domingo, 4 de maio de 2025

The Cellar / A Cave (2022)

 

Uma família de posses, pai, mãe, filha adolescente e filho mais novo, compram um casarão na Irlanda no meio de nenhures que mais parece um hotel. (A sério, porque é que uma família de quatro pessoas compra uma casa tão grande? Só os custos de manutenção – limpeza, electricidade, jardim – são um filme de terror.)
Curiosamente, a cave parece bastante pequena para uma casa tão grande: só espaço para meia dúzia de vassouras, duas estantes de vinhos e pouco mais.
Certa noite em que os pais têm uma reunião de trabalho e a filha mais velha, Ellie, fica a tomar conta do irmão, falta a luz em toda a casa. Num telefonema com a mãe, Keira, esta convence Ellie a descer à cave para ligar os disjuntores, indicando que são apenas 10 degraus e incentivando Ellie a contá-los um a um para não ter medo. Só que quando Ellie chega ao fim continua a contar, a contar, e desaparece na cave sem deixar rasto.
A polícia e o pai não dão muita importância ao desaparecimento porque Elllie já tinha fugido antes e voltava sempre a casa, mas a mãe suspeita que algo de muito diferente se passou desta vez.
Keira começa a notar coisas estranhas na casa, nomeadamente símbolos desconhecidos em cima de cada porta e uma equação misteriosa no último degrau das escadas da cave. (Eu percebi logo que os símbolos eram letras hebraicas. É muita Bíblia, meus amores, muita Bíblia! Quanto à equação, embora eu esteja convencida de que a matemática é obra do Demo, não faço ideia.) Outras coisas sinistras se passam na casa, nomeadamente falta a luz quando é mais necessária, existe um gramofone antigo que reproduz a equação e uma série de números, portas abrem-se para divisões onde não devia existir nada e o miúdo mais novo parece hipnotizado e tenta dirigir-se a elas, objectos movem-se sozinhos (como as contas de um velho ábaco que se deslocam de um lado para o outro), enfim, o costume numa casa assombrada.
Keira começa a investigar o antigo dono da casa, um tal de Dr. Fetherston, matemático, ocultista e alquimista, e descobre que toda a família do Dr. Fetherston também desapareceu em circunstâncias misteriosas. Keira procura a universidade do Dr. Fetherston e fala com o seu sucessor, Dr. Fournet, um génio matemático. Este não reconhece a equação mas identifica-a como parte de uma sequência incompleta. Também é ele quem lhe diz que Dr. Fetherston foi colega de Erwin Schrödinger (sim, o sádico do gato), e a partir daqui eu acredito que ambos andavam a tramar tudo o que é maléfico, maligno e malvado em geral. Mais tarde, o Dr. Fournet contacta Keira e informa-a de que encontrou outra sequência da equação numa casa belga, de onde igualmente desapareceu uma família inteira. Também é ele quem descobre que as letras hebraicas na casa de Keira formam a palavra Leviatã. O “grande Leviatã”, aqui associado a Baphomet, é um dos nomes bíblicos para o Diabo, mas eles só descobrem quase no fim do filme. (Muita matemática, pouca Bíblia, dá nisto.)
Quando finalmente Keira percebe que existe algo de maléfico na casa, mais propriamente na cave, já é tarde demais.
Há duas cenas arrepiantes neste filme pouco original. O disco do gramofone tem o poder de hipnotizar quem o ouve. A certa altura Keira encontra o filho e, mais perigoso ainda, o marido, completamente possuídos pela força maléfica que os quer levar para a cave e eu pensei num cenário tipo Amityville. A outra cena é a própria cave. Como disse a princípio, com as luzes acesas esta parece demasiado pequena para aquela enormidade de casarão, mas com as luzes apagadas os degraus parecem estender-se até um infinito de vastidão ameaçadora. É verdadeiramente assustador e eu não desceria aquela escada por motivo nenhum, especialmente por ser tão enganadora com a luz acesa.
“The Cellar” tem bastantes elementos para um grande filme de terror e obviamente que uma força demoníaca quer capturar aquela família (e outras), mas nunca chegamos a entender porquê nem para quê, o que não nos ajuda a perceber a história, se é que podemos falar em história se não existe um fim minimamente compreensível. O filme parece antes uma manta de retalhos (ou clichés) que são promissores de início mas que nunca se transformam num todo com cabeça, tronco e membros. Foi pena.

13 em 20

 

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