quinta-feira, 28 de abril de 2011

Preciso de uma opinião sincera

Esta é a primeira frase de uma coisa que ando a escrever. A princípio pareceu-me muito bem mas cada vez que a leio surgem-me dúvidas. Preciso de uma opinião sincera.

Era uma daquelas tardes de verão serenas e mornas em que o próprio sol parece adormecer dentro da água das fontes, e a suave brisa sopra as pétalas de mansinho, como se todos os elementos se tivessem esquecido de que há bem poucos meses, ainda mal começada a primavera, se costumavam digladiar como inimigos.

Está demasiado... nem sei o que lhe chamar... cliché? Bucólica? Romântica?
A ideia era expressar que a natureza, os quatro elementos (fogo, ar, água, terra), se encontravam "reconciliados" após terem sido "inimigos". Mas agora não sei se a ideia passa ou se a frase é demasiado... a tal "coisa" que não consigo definir.
Opiniões são muito bem vindas. Obrigada. :)

6 comentários:

Vítor Mácula disse...

olá, gotika

por si, é um pouco como dizes: tem um certo conforto do óbvio e já-dito; por outro lado, exprime aquele aspecto da vida que tanto nos perturba, o da tempestade e da bonança; e a descrição está boa, leva-nos a presenciar a bonança primaveril.

parece-me um trecho óptimo como início de algo, uma história ou assim: dá o toque temático e geral, por exemplo. eu, ao lê-lo, fico em suspensão de um resto narrrativo.

abraço

PS: e penso que está mais rico que os 4 elementos: elementos também remete para o sol, as pétalas, nós próprios, os grupos sociais, os sentimentos, os pensamentos, e por aí fora e dentro indefinidamente.

Vítor Mácula disse...

PS 2: o óbvio e confortável não é mau por si: por vezes, é adequado "começar de mansinho". o que conta é a relação com os restantes "elementos" do texto ;)

katrina a gotika disse...

Merda! Acabei de escrever e perder um longo comentário todo bonito e fundamentado! Já ando nisto há tanto tempo que já tinha obrigação de guardar o comentário antes de carregar no botão de enviar... *suspiro*

Enfim, em suma, era isto:
Olá Vítor! Quando vi que os comentários eram teus até tremi! É para veres como levo a sério as tuas opiniões sempre tão incisivas. Obrigada, ajudaste-me bastante.
Eu pensava que ias dizer "está uma merda, escreve outra coisa".
Os autores são os piores juízes da sua escrita porque não conseguem encarar o texto com imparcialidade ou só conseguem muitos anos depois. Até pode estar uma grande merda e eu não perceberia.

Então, em suma, não está completamente mau?...
Obrigada. :)

katrina a gotika disse...

Ah! Sim, é uma história. E sim, tens razão, começa da forma "confortável". Aí acertaste na mouche. A forma "confortável" é uma de muitas maneiras de começar uma narrativa.
Por exemplo, os filmes de terror usam-na muito para criar "confiança" no espectador.
Também tens toda a razão quando dizes que o mais importante é o que vem depois. Mas a primeira frase é importante e às vezes eu fico completamente na dúvida. Como disse acima, os autores não conseguem avaliar o seu trabalho imparcialmente.

Milton Matoso disse...

Não interessa o que os outros venham a pensar, escreve o que queres escrever... Ao "decair" numa pequena "insegurança" a tal opinião sincera que pedes as pessoas, apenas vais tornar o texto em plástico(na minha opinião). Mas pronto, eu falo por mim. Eu adoro ler bastante e muitas das vezes leio coisas tão banais que se tornam interessantes pela sua identidade que o autor se preocupou a dar. Eu gostei do texto, não tirava nem metia nada.

Acho que as pessoas se deviam preocupar mais, a escrever as "patetices que sentem" do que as supostas "obras de arte".

Digo isto porque também escrevo bastante, e nos primórdios da minha actividade como escritor, ralava-me muito pelo feedback e a perfeição da coisa. Agora "escrevo-me" sem tabus e livre de preconceitos, pois acho que é a coisa mais importante.

Cumpz.

katrina a gotika disse...

Olá Raven, bem vindo aqui!
Eu gosto de uma opinião quando tenho dúvidas. Obrigada pela tua.
Não acho que a prosa seja tão permissiva como a poesia (sei que escreves poesia; não sei se também escreves prosa). A narrativa tem "obrigação" de pensar no leitor, tal como um filme tem obrigação de prender o espectador. A poesia é intimista e pode dar-se ao luxo de não se preocupar com o que o leitor pensa (muitas vezes, aqui, escrevo de forma poética e críptica). A narrativa é para o outro, a pensar no outro, e o tom (a voz) em que se escreve também é importante para o todo. Por exemplo, escrever o mesmo facto num jornal e num romance são coisas completamente diferentes. No entanto, são narrativas do mesmo facto. É o tom que lhes dá a diferença.

Entretanto acho que a palavra que eu procurava era "lamechas". Tenho horror de cair na lamechice.