“Apparition” alega ser baseado em acontecimentos reais e só posso concluir que se refere à primeira parte, aliás, a mais interessante do filme. Um reformatório para rapazes difíceis recorre ao sadismo mais aberrante para os pôr na linha. Depois de ver tantos actos horríveis cometidos por pessoas, especialmente pessoas em posições de poder contra vítimas indefesas, não me custa nada acreditar. Tenho mesmo a certeza de que isto ou semelhante aconteceu algures. Mas o filme não é exactamente um drama.
A brutalidade do director do reformatório e de dois dos guardas chega ao ponto de assassinarem um rapaz que tenta fugir. Para se encobrirem, deduzo, matam outro guarda (que ameaçava expo-los), a governanta e todos os miúdos a seu cargo, colocando as culpas noutro “meliante” (que nunca foi condenado). O reformatório acaba por ser encerrado.
Duas décadas depois, o filho mais velho do director, Derek, tem casamento marcado com Skyler, precisamente a filha do guarda que foi assassinado, e a filha e o filho dos outros dois guardas também andam numa relação pouco séria um com o outro. O filho mais novo do director, Sam, parece-me ter qualquer problema de autismo, mas aparentemente é um génio informático porque consegue criar uma app para contactar os mortos. Sim, leram bem. Ele criou uma app que liga o utilizador a um deus dos mortos esquecido pela civilização, que faz o favor de estabelecer a conexão (e sem cobrar comissões ou roaming!). E é tudo o que nos é dito sobre o funcionamento da app. (Não se riam já, isto fica melhor.)
Um pouco na brincadeira, os outros quatro jovens fingem que alinham e que acreditam na app (por isso o filme se chama APParition, topam?). No entanto, assim que Skyler toca na app, esta leva-a através de GPS exactamente ao reformatório abandonado onde o pai dela foi assassinado.
Os telemóveis ficam sem sinal mas a app continua a funcionar. Sam explica que o telemóvel já não está ligado a uma antena mas “a um espírito”. OK, aqui é que é para rir.
Por pouco nem me dava ao trabalho de escrever esta crítica, mas vou fazê-lo por uma razão. Obviamente que a ideia da app para contactar os mortos (e desta app em particular) é ridícula. Mas às vezes, no género Terror, quando a coisa é bem feita, é preciso desligar alguns neurónios e aceitar o impossível quando a recompensa é suficientemente boa. “The Walking Dead”, por exemplo. Sim, temos de aceitar que os mortos voltam à vida, ponto final, mas em troca assistimos ao desmantelar da civilização e ao regresso da lei do mais forte. Vale a pena. Quando a coisa é mal feita, não vale.
“Apparition” vale a pena? Nem pensar. Mais valia terem feito Skyler ter um sonho com o reformatório que a levasse lá. Não é original mas não é ridículo de morrer a rir.
O filme surpreendeu-me, no entanto. Pensei que isto ia ser mais um adolescentes-assassinados-por-espíritos-vingativos num cenário de casa assombrada, mas, embora se invoque o princípio bíblico de que “os filhos pagam pelos pecados dos pais”, o objectivo final é fazer justiça.
“Apparition” deve ter sido filmado com 300 euros e alguns trocos e roupa emprestada, mas isto não explica a pobreza do enredo em geral, e especialmente não explica a incoerência do final. “Apparition” é daqueles filmes que se vêem para aprender como não contar uma história. Noutro caso, recomendo que se evite.
10 em 20
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