domingo, 30 de outubro de 2022

The New Pope (2019–2020)

[contém spoilers inevitáveis; aconselho a ver primeiro “The Young Pope”]

“The New Pope” é a segunda temporada de “The Young Pope”. Isto é confuso porque as temporadas têm nomes diferentes e a série não tem um título comum a ambas. O realizador Paolo Sorrentino já confirmou que haverá uma terceira, para nossa delícia.
No entanto, tenho de ser franca. Não gostei tanto desta temporada como da primeira, se calhar porque se perdeu o efeito de choque, ou porque os enredos e sub-enredos desenvolvidos não são tão interessantes. E por outra razão, que a princípio me desagradou e que pelo fim já me irritava: Paolo Sorrentino não perde uma oportunidade de mostrar nudez e cenas lascivas gratuitas sem o mínimo interesse para o desenrolar dos acontecimentos. Isto chama-se pornografia, ou soft-porno, e eu não tenho paciência para este tipo de “cinema europeu” a pisar o risco sem razão válida. Reparem que não me queixei da orgia em “The Young Pope” porque fazia muito sentido para a história e para as personagens. Aqui temos uma cena em que Jude Law está nu, de costas para a câmara, dentro de uma fonte vazia, ao ar livre, a contemplar as vestes papais. Não me importei de ver (o senhor está em grande forma para a idade), mas pergunto: porquê? Quem é que leva as vestes papais para uma fonte húmida, de aspecto musgoso? O objectivo foi mostrar o rabo de Jude Law para agradar à audiência feminina, da mesma forma que muitas mulheres são desnudadas para agradar à masculina, e isto é sinceramente mau. Graças a deus não vimos o cardeal Voiello despido, porque não me parece que seja uma visão agradável…
Não é que não tenha havido cenas absurdas e engraçadas. Por exemplo, não gostei da rave das freiras no genérico, que mais pareciam strippers de luxo a dançar à volta de um poste. Curiosamente, não havia freiras feias, nem gordas, nem velhas. Eram todas umas top models. Realismo nenhum. Isto parece-me mesmo um sonho erótico de Sorrentino e nada mais. A cena deveria supostamente salientar um dos sub-enredos da temporada, a revolta das freiras do Vaticano que exigem mais direitos, mas este sub-enredo foi tão mal aproveitado e tão depressa descartado que nem vale a pena falar dele. Não gostei da rave das freiras, verdade, mas foi uma delícia ver a madre-superiora (que é anã) a dançar em cima da secretária, ou o cardeal Assente a saracotear-se com todos os seus tiques de gay assumido.
Aliás, os créditos da série continuam a ser um dos pontos fortes. Quando fazem Jude Law emergir do mar, apenas em bikini-cueca de um branco imaculado que resplandece como uma luz divina a apertar as “jóias papais” e todas as mulheres na praia ficam de boca aberta a apreciar, foi giro. Foi sublime.
A série continua a apostar em efeitos especiais geniais e quase surrealistas, quase à David Lynch, e quanto a isto “The Young Pope” e “The New Pope” são das melhores séries do momento e imperdíveis para quem gosta de boa cinematografia.

