«Basta que um homem seja condescendente para um crime de morte, para logo se tornar tolerante para com o roubo, passando, a seguir, a beber e a não guardar os dias santos, para cair na maior falta de educação e no desmazelo. Basta-lhe dar o primeiro passo neste declivoso caminho para não saber aonde irá parar. A ruína de muitos homens começou por um ou outro crime de morte a que, na altura, talvez não tenham dado grande importância.»
Qualquer dia, de assassino a ladrão ao desmazelo, até começa a fumar e aí é que está tudo perdido...
"Do Assassínio como uma das Belas Artes", de Thomas de Quincey, tratando de um clube muito especial, a Sociedade dos Cavalheiros Amadores de Londres, que se dedica ao estudo estético da arte de matar, é uma daquelas obras cheias de fina ironia apenas aconselhado aos possuidores de um humor refinado e elevadíssima inteligência. Na falta de ambos, impossível acompanhar as conferências da Sociedade quando, por exemplo, se tecem considerações sobre a vítima ideal:
«Terceiro, a vítima escolhida deve gozar de boa saúde: porque é uma barbaridade matar gente achacada, pessoas que, em geral, mal se têm de pé. Seguindo-se este princípio ficam de fora todos os londrinos com mais de vinte e cinco anos, porque, acima desta idade, pode ter-se a certeza de que sofrem de dispepsia. Mas se um indivíduo insistir em caçar nesta coutada deve matar aos dois de cada vez. (...) Um filósofo meu amigo, bastante conhecido pela sua filantropia e bondade, sugere que a vítima escolhida deve ter filhos ainda de tenra idade, que deixará ao desamparo, tudo isto para carregar os tons da tragédia. O que, sem a menor dúvida, me parece judiciosa precaução. Mas não insistirei demasiado nesta premissa, imposta pelo Bom Gosto, pois embora se possam pôr objecções quanto ao moral e à saúde da vítima, não devo ser zeloso ao ponto de pôr restrições que teriam como efeito limitar a esfera da actuação do artista.»
Os preceitos estéticos da arte de matar podem não me dizer muito mas que este livrinho me pode ser muito útil sei eu bem para quê, ah isso sei!
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