Pela primeira vez na minha vida vi e gostei de um filme de Manoel de Oliveira!
Quanto a isto tenho pouca coisa a dizer, excepto explicar porquê. Gosto dos outros filmes do realizador? Não. E neste, a cinematografia é semelhante? É. Pouca acção, câmara parada? Com certeza. Diálogos artificiais? Do mais artificial que pode haver. Qual é a diferença, então?
Como sempre suspeitei, e tenho aqui a prova, o que realmente interessa, mais ainda do que a história, e não sei mesmo se mais do que o estilo, é o tema.
A história não é muito original. A abordagem é aquela que caracteriza o realizador. O tema é gótico. Um homem apaixona-se por um fantasma, um fantasma apaixona-se por um homem, e no fim... Não vou contar o fim. Gostei do fim. Gostei do filme todo. Essa é que é a grande surpresa.
Confesso que me espantou, do realizador, o tipo de filme. E que me espantou aquela cena sem cor em que o morcego (?) sobrevoa a cama do adormecido. Muito vampiresco. Muito "Nosferatu". A última coisa que esperaria de Manoel de Oliveira. E passado, ao que parece, lá para as bandas do Douro. Mas não interessa, porque não se dá por isso. O filme é maior do que o espaço, porque o tema é maior do que a vida.
E eis algo que jamais julguei afirmar: vi um filme de Manoel de Oliveira e era um filme de suspense! Quem não acreditar que veja por si.
Não sei o que diriam em Cannes mas eu, que não sendo uma perita credenciada em cinema o sou definitivamente no tema, dou:
12 em 20
Já que se aborda o assunto Manoel de Oliveira, confesso que estou muito curiosa quanto ao filme que este realizador já fez e só permite que seja exibido após a sua morte. Não sendo possível, por vontade do próprio, vê-lo antes, não o espero ver cedo a não ser que o senhor altere a sua intenção, mas não posso deixar de especular sobre o que se trata. Deveras intrigante.
2 comentários:
Também não gosto dos filmes deste senhor - adormeci durante dois deles em pleno cinema - mas este não me aborreceu, pelo contrário. Achei-o bem interessante, mas demasiado parado.
http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.pt
Lol!
Eu não cheguei a adormecer porque só vi partes dos filmes na televisão e as partes que vi foram curtas porque não aguentava ver mais.
Por isso o meu espanto! Estava à espera de começar a ver, por uma questão de curiosidade e cultura geral, e dar-lhe o mesmo destino que dei aos outros: desligar ou mudar de canal.
Mas é curioso, porque quando dei por mim já ia a meio do filme e cada vez mais interessada!
Se é parado? Pois, é o tal estilo que caracteriza o realizador, mas mesmo assim, neste caso, menos parado do que os outros, ou talvez porque acompanhamos a obsessão do protagonista a nossa mente está sempre a pensar no que vai acontecer a seguir. Isto foi o que me espantou neste realizador. Até não é descabido perguntar porque é que os outros não são assim...
Possivelmente este filme merece mais comentários do que eu saberia tecer. Por não gostar, não conheço profundamente a obra do realizador. Mas, sem dúvida, esta é uma carta fora do baralho!
Aproveito para fazer uma correcção. No post, disse que um morcego sobrevoa o homem a dormir. Agora estou na dúvida se é um morcego ou se é o passarinho, ou a alma do passarinho, que depois aparece morto na gaiola. Não se vê muito bem. Por ser uma cena nocturna eu associei logo ao morcego mas é possível que seja o passarinho. Tinha que ver com mais atenção. Em qualquer dos casos, o efeito vampiresco continua lá. O próprio fantasma tem algo de vampiresco.
Pergunto-me: será que Manoel de Oliveira gosta destes temas? Ou sabe que aquilo pareceu vampiresco? Ou iria gostar de saber que parece vampiresco? Estranho, muito estranho, tendo em conta os filmes anteriores.
É caso para dizer: "o estranho caso d'O Estranho Caso de Angélica". :)
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