sábado, 31 de outubro de 2020

O grande abanão

E porque logo é Halloween, aqui vai um post do diário pessoal do terror quotidiano, 100% Gotika™.
Transcrevo de seguida parte do artigo de opinião de Pedro Gomes Sanches, “Portugal: crónica de uma morte anunciada?”, publicado no Observador online a 25 de Outubro.
É sempre tão saboroso quando encontro quem diz tudo o que eu já ando aqui a dizer há 17 anos! Só é pena os mesmos não terem aberto os olhos mais cedo, e agora já é tarde para mim. Se calhar bateu lá à porta dele? Desculpem lá o cinismo, é o que tenho observado nestes 17 anos de blogosfera, desde o tempo em que eu dizia coisas destas e me mandavam para o psiquiatra porque estava “deprimida” (nunca lhes tinha batido à porta deles):

Era uma vez um país a empobrecer. Não a empobrecer por causa da pandemia, que apenas agravou e tornou indisfarçável esse empobrecimento, mas de antes, de mais de duas décadas sem rumo. Sem reformas. Não “um país” como construção abstrata, estatística, apenas captada nos números do PIB per capita cada vez mais distante da média europeia; nos números crescentes da dívida pública. Não. Um país de pessoas a empobrecer. Da angústia nunca mais debelada dos dias 20 a 30 de cada mês, em que se come menos e protela mais. Mês após mês. Ano após ano. Das famílias com passes sociais mais baratos, mas com pior serviço de transportes, cada vez menos frequente, cada vez mais cheio, cada vez menos pontual. De um país a morrer de envelhecimento, a debater-se com o encerramento das urgências pediátricas e obstétricas nos hospitais públicos mais próximos de casa, onde continuar a ter filhos é um misto de loucura e coragem. De um país com a maior carga de impostos da história, proclamações entusiasmadas de defesa do Serviço Nacional de Saúde, mas as primeiras consultas de especialidade e as cirurgias que não acontecem, penalizando cada vez mais os mais vulneráveis; que são também cada vez mais.

Era uma vez um país a perder liberdade. Não a perder liberdade em termos formais, que este país, em matéria de liberdade, sempre proclamou muito mais do que aquilo que concretizou. Mas a perder liberdade de facto. Famílias com menos oportunidade de escolha na educação a dar aos seus filhos. Casais com menos rendimento e maiores encargos, com menos infraestruturas públicas que impostos, sem horários nem apoios, impossibilitados de terem filhos. Trabalhadores sem expectativas de promoção. Empresários sem incentivo para promoverem. Jovens qualificados, hoje, sem expectativa de ganhar mais que mil euros, tal qual os seus antecessores nessa demanda há, pelo menos, 15 anos.

Era uma vez um país sem esperança que desistiu de si e do futuro. Não um país agarrado às grandiloquências do passado, das descobertas e dos “novos mundos ao mundo”. Mas um país sem qualquer visão de futuro. Nem tanto, apesar de também, um país demasiadamente ocupado em gastar no dia-a-dia o dinheiro que a União Europeia lhe envia há 35 anos, sem querer investir solidamente num futuro sustentável, sem qualquer aposta na sua emancipação. Mas um país em que os jovens qualificados só “lá fora” adivinham riqueza e mobilidade social. Um país cozinhado nos partidos políticos, com avenças e lugarzinhos para distribuir pelos leais, sem que a competência seja, vagamente sequer, critério. Um país de velhos abandonados pelos seus e pelo Estado no presente, agarrados a idealizações passadas mais felizes. Jovens sem expectativa de futuro, presos ao presente em casa dos pais de onde saem cada vez mais tarde. Um país tão desesperançado em si, que até o Primeiro-ministro, de um partido para quem a dívida pública nunca foi um problema, derrogou, não inocentemente, a possibilidade de recurso a empréstimos da União Europeia com condições muito favoráveis, simplesmente porque não acredita na possibilidade de retorno positivo económico do investimento que pudesse ocorrer com esses mesmos empréstimos.


