Num futuro pós-apocalíptico, depois de sofrer com as alterações climáticas e com um golpe de Estado que alterou o regime, a sociedade de Arcadia é uma comunidade distópica e fechada, fortemente vigiada no estilo “Big Brother”, onde o lema é “cada um tem o que merece”. Todas as pessoas têm implantado um chip obrigatório e são avaliadas a partir dos 18 anos por uma pontuação baseada na utilidade social, emprego, educação… e saúde.
O casal Hendriks e as suas quatro filhas (algumas deles, outras adoptadas) faz parte da classe mais privilegiada e próxima do governo, usufruindo de todas as regalias disponíveis em Arcadia. No entanto, os Hendriks têm um problema: a filha Luz é uma adulta autista, embora funcional, que mal distingue a bondade da maldade, o que é muito perigoso numa sociedade do tipo “1984”. Oficialmente, Arcadia não pratica a eugenia, mas na prática todos os deficientes são ostracizados através das suas pontuações e a dos seus pais. Ser ostracizado em Arcadia significa, em último caso, ser expulso da sociedade para sobreviver Lá Fora dos muros, na floresta selvagem. É o que acontece ao pai Hendriks quando se descobre que este manipulou as pontuações das suas filhas Hannah e Luz de modo a conseguir-lhes uma posição melhor. Num julgamento sumário, Hendriks é posto no exterior com uma mochila e a roupa do corpo, onde não tem qualquer hipótese de subsistir. Toda a família é igualmente castigada, quer soubessem da fraude ou não, perdendo 2 pontos cada um.
As classes menos privilegiadas têm ainda pior sorte. Sem a pontuação necessária não têm direito a uma boa alimentação (por exemplo, leite verdadeiro) nem aos cuidados médicos ou remédios de que precisam (onde é que eu já vi isto?). Quem fica doente perde o emprego, e quem perde o emprego perde pontuação porque não se considera que a pessoa valha o custo-benefício de a manter. Com a pontuação cada vez mais baixa, a pessoa acaba por ser expulsa para Lá Fora, ao que Arcadia chama o eufemismo “exilar”.
Uma das filhas dos Hendrinks, Millie, é uma militar despromovida devido ao processo que atingiu a família e pede transferência para o Serviço de Patrulha Exterior, na esperança de encontrar e ajudar o pai. Graças à ajuda do seu parceiro, Millie descobre que existe uma colónia de sobreviventes na floresta, que subsistem da terra e de tudo o que lhes chega dos exilados de Arcadia, mas subsistem. No entanto, Millie não encontra lá o pai e continua a procurar, arriscando cada vez mais ser descoberta e punida pelos superiores.
Por seu lado, outra das filhas, Alex, polícia igualmente despromovida, é aliciada pelos detractores do pai a envolver-se numa intriga governamental entre facções inimigas na tentativa de ajudar a família que já perdeu a casa e cuja pontuação continua a descer sem explicação (porque o regime também a manipula).
Entretanto, começa a surgir uma Resistência em Arcadia, que desenvolveu uma tecnologia que consegue neutralizar o chip de vigilância. Graças a esta Resistência, por exemplo, pessoas que não teriam direito a um transplante recebem tratamentos clandestinamente. Como enfermeira, Hanna, outra das filhas dos Hendriks, vê-se directamente envolvida nesta tentativa de ajudar as pessoas em necessidade. O lema de Arcadia é “todos têm o que merecem” mas só os ricos e poderosos é que merecem tudo (onde é que eu já vi isto?).
Embora as séries europeias tenham a reputação que têm (muitas vezes injustamente), e ainda pior no canal SyFy, “Arcadia” é uma produção belga/holandesa que vale mesmo a pena ver, embora a língua, a princípio, nos soe bastante estranha (pelo menos a mim pareceu, mas habituei-me rapidamente). O ritmo é rápido, o enredo é tenso, o perigo é real. O final da primeira temporada é um cliffhanger e eu queria muito saber o que vai acontecer a seguir, mas, infelizmente, não me parece que esteja na calha uma segunda temporada. Por outro lado, talvez não seja precisa nenhuma continuação. Neste género de distopias o final acaba por ser um dos dois: a vitória da Resistência, como parece estar a acontecer na versão televisiva de “The Handmaid’s Tale”, ou o assassinato literal ou psicológico de todos os personagens, levados à completa submissão como em “1984”. Mesmo assim, recomendo vivamente.
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PARA QUEM GOSTA DE: Distopia, 1984, ficção-científica, sociedades pós-apocalípticas
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