sábado, 5 de abril de 2008

Madagascar (2005)



Uma zebra, um leão, uma hipopótama e uma girafa, vedetas turísticas do jardim zoológico de New York City que nunca na vida tinham visto a selva, são acidentalmente despejados em Madagáscar. Esta é a história para crianças e só podia ter um final feliz.

Eu não vi a história com olhos de criança, era só o que faltava, e pela minha cínica perspectiva este filme de animação aparentemente tão inocente parece-me a versão infantil do outro, "A Ilha", esse mesmo, com Leonardo DiCaprio.
Se em vez de em uma zebra, um leão, um hipopótamo e uma girafa, pensarmos em quatro profissionais nova-iorquinos, no topo de carreira, habituados aos maiores luxos da civilização mas nostálgicos dos ideais hippies dos anos 60 e 70, todo o filme muda de figura. E de facto cheira a flower power por todos os lados. Marty, a zebra, faz 10 anos, mas podia ser um executivo de topo apavorado com a viragem do grande 40, que de repente entra em depressão e anseia trocar a carreira bem sucedida por uma vida de liberdade perto da natureza. O sonho é bonito e afecta muito boa gente... que nunca experimentou a selva.
Os amigos são tentados a embarcar na aventura, mas sabem muito bem tudo o que estão a perder. Trocar o sistema ("the hand that feeds"), os bons empregos, os apartamentos em Manhatan, o seguro de saúde, os donuts e o café pronto a servir, por numa palhota na praia, não é para toda a gente, mesmo que toda a gente anseie por isso mais tarde ou mais cedo.
A princípio é só flores e festa, mas é exactamente na tão sedutora selva que os problemas começam. Primeiro que tudo, ninguém é feliz de barriga vazia. Marty, a zebra, está no seu ambiente. Come qualquer coisa. Já para Alex, o leão, não é bem assim. Eis o fim de uma grande amizade.
Na cidade, até os bifes parecem vir da estufa, mas não vêm. A natureza bela e generosa é a mesma natureza sinistra e cruel onde nenhum ser vivo sobrevive sem ser às custas de outro.
Em Madagáscar, na selva, come-se e é-se comido.
Há sonhos que não passam disso. Hippies de meia idade que decidem abandonar a rotina do sistema e ir viver para uma ilha tropical deviam lembrar-se primeiro que na selva nem tudo são rosas. É como a história do amor e da cabana. Ou do leão e da zebra. É melhor levar o bife de casa.
Grande metáfora para graúdos.

14 em 20
(AVISO: opinião muito subjectiva de quem não aprecia minimamente filmes infantis, odeia o "Nemo" e nem gostou do "ET")

1 comentário:

Escabroso disse...

É tão assim que nem sequer se pode considerar uma metáfora. É mesmo um retrato.