Até aqui concordo com tudo. Excepto com a parte de jovens qualificados “sem expectativa de ganhar mais que mil euros”. Quais mil euros, ó pázinho? Onde é que se ganha mil euros, até já com experiência profissional de 20 anos? No meu tempo os jovens qualificados iam trabalhar para as empresas de borla, como estagiários, durante anos! Com os paizinhos a financiar.
Mas depois o autor estraga tudo, e revela a sua agenda política, quando diz: “Neste país manda o Governo mais incompetente de que há memória, pelo menos, desde o PREC.”
A memória do autor do artigo não pode andar muito bem, porque eu lembro-me de muito mais incompetência e, acima de tudo, de corrupção endémica e sistémica. Este é o governo mais incompetente desde o PREC? Não me façam rir. Isto não começou aqui nem ali, isto vem “de longe, de muito longe”, como diz a canção, e todos têm sido incompetentes e, acima de tudo, corruptos.
Este também foi o governo que se deparou com as maiores tragédias que tenho em memória no pós-25 de Abril (corrijam-me se falhar alguma), os incêndios de 2017 e a pandemia. Já nem falo da pedreira de Borba porque já é normal que de vez em quando caia uma ponte (Entre-os-Rios, 2001, 59 mortos), devido à inépcia e incúria na sua conservação (em Portugal o dinheiro tem sempre para onde ir menos para onde é importante, não se sabe já?).

Mas se pensam que estou aqui a defender o Costa, nem lá perto. O Costa anda numa deriva autoritária, não porque goste, coitado, mas porque o obrigam, porque se as pessoas fizessem o que ele quer o Costa não precisava de ser autoritário. (Não fui à procura do link para isto nem acho que precise. Toda a gente ouviu.)
O Costa precisa de um “abanão”, como ele próprio diz, assim tipo a polícia a mandá-lo parar na rua e a pedir-lhe os documentos que provem que é Primeiro-Ministro, porque é sempre muito agradável ser parado na rua, como um criminoso, para provar que vamos trabalhar, como se o simples facto de ir trabalhar não fosse já suficientemente desagradável. E já agora, ao Presidente da República também: “Mostre lá os documentos de Presidente, faxavor.”
Aliás, todos os partidos do “arco” estavam a precisar de um abanão, e tiveram-no quando lhes entraram pela porta dentro quatro novos partidos, algo impensável, por exemplo, quando comecei este blog. Eleger o Bloco de Esquerda lá para dentro já custou o que custou, digo eu que ajudei.
Aqui não me interessam as doutrinas, ideologias e filosofias dos novos partidos na Assembleia, mas apenas que foram eleitos. Interessa-me que houve um número significativo de portugueses que se fartou de votar com a carneirada e começou a votar nas alternativas que se lhe apresentaram. Portugueses que quiseram “ser a ovelha negra” (os leitores mais antigos lembrar-se-ão deste slogan do PSR). Portugueses que realmente deram um “abanão” aos partidos comodamente instalados a distribuir tachos pelos amigos, família, e negociatas ainda mais sórdidas.
Ainda se deve ter esperança, afinal, no povo português?

Quando é que são mesmo as próximas eleições?



domingo, 25 de outubro de 2020

“A Estranha Morte do Professor Antena”, de Mário de Sá-Carneiro, in “A Dança dos Ossos”

 

[contém spoilers]

