terça-feira, 17 de setembro de 2024

Cold Skin / Isolados (2017)

Em 1914, antes da guerra, um jovem meteorologista chega a uma ilha quase deserta onde deverá passar quatro anos sozinho a fazer medições. O outro habitante da ilha é um faroleiro chamado Gruner, um homem intratável sem interesse em fazer amigos.
O meteorologista tem uma cabana de madeira bastante acolhedora e a ilha é muito bonita, com areia e rochas cinzentas contra o céu azul e a espuma branca do mar. Até apetece lá estar. A primeira noite é calma. Mas na segunda noite a cabana do meteorologista é atacada por uma horda de seres humanóides de pele azul e aparência anfíbia. O meteorologista consegue barricar-se na cave. Como os anfíbios só atacam à noite, passa o dia a entaipar as janelas e a preparar armadilhas. O que consegue com isto, ao ser atacado na noite seguinte, é pegar fogo à própria cabana.
Obviamente vai pedir ajuda ao faroleiro, que podia ser apenas macambúzio e anti-social, mas na verdade é uma autêntica besta que só aceita acolher o meteorologista porque este oferece café, chocolates e munições. Mas a partir daí o faroleiro não esconde que lhe está a fazer um favor e paga-se caro por isso.
Na verdade, o faroleiro sabe bem da presença dos anfíbios, que quase todas as noites atacam o farol. Ele próprio os parece chamar com um flare, e do alto do farol atinge a tiro todos os que apanha. O meteorologista junta-se a ele nestas batalhas nocturnas (até porque Gruner o obriga a participar) mas coloca-lhe a pergunta óbvia: se Gruner sabia o que se passava na ilha, porque não aproveitou o barco que o trouxe para fugir? “Para a civilização?!”, troça Gruner. Não, Gruner quer estar na ilha, sozinho, e quer exterminar todos os anfíbios. Este é um homem em conflito com a civilização, aliás, ambos aceitaram o cargo por qualquer motivo que os fez fugir dela, possivelmente a única coisa que os dois homens têm em comum.
Apesar do seu ódio aos anfíbios, Gruner capturou uma fêmea a quem chama mascote e a quem usa como escrava sexual (isto vai ser perturbador para alguns espectadores), enquanto que o interesse do meteorologista é acima de tudo científico, como homem de erudição do seu tempo em que o darwinismo era apenas conhecido pelas mentes mais instruídas. À medida que o meteorologista conhece a fêmea, a quem chama Aneris, e também os outros anfíbios, vai descobrindo que estes têm uma estrutura social e sentimentos, e embora não tenham tecnologia têm uma cultura e são mais amigáveis do que parecem.
“Cold Skin” é um filme complicado que quer abranger vários tópicos ao mesmo tempo sem conseguir explorar nenhum tão bem como devia. O tema começa por ser Homem vs Monstros como numa história lovecraftiana, mas depressa se torna em Homem vs Homem, se não mesmo em Homem vs Civilização ou Homem vs Ele Próprio. Pode ser um filme sobre a arrogância do homem branco e colonizador perante uma cultura “inferior”, como era típico da época. Se considerarmos os anfíbios como animais humanóides muito inteligentes, pode ser um filme sobre a prepotência do ser humano perante a vida animal e a Natureza. Por querer ser isto tudo, “Cold Skin” dá-nos muito em que pensar, nomeadamente em quem é o verdadeiro monstro, mas a história promete mais do que compensa.
Saliento a interpretação de Ray Stevenson (de “Rome”, “Dexter”, “Black Sails”, “Vikings” e “Das Boot”) que já não se encontra entre nós. Recordo sempre Ray Stevenson em papéis de vilão ou anti-herói, mas aqui, utilizando o seu corpanzil intimidante e a cabeleira desgrenhada, o homem mete medo.

13 em 20


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