domingo, 1 de setembro de 2024

All Is Lost (2013)

Um velejador solitário no oceano Índico acorda de repente com o veleiro a encher-se de água. O que aconteceu é quase surreal: o veleiro embateu num enorme contentor de carga que vogava à deriva e tem um buraco no casco, apenas acima da linha de água. Depois de recobrar da estupefacção, o velejador desencalha o veleiro e começa a tapar o buraco. Quando experimenta utilizar o rádio para pedir ajuda percebe que a água no interior do habitáculo deu cabo do sistema eléctrico. Ainda tenta secar o rádio mas as baterias não funcionam. O velejador tenciona dirigir-se para a rota náutica dos cargueiros, mas é apanhado por uma tempestade que ainda deixa o veleiro em pior estado.
Nunca sabemos o nome deste homem interpretado por Robert Redford. Algo que nos impressiona imediatamente é a falta de diálogo e palavras em geral. O velejador não fala com ninguém, nem consigo próprio. Temos de compreender tudo por observação do que ele está a fazer, o que às vezes não é fácil para um leigo.
“All Is Lost” foi uma surpresa, um dos melhores filmes a que assisti nos últimos tempos. Ainda bem que não vi no cinema ou teria roído as unhas todas. Do princípio ao fim ficamos com os nervos em franja e tentamos torcer pelo velejador que parece perseguido pela fúria de Neptuno. A certa altura, por exemplo, a tempestade vira-lhe o barco ao contrário. Dentro do habitáculo, com as janelas por baixo, o homem parece um peixe num aquário. E depois vai de mal a pior, mas não posso revelar. Esta é uma história de sobrevivência no limite, que quase não nos dá uma pausa para respirar, onde Robert Redford brilha nesta interpretação silenciosa em que lhe lemos na cara o que se está a passar na sua cabeça, desde a calma ao desespero.
Tudo no filme em si é perfeito (interpretação, enredo, suspense, cinematografia, banda sonora) mas para uma história supostamente tão realista houve algumas coisas que não fizeram sentido. Alguém que se aventura sozinho num veleiro em mar alto tem de ser um marinheiro experiente. No entanto, durante a tempestade ele iça uma vela, o que eu sempre ouvi dizer que não se faz. Fui pesquisar e tinha razão, não é assim que se usam as velas de tempestade. Noutra altura, ele vai buscar um pacote de equipamento de emergência que resistiu à inundação porque está dentro de material impermeável e selado, onde tem um sextante. O sextante serve para calcular a posição mas não ajuda muito sem um rádio com que pedir ajuda. Pergunto-me, este mesmo equipamento não podia ter, PRINCIPALMENTE e ACIMA DE TUDO, um rádio de emergência e baterias carregadas, sempre guardados num lugar acessível, seguro e estanque? E se não tem, não devia ter? Li outras críticas ao filme feitas por marinheiros com experiência que apontaram mais falhas deste tipo, algumas que eu também estranhei durante o filme, outras que não apanhei de todo. Embora admitam que o extremar da situação e o cansaço também podem levar os mais experientes a cometer erros, o consenso geral das pessoas do mar é de que este filme é um manual daquilo que NÃO FAZER. Fica o aviso.
Assim, “All Is Lost” pode não ser completamente preciso em termos realísticos mas é uma história de sobrevivência poderosa e angustiante. Recomendo e espero que este filme atinja o estatuto de clássico que merece.

18 em 20


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