“A Estranha Morte do Professor Antena” é o último conto de autores portugueses na colectânea “A Dança dos Ossos”. Tal como “A Confissão de Lúcio”, também de Sá-Carneiro, na antologia em ebook Dentro da Noute” que deu origem a esta edição em papel, “A Estranha Morte do Professor Antena” é a chegada à modernidade numa colecção de clássicos iniciada com “O Defunto” de Eça de Queirós.
Li “A Estranha Morte do Professor Antena” ainda na adolescência e devo confessar que fiquei perturbada. Enquanto que em “A Confissão de Lúcio” temos um surrealismo psicológico (a mulher que desaparece perante os olhos de Lúcio, será que ela existe mesmo ou não passa de uma manifestação da homossexualidade do protagonista?), cheio de segundos sentidos e simbolismos, “A Estranha Morte do Professor Antena” é uma história de terror. Mais propriamente, uma história de ficção científica de terror, embora a explicação científica nunca entre em pormenores, deixando as culpas aos apontamentos (convenientemente) incompletos do Mestre.
É difícil analisar este conto sem o spoiler logo nas primeiras páginas, o spoiler que, afinal, dá título ao conto. O Prof. Antena morre vítima do que é oficialmente um atropelamento. Mas só agora o seu assistente, e narrador da história, vem a público revelar o que realmente aconteceu. O Prof. Antena descobriu uma maneira de viajar entre dimensões paralelas, só que teve o azar de entrar na dimensão errada à hora errada. Algo dessa dimensão o trucidou como a alguém colhido por um comboio. Desde que li este conto nunca mais achei interessante andar por aí a viajar entre dimensões. Sim, foi um conto difícil de esquecer, por muito que a base científica que lhe dá origem peque por insuficiente. Para conto de terror, no entanto, chega e sobra.
Nesta segunda leitura, o que mais me impressionou não foi a morte chocante do Prof. Antena, mas antes a questão das dimensões paralelas. Esta história foi publicada em 1915 (compilação “Céu em Fogo”). Onde é que Sá-Carneiro foi buscar estes conhecimentos científicos? Lovecraft, no mesmo período, arranja maneira de explicar estas coisas com portais abertos por deuses e extraterrestres. Havia sequer hipóteses científicas nesta época sobre dimensões paralelas, pergunto eu que não percebo quase nada do assunto? Mas de repente Mário de Sá-Carneiro fala do Espiritismo, e, por muito que os cientistas de hoje esperneiem de nojo, basta ler “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, publicado em 1857, para ficar com uma ideia clara de vidas sucessivas em diferentes dimensões, até em diferentes mundos. E, de facto, o Prof. Antena não tenciona ir a uma dimensão “paralela” a esta em termos espaço-temporais; ele pensa que vai para uma dimensão da (sua) vida futura. O que difere da doutrina Espírita, se não estou em erro, é a questão de a vida futura poder decorrer em espaço-tempo simultâneo com a vida presente a ponto de ser possível atravessar de uma para a outra, como nas dimensões alternativas de ”The Man in the High Castle”. Mas outro livro de cariz igualmente espiritualista, “Conversas com Deus”, de Neale Donald Walsch, publicado em 1995, e com a Teoria das Cordas por base/inspiração, afirma que é bem possível que todas as dimensões, passadas, presentes e futuras, existam “agora” e que nós não tenhamos capacidade de as percepcionar. Rebuscado? A Teoria das Cordas também me parece rebuscada, uma coisa de ficção científica. Mas aparentemente há cientistas que trabalham a sério para a provar, bem como a uma Teoria de Tudo. Quem sou eu, ignara, para falar do que não sei?
Isto tudo para dizer que fiquei algo baralhada quanto ao conhecimento de dimensões espaço-temporais que haveria no tempo de Sá-Carneiro. Não era um bocadinho cedo para isto? Nesta altura ainda o Einstein andava a trabalhar na Teoria da Relatividade. Ter-se-á Sá-Carneiro realmente inspirado no Espiritismo?

Aceite a hipótese das vidas sucessivas e, de resto, preocupando-nos apenas com a de hoje e com a de ontem – onde se localizarão essas vidas, quais serão os seus meios?...
«Essas vidas existem sobrepostas, bem como os seus meios» – parece ter concluído o sábio. Unicamente os seres adaptados a uma vida, seriam insensíveis a outra. Assim não a poderiam ver, não a poderiam sentir, embora ela os trespassasse, os entrecruzasse.
(Citação do conto, mas de outra fonte que não “A Dança dos Ossos”.)


A nível espiritualista, acho tudo isto interessantíssimo. A nível científico é que não me interessa tanto. 
A escrita de Mário de Sá-Carneiro é a de um poeta e o seu estilo é tão único quanto a certa altura se torna cansativo. Principalmente as sinestesias e os galicismos, que aparentemente estavam tanto na moda que toda a escrita de Sá-Carneiro se agita* deles. (*Agitar, aqui, é um dos exemplos de galicismo que não devia aqui estar nem faz sentido em português.) É interessante na poesia, embora na minha opinião não deixe de ser batota linguística, mas permite-nos, pelo menos, experiências de dinamização da linguagem: umas que ficam, outras que se perdem. Mas esta linguagem em conto, especialmente quando lemos alguns contos seguidos, e neste conto em particular, não ajuda a criar o tal contexto de credibilidade que uma história de ficção científica de terror precisa. É claro que isto é a minha opinião de leitora do século XX-XXI, mas entretanto o terror escreve-se com uma linguagem mais próxima da realidade, exactamente para convencer o leitor a “acreditar”. Ao ler este conto eu lembro-me constantemente de que é um conto, e um conto escrito por um poeta, e a história perde muito do seu impacto por causa disso. Uma escrita mais científica e este conto seria perfeito. Mas, ressalvo novamente, isto é uma opinião de 2020, de uma leitora amante de um género que evoluiu para a excelência ao longo de um ou dois séculos. Mário de Sá-Carneiro ainda estava no domínio da experiência, de uma escrita “fora da caixa” para a altura, e aí é que está o seu grande mérito. Ademais, conseguiu que a história me perturbasse, sinestesias e galicismos à parte, e não é fácil perturbar uma leitora de Terror de finais do século XX.