O Papa gótico
Mas vamos lá ao novo Papa. Com a ausência de Lenny (Jude Law), foi preciso eleger um novo pontífice, e as maquinações de Voiello (hilariantes) levaram os cardeais a votar no pateta Tommaso, antigo confessor de Lenny.
Tommaso é um franciscano que assume o poder e decide viver na mais abjecta pobreza, dormindo ele próprio no chão, abrindo o Vaticano aos imigrantes muçulmanos, possivelmente sírios (causando problemas inclusive com as autoridades italianas), e tentando doar todo o dinheiro da Igreja aos pobres. Tommaso não dura muito. Morre subitamente de ataque cardíaco e desconfia-se que foi assassinado. Mas terá mesmo sido? A série responde mais tarde.
O próximo elegível é Sir John Brannox (John Malkovich), católico inglês da nobreza britânica (penso que os pais são duques), erudito e dandy, que após uma carreira fulgurante que o levou a converter milhares de anglicanos ao catolicismo se retirou para a propriedade da família onde vive em reclusão, principescamente, na companhia apenas do seu mordomo e da sua cadela. Tal como Lenny, Brannox tem uma tragédia na família. Enquanto esquiavam, o seu irmão gémeo sofreu um acidente e morreu. Os pais de Brannox culpam-no e não lhe falam, chegando a fingir que ele não existe.
Brannox é um choque. Sempre elegantemente vestido, usa rímel e reclina-se languidamente nas chaises longues do seu palácio. Quando fala, mesmo de assuntos teológicos, é sempre com filosofia, poesia e intelecto, o que explica porque é que é admirado. Só os intelectuais o entendem; as pessoas comuns acham que diz coisas bonitas”. Brannox é um homem anacrónico, o poeta solitário e melancólico do século XIX que foge do mundo que o magoa para o refúgio da natureza e da fortuna de família onde vive em contemplação. Quando era adolescente, vimos a saber, teve uma fase punk, mas acho que só faltou um “bocadinho assim” para ser gótico. Perguntamo-nos, o que é que um homem destes, um esteta e um filósofo, está a fazer na Igreja? Porque os pais assim o determinaram, como acontece na realeza britânica. Um dos filhos devia ter sido cardeal, Adam, o filho preferido, o que morreu. Na falta deste ficou John, e a sua extrema passividade levou-o a seguir o caminho traçado pela família. E não é difícil para um homem como Brannox dedicar-se à vida religiosa, se ele próprio é um eremita de natureza. Mas há mais mistério aqui, especialmente a existência de uma certa caixa secreta que ajuda muito a explicar estas opções (ou a falta delas). Esta temporada devia antes chamar-se O Papa Gótico, mas duvido que Sorrentino, pelas execráveis escolhas de soundtrack da série, saiba o que é gótico. Já Brannox, pela ligação ao punk, talvez até curta uns Sisters of Mercy ou uma Siouxsie. Agora fiquei muito curiosa.
Voiello e uma delegação de cardeais vão de propósito a Inglaterra para o convencerem a aceitar o papado, o que ele faz muito relutantemente e, suspeito, só quando lhe dizem que pode conhecer pessoalmente Marilyn Manson e Sharon Stone.
E não é que Marilyn Manson aparece mesmo (sinceramente tive de ir confirmar, mas é mesmo ele)? Manson é lá bicho de recusar aparecer ao pé de um Papa, a quem oferece um dos seus quadros sombrios (de que eu gostei, confesso). Tinha esperança de que oferecesse antes o álbum “Antichrist Superstar”, muito mais apropriado. Não percebo porque não o fez.
A conversa entre Manson e Brannox é hilariante. Manson, que não percebe nada de Papas, pergunta-lhe:
“Desculpe, mas julguei-o mais novo.”
Brannox: “Está a confundir-me com Pio XIII, que viu na televisão.”
Manson: “Ah! Então quem é o senhor?”
Brannox: “Eu sou João Paulo III.”
A conversa é mais longa, mas não quero incluir spoilers.
Sharon Stone (ela mesma) também visitou o novo Papa e pediu-lhe que aceitasse o casamento homossexual. Brannox acha que isso já é demasiado progresso de uma só vez, mas, para tentar evitar os escândalos sexuais com menores, tem a intenção de permitir o casamento dos padres. Infelizmente, e aqui nota-se que a série lançou mais ideias do que realmente concretizou, esta questão nunca foi levada adiante.
Entretanto, um grupo leal ao papa Pio XIII torna-se cada vez mais fundamentalista (e mais papista do que Pio XIII). Ao mesmo tempo, repetem-se ameaças de um califa muçulmano que chama Iblis (diabo) aos cristãos, possivelmente mais uma referência ao Estado Islâmico/Síria/refugiados. Quando acontecem atentados em Lourdes e até na Capela Sistina (matando a cadela de Brannox, o que o deixa inconsolável, um paralelo com o canguru de Lenny) todos julgam os terroristas responsáveis. Mas a verdade é bem mais sórdida.
Aliás, sordidez de todos os tipos é algo que não falta a “The New Pope”. Mas, numa apreciação geral, acho que a série andou muito perdida em vários sub-enredos que não levaram a nada, como se numa exposição de artes várias que não têm forçosamente de fazer sentido, enquanto que “The Young Pope” teve mais cabeça, tronco e membros. Uma excelente série, mesmo assim, que faz mais perguntas do que dá respostas.
Saliento a última homilia do Papa João Paulo III. Acreditem, fez-me chorar. Não apenas de lágrimas nos olhos, mas de lágrimas a correr pela cara abaixo.
Brannox não era realmente homem para ser padre, muito menos Papa, e gostei do fim feliz. Viva o novo Papa, que ninguém acreditará quem é se eu disser. Mas também não digo.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

 

domingo, 23 de outubro de 2022

The Unfamiliar / A Presença Maligna (2020)


