Fiquei na dúvida se havia de fazer uma crítica a este filme, ou se fingir que não o vi. Continuo na dúvida, mas cá vai.
Não me lembro do filme de 1998. Vi, mas a única coisa que lembro é que Godzilla era uma fêmea. O que de repente fez todo o sentido. Claro que Godzilla é uma fêmea! Por isso vou-me referir a “ela” como tal. As críticas arrasam o filme de 1998, o que poderá explicar porque é que não me lembro nada dele.
Também demorei a ver este, porque no fim costumam matar o “bichinho”, que não tem culpa de ser grande e destruir arranha-céus e pisar pessoas como quem pisa formigas. Isto ainda me deixa mais nervosa quanto a ver o novo “Godzilla versus Kong” (2021) porque já estou a adivinhar que um dos “bichinhos” (ou mesmo os dois) vai acabar morto. Já me basta o que chorei quando mataram o King Kong original, não me apetece passar por isso outra vez.
“Godzilla” (2014) não começa mal. A primeira meia hora é um drama familiar em que Bryan Cranston (o Walter White de “Breaking Bad”), com aquele arzinho sonso que ele tem de que nem é um actor a sério, faz outro grande papelão com o material que lhe é dado. Cranston é um cientista obcecado com o acidente nas instalações nucleares onde ele e a mulher trabalhavam, que a vitimou. Para ele, não foi um acidente e o governo está a esconder alguma coisa. E está, mas não o que ele pensa. Entretanto, o filho dele, a que eu vou chamar o protagonista porque é uma personagem tão bidimensional que nem merece ir procurar-lhe o nome, é um jovem veterano de guerra que considera o pai um daqueles malucos das conspirações que devia deixar-se disso. Só que não é, e depressa os acontecimentos lhe dão razão.
O que causou o “acidente” foi um monstro gigantesco, alado e pré-pré-histórico, que se alimenta de radiação. Como se não bastasse, esse monstro tem uma fêmea ainda maior que está pronta a pôr ovos.
Nesse primeiro embate com os monstros, Cranston sai de cena. E curiosamente, quando ele sai de cena o filme torna-se chato (para mim, pelo menos) e regride aos clichés de filmes de monstros.
Do mal o menos, sai Cranston, entra Godzilla. Ou Gojira, como lhe chama o cientista japonês que não tem outro papel na história senão este. Mas depressa toda a gente começa a chamar-lhe Godzilla (viram os filmes anteriores, não foi?) e a chamar MUTO ao outro monstro, sem ninguém se dar ao trabalho de explicar o que significa. É que de facto não se percebe se os militares e os cientistas já conheciam Godzilla, e, se conheciam, se sabiam onde ela estava. Pergunta pertinente: onde é que ela estava? Mais importante, porque é que ela aparece agora?
O filme dá uma péssima explicação: porque Godzilla é o predador destes outros monstros. Errado. Godzilla nunca tenciona comê-los. Encontrei uma explicação melhor nas criticas que li, que Godzilla está a proteger o seu território de uma invasão de monstros que ia afectá-la. Ah, isso já faz sentido. Mas o sítio onde se explicar isto é no filme, não é nas críticas.
Quando Cranston saiu, o filme deitou o cérebro fora. Agora são só monstros a destruir arranha-céus e pessoas a fugir ou a ficarem esmagadas. Clichés que eu julgava que já não aconteciam em filmes modernos, acontecem: o protagonista está em todas as tentativas militares de travar os monstros, e morrem sempre todos, e ele é sempre o único sobrevivente. Sorte do caraças.
Uma pessoa já devia saber que isto não é um filme para pensar, muito menos para sentir. É um filme para encher o olho de efeitos especiais, arranha-céus a colapsar, aviões a despenharem-se, explosões a torto e a direito.
Mas enche o olho? Ora, o problema do filme é mesmo esse. Não enche. Muitas coisas estão bem conseguidas, como dar-nos a noção da verdadeira dimensão destes monstros. Mas há mais acção militar, bem filmada, sem dúvida, do que monstro contra monstro. E eu não estou a ver a Godzilla para ver comandos em acção, tenham paciência. Mais monstros, menos militares. Até porque todas as tentativas dos militares de destruir os monstros acabam por ser irrelevantes para a história e só lá estão, francamente, a encher chouriços. Se estas cenas fossem cortadas e aproveitadas num Rambo qualquer, não se perdia nada.
Chegamos então à acção que queremos ver. Os monstros. E aqui os efeitos especiais falharam porque são muito escuros e quase não se consegue ver nada. Eu tive de voltar atrás imensas vezes para tentar acompanhar. Um dos MUTOs comeu uma ogiva nuclear? Segundo as críticas, parece que sim, mas eu não consegui perceber bem. Sim, os militares tinham um plano para destruir os dois MUTOs e a Godzilla, os três de uma vez, com ogivas nucleares, mas os MUTOs comeram as bombas. Isto devia ter sido hilariante, mas o filme não conseguiu sequer isso. Ainda quanto aos efeitos especiais muito escuros, se perguntarem às pessoas que fizeram o filme, vão dizer-vos que foi de propósito, que era de noite e estava muito fumo e havia destroços no ar, que era para ser realista. Qual carapuça! O único efeito pretendido é esconder as imperfeições do CGI, como também fizeram com “Aliens versus Predador 2: Requiem”, outro filme em que quase não se vê nada, literalmente. Se a noite é um problema, que fizessem as batalhas de dia.
Assim, quase não se percebe o que está a acontecer durante os combates entre Godzilla e os outros monstros, das poucas vezes que de facto os vemos “pegarem-se”. Nem sequer percebi como é que um deles morreu, e mais uma vez foi a ler as críticas que tive a certeza do que me pareceu ter visto.
Em suma, não me encheu o olho e, pior do que isso, não me encheu a barriga. Pelo menos gostei do fim, o que já não foi mau de todo.
Este “Godzilla” é outro filme acéfalo que se deve ver tendo isso em conta. Daqui por uns anos também não me vou lembrar dele. Mas vou recordar com carinho a carinha ternurenta de Godzilla quando se julgava que era mesmo o fim do bichinho.
12 em 20 (menos pontos para os efeitos especiais por serem demasiado escuros)
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