“A Dança dos Ossos”
Mais algumas notas sobre a colectânea. Além dos contos já publicados em  “Dentro da Noute” – clicar na etiqueta abaixo para ver comentários a todos os contos portugueses presentes no ebook – a versão impressa inclui uma biografia resumida de cada autor antes do respectivo conto.
Saliento igualmente o excelente prefácio de António Monteiro, onde se debatem as origens da literatura fantástica em português e do género gótico em geral, de que já se falou aqui várias vezes.
Volto a expressar os meus parabéns pela iniciativa e a recomendar este livro a todos os que estão agora a tomar contacto com a literatura fantástica em português, bem como àqueles que a queiram recordar.
O design do Livro B, bem como as lendárias páginas azuis, vão certamente despertar nostalgias.
Para quem ainda não pensou nisso, eis aqui um excelente presente para as pessoas que gostam de literatura gótica. Mas não mo ofereçam a mim porque já tenho um exemplar. ;)


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Crítica ao conto "Miasma", de D. D. Maio - por o.chefdoslivros (Instagram)

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🍃Review “Miasma”🍃 Olá Booklovers hoje trago-vos um conto da Autora D. D. Maio “Miasma”. Este conto é uma continuação ao livro “Nepenthos” que irei ler brevemente dado a ter ficado fascinado com esta leitura, graças a @book.serotonin com quem fiz leitura conjunta e que me indicou a Autora. Agradeço desde já a @book.serotonin e a @katrina_a_gotika . - Gostam de leituras conjuntas? - Conhecem esta Obra? Foto e edição: Mário Silva©️ Neste Conto Temos Eric que acompanhado pela sua Prima ( creio que é uma Bruxa verde🤫) retorna ao seu Castelo pois pensa que este esta assombrado por uma força Maligna, por isso mesmo solicitou ajuda à Prima Hildegaard que prontamente embarcou nessa viagem. Ao que parece erros do passado assolam a alma de Eric e isso revela-se no seu Castelo. Adorei as Personagens contidas neste conto toda a atmosfera que o rodeia, a Autora cria no leitor um suspense e cativa com personagens marcantes como Eric e Hildegaard da qual eu gostei muito mesmo. Há romance e Drama neste conto com toda uma atmosfera Medieval. Viajamos na época da caça às Bruxas, às tradições pagãs e a toda uma Época Medieval e seus costumes. Mal posso esperar para começar a ler o “Nepenthos” e ir ao início conhecer o passado do Eric e da sua Prima Hildegaard. Eu gostei muito mesmo da escrita de D. D. Maio espero que vocês também venham a gostar, pois é cativante a maneira como nos embala na sua História. Nota:⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️/5⭐️ O livro está para venda no site da @bubokpt e quanto aos contos também estão por lá em versão ebook e o melhor de tudo são grátis. Só boas razões para adentrares neste mundo da Autora e da sua Obra. Ig da Autora @katrina_a_gotika para quem quiser dar uma força a mais uma Autora Portuguesa. * * * * #ochefdoslivros #bookserotonin #ddmaio #miasma #ebook #bubok #contos #livros #review #resenhaliteraria #opinião #autoresportugueses #literaturanacional #drama #suspense #medieval #bruxas #bookcomunity #bookstagramportugal #booklovers #amantesdelivros #grandesobras #portugueses #fatwoman writers

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domingo, 18 de outubro de 2020

Crítica ao conto "Miasma", de D. D. Maio - por book.serotonin (Instagram)

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🌫Review🌫 Olá livrólicos! Mais uma review por aqui, pois uma pessoa não aguentou esperar! Esta review é do "Miasma" de D.D.Maio! Miasma é mais um conto no mundo de "Nepenthos" e de "Solstício" e passa-se após o "Nepenthos" e antes de "Solstício". É tão bom voltar a acompanhar a personagem de Eric, o imperador, e de ver as pequenas pontes entre as 3 obras e como tudo funciona na perfeição! Para mim, foi uma nova autora que conheci este ano mas que já se tornou uma autora favorita e que, quero imenso comprar os livros em físico. Neste conto, Eric pede à sua prima para ir visitar o castelo, pois acredita que está a ser assombrado por algo a que chama de "Miasma". A prima, apesar de estar muito contra a lá ir, decide ajudá-lo, e é aí que tudo começa...mais não posso dizer. Na minha opinião este conto reforça imenso certos tópicos como o luto, a solidão, a tolerância, a culpa, como se tem que lidar com as consequências dos nossos actos, e a esperança. É um conto delicioso, com pitada de suspense que eu adorei. A escrita da autora é, na minha opinião, muito bonita, com um incrível equilíbrio entre a descrição e os diálogos e chega a ser melódicamente profundo. Tenho pena que seja, possívelmente, o último conto no mundo de Nepenthos, que seja a última vez que leio mais destas personagens e a última vez que recordo com carinho algumas das outras personagens, tal como Eric se recorda delas neste conto de forma tão bonita. Apesar de uma leitura breve, fiz esta leitura em conjunto com @o.chefdoslivros...a quem agradeço. Este conto está disponível em formato físico e ebook no site da @bubokpt , sendo o seu ebook (tal como o ebook de "Solstício")gratuito. 🌫 Gostam de contos? Qual o último que leram? . . . . . . . . . . #bookserotonin #bookstagramofportugal #bookstagramportugal #readmorebooks #review #bookreview #shortstory #shortstories #miasma #solstício #nepenthos #ddmaio #bubok #portugueseauthor #autoresportugueses #lowfantasy #lowfantasybooks #literaturaportuguesa #conto #contos #fantasiaportugal