Este é um filme de terror com algumas potencialidades, mas que se perde a meio. Uma militar chega a casa depois de uma missão no Afeganistão, onde é esperada pelo marido e os três filhos. Imediatamente começam a acontecer coisas estranhas, algumas que podem ser resultado de stress pós-traumático, outras que são tipicamente a acção de um poltergeist (objectos a voar, gavetas a abrir e a fechar, etc) ou o início de uma possessão. O marido consegue convencê-la de que todos estes fenómenos são resultados do stress e convence-a a passar umas férias no Havai, onde este estuda os mitos locais.
Até aqui o filme parece pouco original, até que surge uma reviravolta surpreendente a lembrar “The Skeleton Key / A Chave” (2005). Teria sido óptimo que “The Unfamiliar” acabasse aqui, quando estava bom, mas de repente o enredo perde o fio à meada e começa a deixar de fazer sentido. Se calhar mais do que em todos os outros géneros, um filme de terror tem de fazer sentido se nos quer convencer e arrepiar. Quando o espectador deixa de acreditar no que vê, o filme não consegue atingir o objectivo. Foi exactamente o que aconteceu aqui, quando o enredo deitou fora a lógica. Por alguma razão pretendeu-se chocar os espectadores com horror físico, e existe uma cena em que a mãe pede ao filho (criança) que se cubra todo de água a ferver! Esta é uma boa mãe, não uma dessas megeras inqualificáveis, mas acho que nem uma megera inqualificável era capaz de sugerir uma coisa destas ao próprio filho. No que é que esta gente estava a pensar?
Enfim, como disse, um filme com potencialidades que vão por água abaixo (quase literalmente, porque de facto há cenas subaquáticas).

11 em 20


domingo, 16 de outubro de 2022

King Arthur: Legend of the Sword / Rei Artur: A Lenda da Espada (2017)

Eu… Eu… Fiquei sem palavras.
O grande Mago Mordred ataca o reino de Uther e derrota-o. Arthur, príncipe herdeiro da coroa ainda criança, tem de fugir quando o seu pai Uther é morto e acaba a crescer num bordel… Espera! Pára tudo! Onde é que estão os tomates podres para atirar ao écran?!
Mordred não pode derrotar Uther porque quando Mordred nasce Uther já tinha morrido e Arthur já era rei, porque Mordred é o filho incestuoso de Arthur com a sua meia-irmã Morgana. Arrgggh!
Então que história é esta? A história do rei Arthur não é de certeza. Na verdade, tudo isto me pareceu mais uma versão de Spartacus do que outra coisa. As opções de storytelling também são tão extravagantes (para não dizer mesmo rebuscadas) que passei o filme todo a tentar apanhar o fio à meada.
Sinceramente, este foi um filme que me apeteceu apagar a meio, e ponderei mesmo se devia perder tempo a escrever esta crítica. Prometi a mim própria não gastar mais de 5 minutos com ela, e apenas para avisar os desprevenidos: filme mau, muito mau, evitem a todo o custo!
Como é que um actor como Jude Law se meteu nisto? Bem, é a tal coisa das contas para pagar. Coitado, mesmo assim consegue fazer um papelão numa história abaixo do seu nível.
E Morgana? Sim, Morgana, essa figura incontornável das lendas arturianas? Acreditem ou não, Morgana não entra no filme. O único avistamento de “Morgana” foi no início, mas o de outra “Morgana”, a de “Merlin”. Isto é, Katie McGrath, noutro papel (uma tal Elsa, qual Elsa?!) em que a vemos por menos de cinco minutos. Oh, porquê? É a tal coisa das contas para pagar.
O que me irrita solenemente neste tipo de filmes é que se aproveitam de personagens conhecidas e amadas para vender uma história que não tem nada a ver, só para lucrarem com os incautos que vão ao engano, e assim escarram e pisam nas lendas arturianas.
Mais do que evitar, este é um filme para odiar. Só para ver por motivos de estudo do que é um filme mau, mau, mau.
Fim dos 5 minutos.

8 em 20 (menos 1 ponto pelo insulto e menos outro por usarem as lendas arturianas para fazer dinheiro)


domingo, 9 de outubro de 2022

Black Summer (2019 - ?)

