Este é daqueles a que eu chamaria “filme de terror para crianças”, mas há aqui o suficiente para pôr os cabelos em pé a qualquer adulto.
Uma mãe divorciada e os seus dois filhos (Dane, já adolescente, e Luke, com cerca de 10 anos) mudam-se para uma casa nova numa cidade pequena. Quando a mãe vai trabalhar os irmãos descobrem um alçapão na cave, fechado com muitos cadeados. Curiosos, e acreditando que está a tapar alguma conduta de gás, abrem o alçapão e descobrem um buraco negro, frio e sem fim à vista. O buraco é verdadeiramente assustador. Os rapazes tentam medir a profundidade atirando pregos, com uma cana de pesca, com uma câmara, e não conseguem captar nada nem encontrar o fundo. (Bem, captar até captam, mas acabam por não ver o que captam, noutro grande momento de tensão.) Os irmãos não contam à mãe, não pelo motivo habitual de não envolver os adultos porque querem resolver tudo sozinhos, como é tão típico nestes filmes, mas porque têm grandes razões para isso: há muito tempo que não param de se mudar de um lado para o outro e estão fartos de mudanças. Sabem que a mãe vai querer sair dali para fora sem pensar duas vezes assim que descobrir o buraco. (Isto vai ser importante para o mistério do filme.) No entanto, são surpreendidos na cave pela filha dos vizinhos, a adolescente Julie, que concorda que o buraco não é normal e até lhe chama “portal para o inferno”.
Os rapazes querem fechar o alçapão mas este não se deixa trancar novamente. Luke, o miúdo mais novo, começa a ser atormentado por um palhaço de peluche que o aterroriza. Dane tem outros medos a preocupá-lo. Mas a cena mais assustadora do filme, e há muito tempo que um filme não me arrepiava tanto, é a assombração que persegue Julie. Quando esta está sozinha numa casa de banho pública ouve uma menina chorar num dos cubículos. Espreita por baixo da porta e vê os pés de uma criança, um calçado e outro descalço. De repente cai no chão uma pinga de sangue. Julie afasta-se mas a miúda sai para fora, na obscuridade, e aproxima-se, aproxima-se... Julie quer fugir mas a porta da casa de banho está trancada. Quando um grupo de amigas a abrem do lado de fora e entram, a assombração desaparece. Ao contrário do que costuma acontecer, os outros miúdos também conseguem ver o fantasma que assombra Julie e nunca se coloca a questão de estarem a alucinar.
O filme é tenso do princípio ao fim. Só porque parece um filme para miúdos e com miúdos não significa que algo de horrível não possa acontecer a qualquer momento. Por exemplo, Julie tem um cãozinho que se aproxima demasiado do buraco. Ou quando o rapaz mais novo anda a fugir do palhaço de peluche, na cave, quase às escuras, e o buraco ali aberto…
A resolução anda um pouco no campo do “realismo mágico” que já não me agrada tanto, em que tudo é uma lição de vida a ser resolvida psicologicamente. Quase se aproxima do “afinal era tudo uma alucinação” (que pisa perigosamente perto do infame “afinal era tudo um sonho”) mas sem nunca cair nesse buraco, passe o trocadilho. O fim deixa em aberto a possibilidade de uma sequela.
“The Hole” é claramente dirigido a uma audiência mais jovem mas tenho a certeza de que vai causar arrepios à família toda e não aconselho isto a crianças de modo nenhum. Há aqui cenas mesmo assustadoras, daquelas que tiram o sono no escuro.
14 em 20 (pela cena na casa de banho, que me vai ficar na cabeça para sempre)
terça-feira, 30 de julho de 2024
The Hole / Medos (2009)
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