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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Crítica ao conto "Miasma", de D. D. Maio - pelo autor Armando Frazão

Directamente do blog de Armando Frazão:


Miasma – Livro de D.D. Maio

Li este livro, de uma amiga escritora, há uns dias.

É um livro pequeno que se consegue ler de uma assentada. Nem por isso deixa de ter o seu toque de suspense, a sua dose de inesperado e revelação. Bom para nos aproximar das personagens deste universo criado pela autora nos 2 livros anteriores: Nepenthos e Solstício.
Cumpriu ou até excedeu ligeiramente as expectativas.

Podem encontrar mais informações e onde comprar ou fazer download neste link:

https://ddmaio.blogspot.com/2020/09/miasma-novo-conto-de-d-d-maio.html

Deixo-vos as palavras da própria autora:

Quando Eric desconfia que existe uma presença maligna no castelo, Hildegaard aceita visitá-lo para lhe assegurar que está a imaginar coisas. O que encontra apanha-a desprevenida. Mais difícil do que enfrentar uma entidade das trevas é assumir o conflito no seu próprio coração.

“Miasma” é um conto em Low Fantasy, dramático e romântico, com elementos de sobrenatural.

 

 

domingo, 11 de outubro de 2020

Dawn of the Dead / O Renascer dos Mortos (2004)


Não vi “Dawn of the Dead” mais cedo porque sempre pensei, pelo título, que este era o filme de 1978. Afinal é um remake, desta vez dirigido por Zack Snyder. Até parece que George A. Romero não teve nada a ver com este filme, apesar de ser mencionado nos créditos como escritor do original. O filme de 1978 é um clássico, mas na minha opinião tão mauzinho, comparado com o fantástico “Night of the Living Dead” (1968), que nunca me passou pela cabeça que quisessem fazer um remake.
Não sei o que teria pensado deste filme de 2004 se o tivesse visto na altura. É oficial, “The Walking Dead” estragou-me todos os filmes de zombies que já vi depois da série. A qualidade de “The Walking Dead” deteriorou-se, é verdade, e a série actualmente tem dificuldade em viver à altura das primeiras temporadas, mas essas primeiras temporadas foram tão marcantes, e deixaram uma mitologia tão bem estabelecida, que tudo o que se fez antes e depois me faz encolher os ombros.
Com a excepção do primeiro dos filmes, “Night of the Living Dead”, de 1968, a preto e branco, que ainda prefiro não ver sozinha porque aquilo é mesmo de meter medo.
Este “Dawn of the Dead” de 2004 é mais um para ver e esquecer. Primeiro que tudo, este foi um daqueles em que alguém achou que os zombies metiam mais medo se fossem mais rápidos. Isto deu em “zombies de corrida”, como já disse aqui mal suficiente em “World War Z”. Neste filme os zombies também correm e saltam (de esconderijos no tecto, ainda por cima) atrás dos sobreviventes. A certa altura parecia que estavam a ser perseguidos por um bando de gente enfurecida em vez de zombies. Ora, por alguma razão o filme de 1968 foi tão eficaz. Porque os zombies são lentos, aparentemente pouco perigosos e acéfalos, mas quando são muitos é que a porca torce o rabo. “The Walking Dead” percebeu isto desde logo, que o clássico é que era bom, e foi assim que se tornou um clássico também.
“The Walking Dead” foi buscar outra coisa à mitologia de “Night of the Living Dead”, e explorou-a. Todos têm o vírus, todos se transformam em zombies depois de mortos. Isto agora já me parece tão óbvio que fiquei desapontada quando neste filme de 2004 só os mordidos por zombies se transformam em zombies. Assim é muito menos perigoso. Em “The Walking Dead” não há mortos “seguros”. Todos têm de levar uma facada no cérebro, até amigos e família, para aumentar o drama.
Mas “The Walking Dead” foi buscar coisas a este filme também, em que uma meia dúzia de sobreviventes se refugiam num supermercado à espera que os venham salvar. Em frente ao supermercado há um prédio onde um jovem está a observar tudo do telhado, com binóculos, e a dar conselhos aos outros sobreviventes. Este jovem, não há volta a dar, pareceu-me o Glenn que salva a vida a Rick Grimes em Atlanta.
Por outro lado, “The Walking Dead” não esconde as suas influências. Em “Dawn of the Dead” os sobreviventes escrevem nas paredes: HELP ALIVE INSIDE. O que se torna, no hospital onde Rick Grimes acorda do coma, no enigmático:

