“A Aldeia Suspensa” é um livro de 2015 do autor Joaquim Semeano, que entretanto já publicou mais coisas.
Esta não é uma história no sentido tradicional, diria mais que é o sonho de uma história ou, melhor, uma história sonhada em que nem tudo tem de fazer sentido. Quase lhe chamaria Surrealismo, mas o surreal (ou até mesmo o Realismo Mágico) assenta numa base real que por vezes não se encontra aqui, pelo que prefiro chamar-lhe Irrealismo (se o género não existe passa a existir), obviamente inserido no grande espectro da literatura Fantástica.
Li o livro duas vezes, uma delas no mesmo dia porque é curto, e teria muita dificuldade em resumir a “história”. Existe uma aldeia “encantada”, por falta de melhor termo, onde aparece uma mansão (ou será castelo ou ruína?) que nem todos conseguem ver ou encontrar, pessoas e entidades que aparecem e desaparecem, seres do bosque ou gnomos (mas nada de infantil), personagens à procura da realidade ou da fantasia. Noto aqui muito das Mil e Uma Noites (tirando o fio condutor e inequívoco entre as várias histórias, que aqui quase não existe) e de uma abordagem filosófica nas personagens que andam à procura da realidade como da luz que dissipa as sombras na caverna de Platão. Não vou falar da bidimensionalidade das personagens porque claramente não são personagens propriamente ditas, humanas e de carne e osso, mas arquétipos: a Mulher Misteriosa (ou várias?), o Padre, a Cigana, o Feiticeiro, o Filósofo, o Neófito, etc.
As personagens são mais que muitas e passamos tão pouco tempo com elas que só desenhando um esquema conseguiria acompanhar as relações que as ligam, e nem mesmo assim porque não se compreende com suficiente clareza que cenas aconteceram no passado ou no presente. Não tenho bem a certeza se era mesmo o propósito, mas é o que acontece: algumas coisas percebem-se (mais ou menos), outras não. O que direi de Joaquim Semeano como autor (a quem eu não conhecia e de quem nunca tinha lido nada) é que é um escritor veterano com um excelente domínio da linguagem, dizendo exactamente o que quer dizer sem cair em indulgências de prosa poética em demasia, pelo que depreendo que é de propósito.
“A Aldeia Suspensa” não será o livro mais adequado para quem gosta de histórias no sentido tradicional, deverá ser antes encarado como uma experiência onírica que cada um interpretará como a imaginação lhe ditar. Tal como num sonho, tive de escrever esta crítica o mais depressa possível antes que o sonho se desvaneça. Não é o meu tipo de leitura mas gostei de variar.
Onde comprar: https://www.amazon.com/Aldeia-Suspensa-aventura-ilusão-Portuguese/dp/1507731345
Página do autor: https://joaquimsemeano.pt
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