Finalmente percebi porque é que não gosto de super-zombies. Não gosto de zombies que correm mais do que eu. Não gosto de zombies que correm mais depois de mortos. Abomino zombies de idade avançada que correm mais do que gente nova. "Black Summer” foi baseado em “Z Nation” (a série, depreendo, que eu não vi) mas são os mesmos zombies de “World War Z”, de que já falei aqui. Se todo o conceito de zombismo é ridículo, uma idosa zombie de 70 anos a correr que nem uma atleta olímpica exige uma completa anulação da nossa incredulidade.
Mas nem sequer é por isso. Todo o horror do zombie é o cadáver putrefacto, morto e bem morto, cheio de vermes e musgo e lapas (se esteve no mar), a cair aos pedaços, que se arrasta lentamente na direcção dos vivos. O problema não é apenas um zombie (a não ser que esteja “muito fresco”), é uma horda deles a cercar os vivos sem deixar escapatória. Todo esse horror original do melhor filme do género , “A Noite dos Mortos Vivos”, se perde quando temos super-zombies a correr mais do que os vivos.
“Black Summer” sofre disto, mas sofre de mais coisas. Sabemos por uma personagem que passaram pelo menos seis semanas desde que o apocalipse zombie começou e os sobreviventes ainda não descobriram como se mata um zombie. Errado. Sobreviventes que não descobrem logo nos primeiros dias não são de certeza sobreviventes seis semanas depois. E cometem mais erros que já não são desculpáveis por esta altura. Fazem muito barulho, gritam sem motivo, usam armas de fogo a torto e a direito (chamando a atenção), entram em lugares que parecem seguros e deixam a porta escancarada atrás deles mesmo a pedir que os zombies entrem.
O que permite que ainda existam tantos sobreviventes é que há poucos mortos. Mesmo muito poucos mortos. Super-zombies deste tipo, em números semelhantes aos de “The Walking Dead”, já teriam exterminado tudo. É-nos dito que no princípio os militares bombardearam as cidades mais populosas. Também se tentou fazer isso no universo de “The Walking Dead” (a sinistra operação Cobalto) mas o número inexorável de novas transformações não permitiu que tal fosse muito efectivo. Em “Black Summer”, então, em que o zombie se transforma no segundo em que solta o último fôlego, muito menos seria viável. O uso de armas e os tiroteios às cegas, neste caso, sem o precioso tiro na cabeça, só faz com que se transformem mais zombies imediatamente e vindos de todos os lados. Seria impossível sobreviver a um apocalipse zombie assim. A maneira que os criadores usaram para contornar isto, lá está, foi a existência de poucos mortos. Assim, temos uma média de dois zombies para cada três vivos. Comparado com o mais realista “The Walking Dead”, é risível.
Aliás, “Black Summer” é uma boa série, não digo que não, mas jamais seria possível sem as bases que (o universo de) “The Walking Dead” estabeleceu. Por exemplo, aqui não é preciso explicar que toda a gente está infectada e se transforma quando morre. Não é preciso ser mordido nem arranhado, como nos filmes/séries anteriores. Esta foi uma originalidade de “The Walking Dead”, para o bem e para o mal a melhor série de zombies das últimas décadas. Da mesma forma, “Black Summer” não tem de explicar quase nada. Já vimos quase tudo o que se passa aqui em “The Walking Dead”, desde os poucos sobreviventes dos alvores do apocalipse até aos grupos armados em busca de recursos e pilhagens. Por exemplo, a mansão. Há um motivo pelo qual os personagens de “The Walking Dead” procuram abrigo em cabanas e celeiros abandonados, ou mesmo no meio da floresta. A mansão para onde estes sobreviventes foram era um chamariz de salteadores. Obviamente, dois grupos armados em luta para a ocuparem acabam por destruí-la de cima a baixo. Agora não há nada para ninguém. Também já vimos isto.
Queria falar da história, mas receio que a história seja praticamente a mesma com outros personagens. Se calhar mais acelerada e sem tempo para os desenvolver, porque mal temos tempo de lhes saber o nome. Os protagonistas vão morrendo em catadupas porque a série é curta.
Mas vamos então tentar começar pelo princípio, embora o post já vá longo. A série começa com uma família (os pais e uma miúda) a fugir de um bairro suburbano na direcção de camiões militares que estão a evacuar as pessoas para um estádio. Mas o soldado nota algo de estranho no marido e descobre que este está ferido, aparentemente com gravidade. Imediatamente o camião se vai embora com a miúda deixando os pais (e o resto das pessoas à espera de vez) apeados. Mesmo ao lado, uma mulher asiática é igualmente rejeitada pelos militares, quase sem notarmos. Trata-se apenas da “protagonista”, mas para perceber isto é preciso ver a série duas vezes. Já explico melhor. Entretanto, o casal foge para uma das casas evacuadas, onde o marido sucumbe ao ferimento e se transforma. É o primeiro zombie que nós vemos e é de meter medo. Mas ao mesmo tempo perguntamo-nos, seis semanas de apocalipse e Rose (a mulher) ainda não sabia que o mais provável era isto acontecer?
Durante a maior parte da série acompanhamos a viagem de Rose e Anna (a filha), bem como a de Sun (a protagonista coreana de que falei acima e que só sabe dizer duas ou três palavras em inglês, o que foi inteligente porque nos obriga a compreendê-la de outra maneira). Como dizia, é preciso ver a série duas vezes para apanharmos todos os pormenores. Muitos acontecimentos que vemos ao longe, quase a sair do écran, são outros sobreviventes importantes que se vão cruzar com os protagonistas. A série não nos dá tempo de respirar na sua rapidez alucinante. Raramente temos um momento parado ou de diálogo para ficarmos a conhecer as personagens. Quando isto acontece quase podemos encher os pulmões de ar. Mas sabemos que não vai durar muito tempo. “Black Summer” não nos quer deixar adormecer. Talvez até exagere na sua avidez de nos manter agarrados ao écran.
Esta é outra série de zombies que começa quando a sociedade já se desagregou. Até à data, apenas “Fear The Walking Dead” se atreveu a mostrar-nos o início, e muito de raspão antes de passarmos para o caos completo. (Deve ficar caro filmar ruas cheias de gente em pânico, deduzo eu.) Difere do universo Walking Dead pelos zombies e pelo passo acelerado com que se move, sem medo de nos deixar para trás. Talvez por isso nos envolva a outro nível com os personagens. Ou estamos alerta e os acompanhamos, ou ficamos pelo caminho. Quem fica pelo caminho não se safa.
Uma última nota sobre o título. Este Black Summer deve ser no Canadá, onde a maioria das séries são filmadas hoje em dia, porque os personagens queixam-se de muito calor ao mesmo tempo que trazem vestidas três ou quatro camisas, t-shirts e uma parka. Fez-me rir. Eles que viessem para cá que os zombies até derretiam.
Deixo os factos, recomendo aos apreciadores do género. Não vamos ver nada de original mas não é uma série que se deixe escapar.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 2 vezes (neste caso, é melhor mesmo ser vista duas vezes ou perdemos pormenores importantes)