DON’T DEAD
OPEN INSIDE

Já a deixar antever que esta não ia ser apenas mais uma série de zombies em que não era preciso pensar muito, como começava a ser expectável dos filmes do género pós-“Night of the Living Dead”.


Diria mesmo que o melhor que o remake “Dawn of the Dead” conseguiu foi dar ideias a “The Walking Dead”. De resto é um filme esquecível. Um filme até a querer mais ser um slasher do que um filme de zombies, como mostra a parte da serra eléctrica, completamente dispensável. Personagens estereotipados, alguns até pouco credíveis não obstante o estereótipo, os bons e os maus e os heróis, um enredo previsível. No fim, como num bom slasher, morrem todos à mesma, apesar dos grandes esforços para escapar, ou pelo menos é isso que se dá a entender. Mas a verdade é que não há aqui um único personagem por quem a gente se interesse, e aquele que ainda nos interessa mais já tem o destino traçado ainda antes da fuga final. Isto não é bom drama, nem o pretendia ser. Mas o público já estava preparado para mais do que isto, e “The Walking Dead” teve o mérito de ir explorar os personagens em vez dos zombies, a sociedade a desmantelar-se em poucos dias em vez das serras eléctricas. O público estava preparado para “The Walking Dead”.
Ver “Dawn of the Dead” agora parece-me um exercício injusto, um filme que mirrou à sombra de uma série que o suplantou. Recomendo apenas aos grandes fãs do género. A quem quiser ver um filme antigo de zombies que mete mesmo medo, recomendo “Night of the Living Dead” (1968).

14 em 20 (mais alguns pontos porque deu tantas ideias a “The Walking Dead”)



domingo, 4 de outubro de 2020

The Walking Dead [décima temporada]


[contém spoilers; não revela o final;
nem podia revelar porque, no momento em que escrevo, o último episódio ainda nem foi filmado]


