domingo, 29 de outubro de 2006

"The Dracula Tape" de Fred Saberhagen

Um Drácula com um fino e seco sentido de humor? Hmmm. Sim. Vlad, para os amigos e amigas, de Fred Saberhagen.
Ao ler o clássico, "Drácula" de Bram Stoker, sempre me ficou atravessado que no meio de todas aquelas cartas e diários o protagonista não tivesse direito a voz própria. Parece que não fui a única. Fred Saberhagen, à semelhança de escritores como Anne Rice que contam a história na perspectiva do vampiro, decide relatar os acontecimentos na primeira pessoa.
Se no século XIX o importante era dar caça ao monstro, a ameaça externa que perturbava a paz dos vivos, no século XX descobriu-se que são os vivos que comem vivos os outros vivos. Não admira que agora os vampiros falem. Os monstros somos nós, não eles.
Aconselho vivamente este livro a todos os vampire lovers, porque aqui Drácula faz-nos rir mais do que pensar, e não se representa a si próprio como o desgraçadinho condenado - ele quer lá saber disso! - mas como um bon vivant do(s) século(s) passado(s) que não dispensa a companhia de uma bela mulher e os jogos de sedução de um eterno apaixonado.
Quanto a Van Helsing, o arqui-inimigo, é descrito como um fanático religioso, tão sádico como sexualmente reprimido, que tem por fetiche penetrar mulheres com estacas de madeira. Diz dele o protagonista: "Por alguma razão a sua mulher foi parar ao manicómio." Contudo, este Drácula não é um santo. A mulher dele, não tendo ido parar ao manicómio que não existia na altura, atirou-se da muralha do castelo, como conta o clássico.

Uma passagem:

But let the story go. In passing, you think, I have let out the real truth, and it proves to be just what my enemies have claimed. I have now confessed that I deliberately made that girl into a vampire.
Is it not so? you ask. And I answer, jovially enough, in a phrase that men have used to excuse everything from genocide to sexual oddity: Yes, and what's wrong with that?
Will you tell me that the mere existence of a vampire creates a blot of unexampled evil upon the earth? You would be in danger of becoming insulting if you said that to Count Dracula. But never mind personal considerations for the moment. The fact is that you are arguing in a circle. It is evil to be a vampire because they sometimes make other vampires who are by definition evil.
Mere reproduction has not been thought a crime for human beings, at least not till very recently. Why may not I enjoy the rights of other men?



Sobre Fred Saberhagen:

Saberhagen's Dracula novels are based on the premise that vampires are morally equal to normal humans: they have the power to do good or evil, it is their choice. The first in the series "The Dracula Tape" is the story of Bram Stoker's "Dracula" told from Dracula's point of view. As the continuation of the series makes obvious, in this version, Dracula survives the best efforts of Harker, Van Helsing and company, who are portrayed largely as bungling fools. In later novels Dracula interacts with other literary characters including Sherlock Holmes and Merlin.

Boas leituras.

1 comentário:

Goldmundo disse...

Fred Saberhagen!!!!!!

Não conheço o Dracula. Mas ele tem dois livrinhos magnificos editados cá há muitos anos: "As Máquinas da Destruição" e "Irmão Assassino".

(Livros do Brasil, colecção Argonauta, nºs 199 e 200 ou 200 e 201, já não me lembro bem)

Absolutamente brilhantes. Uma vez na net li que ele era considerado um escritor "a metro"... Bem, que metro! :)