domingo, 21 de julho de 2024

Heart’s Blood, de Juliet Marillier

Este foi possivelmente o meu livro preferido de Juliet Marillier. Não é difícil, porque mais parece uma história de terror com meios-fantasmas/meios-zombies e tudo.
Caitrin é uma jovem escriba em fuga. Desde que o pai morreu e a irmã casou, Caitrin ficou à mercê de uns primos distantes que se instalaram em sua casa para reclamar a herança e que a maltratam física e psicologicamente.
Em desespero, Caitrin foge para Oeste, em busca de parentes da sua mãe, mas os seus parcos fundos deixam-na apeada junto à povoação de Whistling Tor, cujos aldeões morrem de medo da colina onde fica a respectiva fortificação do nobre que os devia liderar, Anluan.
Os estalajadeiros contam a Caitrin que Anluan está sob uma maldição centenária. O seu bisavô Nechtan, através de feitiçaria, conjurou um exército de espíritos, a que chamam “a hoste”, para combater nobres vizinhos, mas algo correu mal e Nechtan perdeu o controlo sobre os mortos-vivos assim que estes saíram da colina. A hoste chacinou o inimigo, as pessoas da povoação, e os espíritos atacaram-se uns aos outros. Desde aí, o senhor de Whistling Tor não pode abandonar a fortificação sem perder o poder sobre a hoste.
Mas Caitrin está mesmo desesperada, e desconfia que os parentes malvados a perseguem para que ela case com o primo (de modo a que ele possa ter direito legal à herança). Ao ouvir dizer que Anluan procura um escriba que saiba irlandês e latim para lhe organizar uns documentos antigos, Caitrain prefere enfrentar os fantasmas e procurar emprego seguro.
Assim que chega, Caitrin percebe que algo de muito errado se passa na fortificação, onde só vivem o próprio Anluan, o guerreiro Magnus, que agora faz tudo incluindo a comida, um conselheiro e um monge, uma dama de poucos sorrisos, e um homem (?) de quem só sabemos que já vivia em Whistling Tor antes de Nechtan e da hoste, Olcan (e nada mais nos é dito sobre a natureza desta criatura). Pior um pouco, Caitrin descobre rapidamente que Anluan, Magnus e ela própria são os únicos seres humanos em Whistling Tor. Tirando Olcan, que não é humano mas não sabemos o que é, os outros três são fantasmas, parte da hoste, que simplesmente conseguiram controlar melhor os seus impulsos a ponto de quase conseguirem passar por humanos. (Parece ou não parece uma história de terror?)
O trabalho de Caitrin consiste em traduzir os documentos de Nechtan em busca de um feitiço que anule o primeiro e devolva a hoste ao sítio de onde veio. Mas, entre os pertences do feiticeiro, Caitrin encontra um espelho negro que lhe permite não apenas visualizar como sentir o que Nechtan sentia, por exemplo, ao torturar uma velha senhora e o seu cão de estimação… (Mais terror.) No entanto, no meio de todas estas monstruosidades, Caitrin vê motivos para acreditar que a hoste não é tão desprovida de humanidade como parece e que a chave para a dominar reside na auto-confiança de Anluan, um homem que não acredita nas suas capacidades embora seja o único capaz de manter a hoste sob controlo.
Não seria um livro de Juliet Marillier se isto não desse uma história de amor.
Contudo, e muito importante para a trama e o desenlace, “Heart’s Blood” conta também com um “policial”. Acontece que todas as esposas dos senhores de Whistling Tor morreram em acidentes misteriosos, excepto a mulher de Nechtan (mas não vou revelar como). Logo, existe um assassino à solta em Whistling Tor e a própria Caitrin é alvo de uma ou duas tentativas de assassinato quase conseguidas. Gostei da maneira como Marillier foi deixando pistas para o leitor e consegui estar sempre um passo à frente da heroína em todas as descobertas, até porque quem está de fora consegue ser mais imparcial do que os intervenientes.
Também gostei que desta vez Marillier tenha conseguido criar uma personagem cuja vilania não é a preto e branco como eu nunca tinha encontrado nos livros dela até agora. Por outro lado, a heroína também não é tão perfeita e segura e estóica e tudo e tudo como as anteriores. Não gosto de heroínas tão fortes que nem pareçam reais. Caitrin podia ser real, e isso cria empatia.
Fiquei agarrada à história do princípio ao fim e recomendo a todos os fãs de Juliet Marillier. E não se assustem com os fantasmas/zombies: afinal são apenas almas aprisionadas numa situação que abominam e tudo o que desejam é voltar para onde vieram. “Heart’s Blood” é uma história sensível em todos os sentidos.


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