domingo, 2 de outubro de 2022

Anacondas: The Hunt for the Blood Orchid / Anacondas: Em Busca da Orquídea Maldita (2004)

Já vos aconteceu estarem a ver um filme muito mau e a certa altura perceberem que já o tinham visto mas não se lembram, porque tão depressa se vê como se esquece? A mim acontece muito. É exactamente o caso deste “Anacondas: Em Busca da Orquídea Maldita” de 2004, ao contrário do que eu disse aqui quando fiz a crítica à sequela “Anaconda - Rasto de Sangue” de 2009. No meio dos dois descobri que há um “Anaconda 3 / Anaconda: Offspring” com o David Hasselhoff, de 2008. Será que vi? Já não digo nada.
Só me lembrei de que já tinha visto “Anacondas: Em Busca da Orquídea Maldita” quando o macaquinho vê a anaconda. Mas não se preocupem, podem ver à vontade, o macaquinho safa-se! Quem não se safa são as personagens mais ou menos concebidas de propósito para serem comidas sem chocar muito o espectador.
Uma equipa de uma companhia farmacêutica dirige-se ao Bornéu em busca da tal orquídea milagrosa que contém o gene da imortalidade. Como costuma acontecer nestas coisas, a maioria das personagens está mais interessada nos lucros do que na imortalidade propriamente dita, o que é bastante conveniente para se tornarem ração de anaconda. Aparentemente, uma vez que a orquídea faz parte da cadeia alimentar, nesta região recôndita as anacondas crescem em proporções gigantescas. Pior um pouco, a equipa chegou ao local exactamente na época de acasalamento das anacondas, o que os lança no meio de uma orgia ofídica. O resto adivinha-se.
Mas “Anacondas: Em Busca da Orquídea Maldita” não é tão mau, nem de longe, como a sua sequela “Anaconda - Rasto de Sangue”. Existem aqui momentos de tensão a sério, e diálogos com piadas que realmente são engraçadas, coisa que “The Witcher” quis fazer e não conseguiu. Não houve grandes esforços para dar mais tridimensionalidade às personagens porque ninguém está a ver este filme por causa delas. Estamos todos a torcer pelo macaquinho que não tem culpa nenhuma de ali estar, e é o que basta. De resto, queremos ver cobras e o filme dá-nos cobras. Não é caso para pedir mais.

13 em 20