Parece que o outono tarda em chegar, e ainda bem. Ao contrário do verão passado, este foi um bom verão. Quente e produtivo. Como eu gosto. Não que tenha aproveitado o verão em si. De facto nem dei por ele. De facto, não estou a dar pelo tempo que faz, nem que fez, nem que fará, nem o que passa e muito menos o que fica. Who cares? Às vezes é realmente demasiado tarde, e quanto mais tarde é mais tarde se faz. Mas foi um bom verão, quente e produtivo, exactamente por não o ter aproveitado no exterior mas no interior.
É curiosamente nos meses quentes que tenho tendência a pôr-me a escrever, como se o calor me inspirasse. Não vejo explicação para isto.
Excepto uma. A infância de verões e verões fechada em casa, sem nenhum sítio para onde ir, a obrigar-me a procurar no interior da imaginação a distracção para os dias que teimavam em não passar? Talvez. Talvez tudo se resuma enfim à análise psicanalítica do somatório das experiências de infância. Talvez a alma se possa dissecar, afinal, como se disseca um corpo e se lhe descobre a doença que o matou. Talvez não haja alma nenhuma, só o somatório de experiências, e no fim da vida se possa dizer: a alma deste fulano foi corroída pela cirrose do tédio, a deste sicrano morreu de ataque de coração partido, e etc, etc. E a alma não passe de mais uma espécie de corpo igualmente biodegradável.
Talvez a alma também morra de velha.
5 comentários:
http://www.snopes.com/religion/soulweight.asp
O Verão dá-me cabo da mioleira ;)
sou mais produtivo no Inverno.
bjs.
O Outono só está à espera que as elições acabem!...tudo de bom...
Gostei bastante deste teu pequeno texto, principalmente no que respeita à tua relação com o tempo...
Agora:
"De facto, não estou a dar pelo tempo que faz, nem que fez, nem que fará, nem o que passa e muito menos o que fica. Who cares? Às vezes é realmente demasiado tarde, e quanto mais tarde é mais tarde se faz"
Antes:
"[...] procurar no interior da imaginação a distracção para os dias que teimavam em não passar"
São aquelas sensações que, volta e meia, se instalam na nossa barriga:
por um lado o tempo não passa, por outro já é tarde, sendo a actividade - escrita ou outra - a forma de anestesiar - não o ver - esse enjoo existencial... sem nunca o resolver, até porque este desequilíbrio é, neste caso, o motor da criatividade.
Talvez a questão não esteja tanto no tal somatório de experiências, nem seja algo especialmente ligado à infância (o que é que no humano não se liga à infância?), mas antes, algo relacionado com a forma como vivemos e sentimos o tédio, o isolamento, a rotina... e como é que interpretamos essa mesma relação. No fundo, a capacidade para lidamos connosco próprios: algo como, sou bom companheiro de mim mesmo?
É por ter pensado acerca destas coisas que gostei de ler este texto!
Obrigada, daucus, também gostei do teu comentário.
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