E assim aconteceu que o apocalipse zombie durou tanto tempo que foi atropelado pelo apocalipse Covid. Mas não percamos a esperança. Já aí está o Covid. Talvez ainda venham os zombies.
Comecei a ver esta temporada sem saber que não tinham conseguido filmar o último episódio devido à pandemia. Curiosamente, quando acabou o penúltimo episódio também não me preocupei muito que não existisse o próximo. A qualidade da série melhorou, sim senhor, a olhos vistos, depois da saída de Scott M. Gimple (que foi estragar “Fear the Walking Dead”). Mas já tenho muita dificuldade em acompanhar o que se passa e, principalmente, em importar-me com as caras novas que só conheço há meia dúzia de episódios. Para fazer esta crítica estou a usar a cábula dos resumos dos episódios do IMDB, porque assim de repente nem me lembro de nada. Quando uma série atinge este ponto (e uma série que já foi inesquecível) é doloroso falar dela.
Pois a Michonne lá se foi embora também, o que não é um spoiler para quem acompanha as notícias em torno da série. Michonne não morreu. Simplesmente abandonou os filhos (Judith e o pequeno Rick Jr.) em Alexandria e foi atrás de uma ténue pista de que Rick possa estar vivo. Alguma vez a Michonne que eu conheço agiria assim, abandonar dois filhos no meio do apocalipse zombie? Mas nem pensar. A Michonne que eu conheço ficou enlouquecida quando o filho dela morreu. Não ia abandonar os filhos por uma pista obscura.
As personagens vão tendo flutuações de personalidade conforme o enredo (e os contratos) obrigam, e a certa altura até as personagens que já conhecemos há muito tempo começam a agir “out of character”. Isto cria um fosso, uma dissonância entre o espectador e as personagens, como se subitamente elas fossem possuídas por extraterrestres (mas menos interessante), em que já nem as reconhecemos. Este novo “Walking Dead” é uma série diferente, e até compreendo a necessidade de evolução, mas transformar as personagens numa coisa que elas não são arranca-nos a última âncora que nos agarrava à história. Hoje em dia vejo “The Walking Dead” e já não sei muito bem o que estou a ver.
Muitos problemas foram resolvidos com a direcção de Angela Kang, mas alguns dos mais irritantes persistem. O mais irritante de todos, julgo que é opinião unânime, é a mania de pôr os personagens a fazer coisas estúpidas para avançar o enredo.
Sim, as pessoas cometem erros e os personagens ficcionais não são diferentes, mas os acessos de estupidez momentânea dos personagens de “The Walking Dead” já são lendários. Desta vez calhou a sorte a Carol (uma das personagens mais respeitadas exactamente por estar sempre um passo à frente dos outros) de se comportar como uma imbecil. Isto porque perdeu o outro miúdo, Henry, a quem deviam dar um prémio qualquer por ter conseguido ser o personagem mais estúpido de todo o cast de “The Walking Dead”, e não apenas momentaneamente (o miúdo era constantemente imbecil). Mas Carol é uma personagem que já perdeu muito, que já perdeu tudo, e aguentou-se. Que não ia perder a cabeça agora, a esta altura do campeonato. Foi doloroso de assistir.
E depois temos Negan, uma batota completa. O Negan que nós conhecemos era um sociopata sem remorsos. Este Negan está cada vez mais bonzinho. Querem à força que a gente esqueça como ele esmagou à cacetada os crânios de Abraham e de Glenn com a Lucille. Aliás, já nem se fala da Lucille, para as pessoas não se lembrarem. E como se não bastassem os homicídios e a megalomania, ainda houve aquela vez em que ele queimou vivo um médico só porque desconfiou que este se andava a fazer a uma das suas “esposas”, “esposas” estas todas obrigadas a serem esposas de Negan, mercê de ameaças às famílias delas. E é este o personagem que querem reabilitar. Negan não tem redenção possível. A única vez que concordei com Carol nesta temporada foi quando ela disse: “O Negan também podia desaparecer”. Ah, se podia. Esta é que é a Carol que eu gosto. Admito que o Negan tenha uma qualidade redentora. Sempre foi bom com miúdos e adolescentes, o que se manifestou logo quando ele interagiu com Carl. Isto faz parte da personagem como ela nos foi apresentada. O resto é fabricação para ver se conseguimos começar a suportá-lo. (Ó Rick, para onde te levou a senhora da lixeira, que não vens enfiar um balázio na cabeça deste gajo?)
Pelo menos não sou a única que não esquece. Aaron e alguns outros habitantes de Alexandria também não esquecem. Negan só está vivo porque eles estão a honrar a “última vontade” de Rick, a quem julgam morto, de que Negan deve ser preso e não executado sumariamente, porque eles são “melhores do que isso”.
Estranhamente, Negan e Alpha foram protagonistas da cena de sexo mais explícita que já se viu na série toda. Uma cena pervertida como só podia acontecer entre Alpha e Negan, mas aconteceu. Até os vimos aparentemente nus, ao longe. “The Walking Dead” nunca quis perder tempo com isso, mas nesta última temporada temos algumas cenas de sexo, incluindo entre duas lésbicas. Definitivamente, a série está mesmo a mudar com uma mulher ao leme.
Por falar em sexo. Outra batota, o padre Gabriel. Onde é que este personagem é o mesmo que a gente conheceu na temporada cinco? Andar com a Rosita deve ter-lhe feito muito bem à auto-estima. O homem agora parece um autêntico Rick Grimes. Até manda e fala grosso.
E por falar em Rosita, que tem uma filha com Siddiq. O que aconteceu a Siddiq foi uma manobra bem orquestrada como eu já não via há muito tempo em “The Walking Dead”. Não estava mesmo à espera daquilo, se bem que o espião dos Whisperers me tenha parecido uma pessoa implausível de sofrer uma lavagem cerebral por parte da Alpha. Mas os Whisperers, percebemos nesta temporada, já não eram simplesmente um grupo de sobreviventes, eram acima de tudo um culto. E nós sabemos o que os cultos fazem à cabeça das pessoas, e aquela Alpha era sinistramente carismática, portanto até vou admitir que deu a volta à cabeça ao médico Dante.
A nível de choques, penso que o Siddiq foi mesmo o choque da temporada. Conseguiram que a gente gostasse dele (não havia muito para não gostar, tirando o facto de que foi praticamente responsável pela morte de Carl por causa de um disparate de matar walkers para respeitar uma crença da mãe de Siddiq de que matar zombies era libertar-lhes as almas). Conseguiram que tivesse impacto. Isto acontece cada vez menos em “The Walking Dead”.
Do mal o menos, o nosso Daryl continua o mesmo de sempre. O disparate de adulterar a personalidade das personagens consoante convém ao enredo ainda não o atingiu. (Mas temo que venha a atingir.) Algumas das melhores cenas são entre Daryl e Carol, os veteranos da série, a conversar e a fumar um cigarro e a mandar bocas um ao outro como nos velhos tempos. O que só nos lembra de como esta série era boa quando o núcleo de protagonistas era sólido e coeso, mas já não é nada disso.
Houve alturas em que tive de fazer um esforço para me lembrar de quem era aquela cara que ali aparecia, de tal maneira já nem sei quem é que está na série e quem é que já morreu ou se foi embora. Por exemplo, não me lembrava nada que a Enid e a Tara tinham morrido na última “leva”, na temporada anterior, de tão insignificantes se tornaram os seus papéis. (Ou se calhar foram as actrizes que pediram para sair.)
O penúltimo episódio podia chamar-se “O gato que traiu Alexandria”. Sim, houve um gato, e ficou muito mal explicado como é que o Beta percebeu que o gato significava onde estavam os sobreviventes. Boo! Má escrita! Devíamos ter visto que havia um espião exclusivamente designado para espiar o gato, e aquele gato, pela sua importância, devia ter sido um personagem mais desenvolvido. Por exemplo, qual é a relação do gato com a Carol, com o Daryl, com o cão do Daryl, Dog? Como é que o Beta sabe que o gato é amigo de Lydia? Ou será que não é? A Lydia falou do gato de forma tão ambígua que eu fiquei na dúvida. E o Negan, a quem a Lydia falou do gato, o que é que ele sente pelo felino? Despertar-lhe-á pesadelos com Shiva, a tigra, que em tempos lhe comeu bastantes Salvadores? Tudo mal explicado. Aquele gato nunca se tornou um personagem tridimensional. Mal o deixaram dizer um mio. Nem sabemos se o vamos ver outra vez. Oportunidade desperdiçada de mergulhar na mente do cão do Daryl e de aprofundar o conflito com o gato, cujo nome deve ser Cat.
E assim acabamos mais uma temporada de “The Walking Dead”, que não chegou a terminar, na paródia. Já não dá para ver de outra maneira. É aceitar ou procurar outra série. Mas os zombies de Nicotero continuam tão bons, é difícil parar de ver.

