de 2010

The day the Earth stood still (2008)



Nunca um título mais enganador. Eu a pensar que ia ver a Terra parar de girar nos seus eixos, fantásticos tsunamis e o fim do mundo... Parece que isso é o "2012" (mas ainda não vi porque tenho medo).
Este é, afinal, o dia em que os extraterrestres se chateiam da merda que o ser humano tem feito no planeta Terra e se decidem pela exterminação da praga. Numa última tentativa de "juízo final", é enviado à Terra o extraterrestre Klatuu, (na pele de Keanu Reeves, não deste), que se esforça ainda por um derradeiro contacto com os líderes do mundo no sentido de inverterem a "natureza destrutiva da espécie". Como é óbvio, e ainda por cima aterrando em Nova Iorque, os americanos tentam de imediato exterminar o mensageiro. Ainda se tivesse vindo cair no meio da praça do Rossio, no meio dos outros maluquinhos, ainda alguém parava para o ouvir...
Mas o extraterrestre, profundamente desconhecedor da realidade terrestre (ao contrário do que o filme insiste em sublinhar), vai aterrar no Central Park, ou algo do género, onde o tentam matar, torturar e afins, pois se é estrangeiro é terrorista quanto mais sendo extraterrestre!, e decide-se mesmo pela "solução final".
Acaba por ser a ternura de uma mãe adoptiva pelo seu filho adoptado (e mais aquela cena comovente do menino a chorar pelo pai no cemitério) que leva o extraterrestre a convencer-se de que afinal há algo de bom na espécie humana. O quê, é que eu confesso que não percebi, e a mim não me convenceu minimamente. Que as fêmeas cuidem das crias e arrisquem até a vida para as defender não é exclusivo da espécie humana. Mas este extraterrestre, já se disse, era ignorante a ponto de não saber a diferença. (Põe-se até a pergunta, porque é que estavam interessados em recolher polvos e lulas, escorpiões e insectos, na sua Arca de Noé extraterrestre, se pouco percebiam do mais básico da vida animal?) O objectivo era crer que sim, que o extraterrestre estava bem informado, e que a chave para a salvação da espécie humana, segundo o prémio Nobel com quem este se cruza, é que esta "apenas evolve quando se vê à beira do precipício". Eu digo que nem assim, porque do princípio ao fim tudo o que os terráqueos tentaram fazer, mesmo à beira do tal precipício, foi bombardear a nave alienígena. Quer-me parecer que este Klatuu se comoveu por pouco. Era extermínio total e acabava-se a história.

Por falar em extermínio, o robô gigante que mais tarde se revela o exterminador implacável do ser humano e todos os seus vestígios sobre a Terra, lembra-me, curiosamente, e é engraçado como umas coisas se pegam nas outras, o mirabolante e ameaçador gigante de "O Castelo de Otranto", que ninguém chega a ver como deve ser porque a sua própria existência é muito questionável.

Extraterrestre, mas pouco
E por falar em extermínio e solução final, não deixa de ser irónico notar como o evoluído extraterrestre tem por missão aniquilar toda uma espécie, mas lá vai salvando este ou aquele indivíduo com quem se cruza. Aqui percebo porquê. É mais fácil massacrar um milhão de massa anónima do que uma extinguir uma vítima com rosto. Nada tão humano como a relutância em matar uma formiga só, se estiver sozinha. E assim o extraterrestre que condena a espécie cai no pior dos seus vícios: o genocídio. E aqui se enterra a moral filosófica do enredo, ou a vã tentativa de um argumentista (ou vários) de almejar perceber o que é ser um extraterrestre (inteligente), e falhar(em).

Posto isto, se o filme a princípio prometia algo de interessante e inovador, cai totalmente na esparrela do obrigatório fim feliz, mas forçado, sem a mesma base de justificação que o muito mais compreensível "destruir esta praga antes que eles destruam o resto". E perde-se. É pena. Talvez eles voltem, numa sequela, e desta vez nem os polvos se safem.
Venha "2012".


14 em 20

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