quinta-feira, 3 de junho de 2010

Funeral colectivo

Well, I'm back...
What do you cry for?
When I'm dead,
will you cry more?
Well, I'm back...
what do you cry for?
When I'm dead,
will you cry more?

This has been a sequel
this is how the sequel ends
this has been a sequel
this is how the sequel ends...


Fields of the Nephilim, "The Sequel"

Tive um sonho, no outro dia. Sonhei com o meu funeral.
Ninguém apareceu. Era só eu, num caixão.
Pode-se pensar que tenha sido um sonho angustiante, ou mesmo perturbador, mas não foi. No que diz respeito à morte, não sou de enterrar a cabeça na areia. Já o mesmo não se pode dizer no que diz respeito à vida... De certa forma, não foi inesperado. É claro que ao acordar fiquei fula com as pessoas que eu acho que deviam lá estar mas não estavam. Mas não durante o funeral, em que estava morta, embora no sonho fizesse o papel de espectadora, e pouco me ralava se lá estavam ou não. Era um bocadinho tarde demais para me ralar, acho eu.

Tenho andado fisicamente doente. Tem sido penoso regressar à realidade após 14 meses de uma experiência avassaladora, de uma forma de êxtase que muito poucos mortais têm o privilégio de experimentar. Nada disso é importante agora. O que é importante é que me pus a pensar como era dantes. E demorei a perceber que dantes era como agora: eu sozinha em casa a beber para deixar as lágrimas correr livremente.
Nunca foi de outra forma, nunca será de outra forma.
No fim, sou só eu, a gata, e Deus.
Estou um bocado farta é das cólicas.

E é por isso que vou dizer-vos aquilo que há muito tempo ando para dizer: Sabem, a minha "vida" não se pega. O meu sofrimento não se pega. Não precisam de fugir. Mas se o fizerem, só significa que são cobardes e não há lugar para cobardia perto de mim.
E acho que é nisso que voltamos ao mesmo. Mais uma vez. Ao mesmo. Não há nada que eu despreze mais do que a cobardia. Principalmente aquela forma de cobardia cínica, que tenta desesperadamente esconder ou fingir. O que nos leva novamente ao mesmo. A mentira. A pior forma de mentira.
Não, não irei ao teu funeral. Enterra-te a ti mesmo nos teus joguinhos da vida. Mas não me enterrarás a mim também.
E não, não podes comentar. Tiveste muito tempo para falar. Tivesse-lo aproveitado.
Adeus.