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Já depois de escrever este artigo li a notícia de que ”The Walking Dead” tem finalmente uma data marcada para acabar, lá para 2022 se a pandemia não atrapalhar. Talvez isto seja bom. Talvez a série desenvolva, agora que há um fim à vista. 
Também li por alto que estão planeadas mais spin offs, mas já houve tantos anúncios neste sentido, sem que se concretizassem, que nessas só acreditarei quando as vir.


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

“Correntes”, um conto de Patrícia Morais

Ada já tem problemas de sobra ainda antes de se cruzar com o sobrenatural. Vítima de violência doméstica, o seu grande objectivo é conseguir a custódia dos dois irmãos mais novos para os livrar dos maus-tratos de um pai desempregado e alcoólico que descarrega nos filhos as suas frustrações. Mas se a situação de Ada é má, as coisas ainda vão ficar piores. Crianças têm vindo a desaparecer na vizinhança e ninguém sabe o que lhes acontece.

O que gostei mais nesta história foi o lado humano. Todo aquele ambiente de violência doméstica é muito realista e eu já estava tão interessada no drama familiar que, por mim, não me importava que o conto nem envolvesse o sobrenatural.

Mas “Correntes” é um conto curto no género Fantasia Urbana / Sobrenatural / Young Adult, e é desta forma que deve ser lido. A acção é relativamente rápida e privilegiada em detrimento de um maior desenvolvimento dos personagens secundários (que me agradaria mais), mas a protagonista é bastante tridimensional. É muito fácil empatizar com esta personagem.
“Correntes” é uma história no universo da série começada por Patrícia Morais com “Sombras” e revela os acontecimentos que levaram Ada a ter contacto com a organização Diabolus Venator.

O conto encontra-se disponível a partir da página da autora: patricia-morais.com/livros