quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

iZombie


Durante a primeira temporada de "iZombie", não sabia exactamente o que pensar desta série. Parece-me que os seus criadores também não sabiam se queriam fazer uma série dramática com momentos cómicos ou uma série assumidamente cómica com momentos dramáticos. Felizmente, ao longo da segunda e terceira temporadas, acertaram: série assumidamente cómica, em forma de policial, com momentos dramáticos e alguma comédia romântica. Mas não é um humor de sketches e gargalhadas. É um humor subtil e inteligente, cheio de referências e trocadilhos, que me faz sorrir mais do que rir. A bagagem dramática era excessiva no início, mas deu o peso suficiente às personagens que são tudo menos caricaturas.
Liv Moore, a nossa adorável protagonista, tinha a vida perfeita. A carreira perfeita em Medicina, a família perfeita, o noivo perfeito, a melhor amiga perfeita. Tudo era perfeito. Até que Liv vai ao sítio errado no dia errado e é contagiada pelo vírus que a transforma em zombie. Da vida perfeita Liv passa para uma morte clandestina que a força a consumir cérebros humanos para que o seu estado não se deteriore num zombie dos filmes de Romero (terminologia da série). Adeus à grande carreira. Liv tem de arranjar um emprego inferior na morgue da Polícia onde pode furtar cérebros à vontade. Esta mudança de... "circunstâncias", e de aparência física, obriga-a também a cortar laços com a família perfeita, e com a melhor amiga perfeita, e com o noivo perfeito.
Quando uma porta se fecha abre-se uma janela, porque na mesma morgue da Polícia trabalha também Ravi, outro médico brilhante que igualmente se teve de contentar com um emprego abaixo das suas habilitações após ter sido despedido do CDC por ter métodos geniais que não lhe são reconhecidos.
E aqui já começamos a ver um padrão, mas é quando o noivo perfeito de Liv, Major, se transforma também em zombie, que compreendemos definitivamente a mensagem de "iZombie": é quando as vidas perfeitas vão por água abaixo que os verdadeiros heróis se revelam. Liv, Ravi, Major, eram daquelas pessoas que tinham o Facebook cheio de sucessos fáceis, mas só a adversidade os tornou heróis. O mesmo pode ser dito do vilão, Blaine, com a sua quota parte de drama familiar a explicar-lhe o comportamento. (Pergunto-me porque é que resta ainda a perfeita Peyton, que eu positivamente odeio de tão perfeita que é. A torcer para que se transforme em zombie também e talvez ganhemos outra heroína que tem de se erguer das cinzas. Assim como é, Peyton nunca teve de se erguer de nada porque tudo lhe caiu do céu. Demasiado fácil para se conseguir torcer por ela. Peyton já tem tudo, não há nada por que torcer.)
Sim, a série encantou-me nesta abordagem de que as personagens só se transcendem quando perdem "a vida perfeita". Liv perdeu quase tudo, mas, com as suas visões induzidas pelo último cérebro consumido, descobriu uma nova vocação ao ajudar o detective Clive a resolver crimes. Ravi, similarmente, só se deparou com um desafio à sua altura ao tentar encontrar a cura para o zombismo (terminologia da série). Major, que já era um gajo porreiro, revelou-se um verdadeiro herói ao tentar travar a ameaça zombie (contra muitos zombies e contra si próprio, igualmente zombie). Até Blaine, o vilão, conseguiu transcender a sua vilania. Não há como não gostar destes personagens. (Excepto Peyton, blarg, que coisinha sem sal.)
A série não prende o interesse na parte de resolver crimes, alerto. Mas também não é por isso que vemos uma comédia sobre zombies, pois não? Queremos ver zombies que nos façam rir, e nesse aspecto a série tem vindo a superar-se de temporada para temporada.
Tenho de admitir que não percebo porque é que a Liv e o Major ainda não estão juntos outra vez, mas quero crer que seja o grande final feliz do último episódio da série. Ou eu vou ficar muito zangada!


Nem acredito no que digo, mas parece que ando a ver uma comédia romântica, e a gostar! (Que vergonha. Não digam a ninguém.) Mas também não é todos os dias que o nosso par romântico são ambos zombies e estão tão bem um para o outro. É impossível não lhes desejar que casem e façam muitos zombinhos e sejam felizes para sempre. E como já estão mortos, talvez seja mesmo para sempre.
Às vezes não é preciso uma vida perfeita, basta uma vida. Como diz o próprio nome da protagonista, liv moore: vive mais, antes que se acabe.



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