Este foi um daqueles filmes que me escapou, talvez por causa do título e da sinopse: miúda de 10 anos possuída por um demónio, onde é que eu já vi isto? Fiquei agradavelmente surpreendida por “The Possession” não ser uma cópia de “O Exorcista”, embora alguns elementos em comum não possam ser evitados devido à própria natureza da coisa. Tal como “O Exorcista”, “The Possession” alega ser inspirado em acontecimentos verídicos.
Emily, uma menina de 10 anos, compra uma bonita caixa de madeira gravada com letras misteriosas numa venda de garagem. Ao chegar a casa tenta abri-la, inclusivamente pedindo ajuda ao pai, sem sucesso. Só à noite, sozinha com a caixa, descobre o mecanismo para a abrir (ou a caixa deixa-se descobrir) e encontra artefactos estranhos de aspecto antiquíssimo. Emily fica tão agarrada à caixa que começa a levá-la para a escola e torna-se agressiva quando lha tentam tirar. Antes ainda, confessa à irmã mais velha: “Sinto que eu não sou eu”.
Esta é a parte mais interessante e inquietante da possessão. A caixa de madeira prendia um dybbuk, um demónio segundo a mitologia judaica, que procura uma alma inocente de que se alimentar. Uma vez que os pais de Emily se tinham divorciado há pouco tempo, o comportamento estranho da criança é ignorado, a princípio, e os acontecimentos bizarros são atribuídos a causas naturais, como a infestação de traças gigantescas que invade o quarto de Emily. É o pai dela (Jeffrey Dean Morgan) que começa a reparar na mudança de personalidade da filha, que de apática se torna cada vez mais violenta à medida que o dybbuk se apodera dela. Depois de investigar a origem da caixa, é ele quem se dirige à comunidade judaica para pedir um exorcismo.
Não posso dizer exactamente que o filme me aterrorizou, mas algumas cenas fizeram-me olhar em volta, muito pouco à vontade. Nomeadamente a primeira cena, em que ouvimos uma voz não-natural a entoar uma espécie de cântico ou encantamento ou chamamento e percebemos que esta vem de dentro da caixa na casa onde esta estava originalmente. As primeiras cenas de possessão são igualmente perturbadoras, quando o comportamento da miúda começa a mudar. Por alguma razão “O Exorcista” é considerado um dos filmes mais assustadores de sempre. Pouca coisa nos mete mais medo do que pensar que alguém que vive connosco possa ser “substituído” por um ser maligno, literalmente ou de outra maneira. Já para não falar na ideia de uma criança ser possuída por um demónio, que nos põe os cabelos em pé se acreditarmos nessas coisas. Desta forma, “The Possession” é um bom filme no início, que explora bem o tema com personagens convincentes, até começarem os efeitos especiais.
Os efeitos especiais, na minha opinião, por serem excessivos e difíceis de acreditar, estragaram um filme que estava a correr bem e que até estava a assustar-me um bocadinho. (Já não é a primeira vez que contacto com esta história do demónio na caixa mas não me consigo lembrar se foi num conto, num filme, no “Sobrenatural”, na internet, ou em todos os anteriores.) Sim, é verdade, “O Exorcista” também tem efeitos especiais, mas no contexto do filme muitos deles podem ser explicados por alucinações causadas por Pazuzu, o que é uma grande diferença. Em “The Possession” temos todos os clichés de filmes de terror com sustos e caras distorcidas, inclusive o dybbuk, que é representado por uma espécie de Gollum no feminino mas ainda mais feia. Ora, um demónio, tal como um anjo, não é corpóreo, e, como tal, não é visível. Excepto quando decide manifestar-se a nós mortais, e duvido muito que escolhesse manifestar-se assim porque não é com vinagre que se apanham moscas e um ser que existe desde o início dos tempos sabe disto muito bem. Onde “O Exorcista” nos perturbou com terror psicológico, “The Possession” quer assustar-nos com traças a sair da boca da possuída e um demónio visível numa ressonância magnética (o que foi original, admito, mas nada convincente).
Fiquei chocada, isso sim, por não ter reconhecido de imediato Jeffrey Dean Morgan (o John Winchester de “Sobrenatural” e o Negan de “The Walking Dead”) embora a cara me fosse familiar. O filme é de 2012. Entretanto, apesar de o ver tão regularmente não me apercebi do quanto Jeffrey Dean Morgan se tornou irreconhecível. Naturalmente que o actor envelheceu e tem menos cabelo, mas o que me impressionou mais foi que perdeu muito peso nestes últimos 10 anos. Nesta altura era mais rechonchudo.
“The Possession” podia ter sido um grande filme de terror psicológico mas infelizmente fica-se pelo cliché do susto fácil.
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