terça-feira, 2 de julho de 2024

Shark Bait / Perigo Em Alto Mar (2022)

Aqui está a típica história cautelar. O maior desafio deste filme de tubarões é fazer com que alguém se interesse pelos personagens uma vez que tudo o que lhes acontece é culpa deles e resultado de muita estupidez e de muito álcool.
Cinco jovens em férias da Páscoa numa praia no México passam a noite a beber tequila e cerveja, a dançar e a fazer as parvoíces características destes comportamentos juvenis. Penso que muito da nossa simpatia por eles vai depender das nossas experiências semelhantes (ou não) na idade deles.
Ao nascer do sol, em vez de irem para casa, podres de bêbedos, descobrem duas motas de água ancoradas junto à loja de alugueres que àquela hora ainda nem estava aberta. Um deles decide arrombar a porta da loja para ir buscar as chaves das motas (“é só um empréstimo”, justifica) e lá vão eles, a toda a velocidade, tão depressa que em questão de minutos já estão em alto-mar sem terra à vista. Não contentes com isto, e com as acrobacias nas motas de água, começam a fazer um jogo de chicken. O jogo de chicken é uma tradição americana com várias variantes em que se conduzem velozmente dois veículos (carros, barcos, motas) na direcção de um choque frontal. Ganha o último a desviar-se. O outro é o “chicken” (cobarde). É exactamente este jogo estúpido que os dois condutores embriagados decidem que é giro, não apenas uma mas duas vezes. À segunda vez, as motas colidem. Uma delas vai logo ao fundo, deixando os cinco amigos apenas com uma mota e lugar para dois passageiros (embora leve três bem apertados). Um deles parte a perna com uma fractura exposta e espalha-se muito sangue na água. Estão completamente sozinhos no meio do nada, nem sabem para que lado é a costa, e dois deles têm de ficar dentro de água porque não há espaço na mota. Não têm sequer uma garrafa de água e já estão muito desidratados pela bebida. Só têm um telemóvel entre eles (e a sorte de o telemóvel ser à prova de água) mas não têm sinal. Cá para mim eles não tinham qualquer hipótese mesmo sem o tubarão.
Mas é claro que isto não fica por aqui, e um enorme tubarão-branco aproxima-se atraído pelo sangue. O gajo da perna partida é o primeiro a ser comido, e vai por ali fora.
Os sobreviventes cometem vários erros além de todos estes. A certa altura encontram um cadáver semi-comido a boiar num colete salva-vidas junto a um sinal luminoso. Acredito que tenham ficado bastante repugnados com o cadáver, mas chiça, o sinal luminoso era para agarrar logo sem pensar duas vezes! A teoria dos jovens é de que o tubarão afundou o barco para comer o homem. Este tubarão, aparentemente, é um mastermind incansável: afundar um barco quando é muito mais simples alimentar-se de cardumes. Mas a verdade é que não fazemos ideia de onde apareceu este náufrago. O que sabemos é que o sinal luminoso podia ser decisivo para alguma embarcação os ver ao longe. Mais tarde eles acabam por tirar o colete ao cadáver porque uma das meninas insiste que não sabe nadar e precisa dele. Filha, se estás fora de pé, se consegues boiar, se não esbracejas e vais ao fundo, sim, sabes nadar! Tudo o resto é uma questão de forma física e resistência. Todos os nadadores, bons ou maus, vão precisar do colete para descansar.
Mas não se preocupem muito, mesmo com colete a miúda é comida, e mais uma vez os sobreviventes não aproveitam o colete! É frustrante de arrancar os cabelos.
Mesmo assim, este tubarão não larga a mota, sabendo que ainda lá há merendinhas. A certa altura dá uma dentada lateral na mota que apanha a perna de um deles. De outra altura dá um salto acrobático que os atira todos à água.
Isto foi já no dia seguinte e todos parecem em excelentes condições apesar de que por aquela altura já devessem estar bastante desidratados. Mas a parte mais idiota do filme é quando finalmente arranjam o motor. Foi a primeira coisa que tentaram e não conseguiram, talvez por causa da bezana. Mas no dia seguinte conseguem arranjar o motor logo à primeira! Grande sorte, putos!
Apesar disto tudo gostei de algumas coisas neste filme. Primeiro, que a culpa tenha sido toda deles (“isco de tubarão”). Neste género de filmes os personagens metem-se nestas situações absurdas devido a confiança a mais, ou a um pequeno erro que se prova fatal, ou a uma sequência de azares improváveis. Neste caso os miúdos estavam mesmo a pedir sarilhos, com ou sem tubarão. Segundo, geralmente é um género em que se evita mostrar a cena em que o tubarão come a pessoa. Aqui vemos claramente o tubarão a mastigar duas pessoas pelo tronco, como um sapo a mastigar um besouro. Não há gritos porque ao mesmo tempo as pessoas estavam a engolir água. Foi bastante perturbador e horrífico.
Por último, a melhor parte do filme é o final. Se “Shark Bait” passou o tempo todo a basear-se em clichés previsíveis e a aproveitar a estupidez/ignorância/bebedeira das personagens, o fim, por outro lado, é bastante tenso e angustiante. Só sabemos como acaba no último minuto. Gostei.

13 em 20

 

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