domingo, 4 de agosto de 2024

Annabelle (2014)

“Anabelle” foi-nos apresentada no início de “The Conjuring” pelo casal de investigadores do paranormal Ed e Lorraine Warren, pelo que é considerada um spin-off deste último filme.
Ao ler as críticas a “The Nun” tropecei em alguns comentários a “Annabelle” que não a pintavam em cores brilhantes, mas confesso que não foi por isso que já fui de pé atrás para este filme. Brinquedos possuídos lembram-me logo de Chucky, o Boneco Assassino, que não se consegue levar a sério. Chucky é para rir. Anabelle é para dormir. Tenho a certeza de que havia aqui um grande filme, mas não passa de uma catadupa de clichés previsíveis.
A acção acontece no final dos anos 60, início dos 70, quando Charles Manson e seguidores ainda eram um choque acabado de descobrir. Um jovem casal, John e Mia, espera o primeiro filho. Se antes deixavam a porta aberta, agora já a trancam quando saem de casa.
Admito que não gostei nada de Mia. John, o marido, é um estudante de Medicina que vai começar o internato e comete o erro de desabafar que se sente stressado com o início da carreira e a iminência de ser pai, deixando Mia tão ofendidinha a ponto de amuar. Mia é dona de casa. Passa os dias a coser à máquina, a ver novelas na televisão e a coleccionar bonecas sinistras. Mas é assim tão difícil de compreender o stress do marido a ponto de lhe chamar egocêntrico? Eu até o achei demasiado moderno para a época. Nessa altura era esperado que as mulheres tratassem da casa e dos filhos e que os homens ganhassem para a família. Mas o filme não tem nada a ver com isto (embora fosse interessante se tivesse). Isto é só o background.
John comprou uma boneca de colecção para oferecer a Mia (que virá a ser Annabelle). Porque é que alguém quereria ter em casa uma boneca tão horrenda também estica um bocadinho a nossa credulidade, mas enfim. Pouco tempo depois, os vizinhos de John e Mia são atacados e esfaqueados pela filha de ambos, Annabelle Higgins, e pelo namorado desta, ambos adoradores do Diabo. De seguida chegam a entrar em casa de Mia e ainda lhe dão uma facada, mas a polícia chega ao local e mata ambos. Annabelle Higgins morre agarrada à boneca e algum sangue pinga sobre esta.
Mia fica horrorizada e quer que deitem a boneca fora. É então que acontece a cena que todos já vimos: o marido a pôr a boneca no lixo, que forçosamente vai aparecer na casa deles outra vez. Mia e John mudam de casa mas a boneca chega lá também com as bagagens.
Mia começa a experimentar as assombrações do costume, vendo o fantasma de Annabelle Higgins, e começa a investigar. Uma bibliotecária explica-lhe que muito provavelmente não é um fantasma que a assombra, mas sim um demónio ligado à boneca, e que este demónio quer uma alma, muito provavelmente a alma mais pura da casa, a da menina que acabou de nascer.
“Annabelle” vai buscar coisas a “The Exorcist”, a “Rosemary’s Baby” e até a “The Omen”, e mesmo assim não acerta em nada. Tudo é previsível. Por exemplo, quando o padre se oferece para levar Annabelle da casa já sabemos que lhe vai acontecer alguma coisa (porque já vimos “este filme”) e de facto acontece. Eu estava a pedir a todos os santinhos: “Por favor não adormeças, isto já deve estar a acabar, por favor não feches os olhos”.
E então chegamos ao clímax, e o filme fez-me finalmente sentir alguma coisa, embora nada do que eu esperava. Claro que não vou contar, mas Mia já sabe que é um demónio que quer a filha dela. Enfurecida, pega na boneca, que por esta altura já estava negligenciada, desguedelhada e com os olhos raiados de sangue, e começa a espancar Annabelle desalmadamente. Foi de tal forma que de repente tive pena da pobre boneca que não tem culpa de estar possuída, que não tem culpa de ter sido criada horripilante, que não fez nada a ninguém. E foi assim que “Annabelle” me fez ter pena da vilã, o que não pode acontecer num filme de terror. Tudo estragado.
Existe uma cena boa. A certa altura, perante Mia, Annabelle levanta-se do chão sozinha e até se ergue no ar. Isto teria metido medo se durasse pouco e fizesse com que Mia duvidasse dos seus olhos, por exemplo. Mas não. Teve de aparecer um diabo chifrudo a espreitar sobre o ombro de Annabelle, o mestre da marioneta, como se nós não soubéssemos já que a boneca está possuída. Aliás, esta coisa de diabos a espreitarem por sobre o ombro já vem de “Insidious”, o filme que me pôs a rir às gargalhadas e que faz parte de todo este universo de James Wan (que não é o realizador de “Annabelle, note-se).
“Annabelle” não mete medo, fez-me ter pena da vilã, quase me pôs a dormir. A parte que gostei mais foi mesmo do ataque dos malucos satânicos, porque pelo menos pareceu um bocadinho policial. Como filme de terror “Annabelle” é um enchido previsível de clichés que já toda a gente viu.

12 em 20 (porque me fez sentir alguma coisa, embora não o que o realizador queria que eu sentisse)


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