domingo, 24 de abril de 2022

The Green Inferno / Inferno Canibal (2013)

[contém spoilers, conteúdo chocante]

O nome diz tudo. Um grupo de estudantes activistas parte para a Amazónia peruana para salvar a floresta e acabam comidos por índios canibais. Basta dizer que o realizador é Eli Roth, o mesmo de “Hostel”, para se ter uma ideia do nível de sangue e tripas que se pode esperar disto. É chocante, mas quem assiste a “The Walking Dead” está mais do que habituado a ver gente comida viva. As outras pessoas não devem ver isto de maneira nenhuma.
Se o filme fosse só isto, um filme de terror com muito gore para chocar e causar repulsa, se calhar a crítica ficava por aqui ou nem havia crítica. Mas depois o filme mete-se em questões éticas bizarras, armado em filme sério, e espalha-se completamente ao comprido.
Por onde começar? Estes activistas querem salvar a floresta porque várias companhias petrolíferas descobriram gás no subsolo e preparam-se para arrasar tanto a floresta como uma aldeia indígena sem contacto com a civilização. O plano das companhias petrolíferas é ir lá e matar os índios todos. Bem, as coisas não se passam assim. As companhias petrolíferas falam com os governos e são os próprios governos que lá vão desalojar os índios. A premissa de que estes índios nunca tiveram contacto com a civilização também me parece completamente absurda. No século XXI até os índios da Amazónia têm um smartphone e podem muito bem estar a ler este artigo. Os “índios peruanos” aqui retratados vivem numa suposta “bolha” isolada, mas por outro lado estão a par dos mercenários das companhias petrolíferas que os querem eliminar. Então, em que ficamos? Têm contacto com a civilização ou não têm?
A tribo não é apenas canibal como também extremamente sádica. Aqui vai um spoiler, mas tem de ser. Não se limitam a matar a primeira vítima (o activista mais gordinho, claro). Primeiro arrancam-lhe um olho, depois o outro. Depois a língua. Depois cortam-lhe uma perna, depois a outra. Depois um braço, depois o outro. Só por último lhe cortam a cabeça, enquanto o desgraçado ainda está consciente. O torso, qual peito de peru gigante, vai então ao forno para assar. Os outros activistas assistem a tudo, presos numa gaiola igual à das galinhas e dos porcos. (Eu disse que não é para toda a gente. Por outro lado, talvez muita gente veja isto e se torne vegetariano, e o filme já terá servido para alguma coisa.) Toda a aldeia está decorada com cabeças cortadas e partes de corpos em decomposição, supostamente todos os estranhos que a tribo consegue capturar. Mais tarde até somos informados de que os mercenários sabem disto, o que significa que o governo também sabe. Melhor desculpa para acabar com esta tribo, seja de que maneira for? Não estamos nos séculos de obscuridade. Até as ditaduras são regimes de lei e ordem. Os índios são cidadãos do país a que pertencem, não vivem à margem da lei. Assassinos e criminosos vão para a cadeia, não se deixam à solta. As crianças são tiradas aos pais. Não havia qualquer necessidade de agir furtivamente, com mercenários e tudo. Bastava ir lá a polícia. Qual multiculturalismo qual caraças. Assassinos não têm direito a multiculturalismo. Neste aspecto, o contexto de “Hostel” é muito mais credível, tendo em conta que as máfias de Leste traficam pessoas para fins vários. Neste filme, o contexto é implausível. Mais valia terem usado a ideia das companhias petrolíferas como desculpa para os activistas irem para a selva, e nunca mais falarem do assunto. Que fosse apenas um filme de terror, sem ambições de pensar muito.
O fim é completamente ridículo. Alguém sobrevive (não vou dizer quem), e em vez de denunciar como todos os outros foram massacrados, pelo contrário, diz que os índios são amigáveis e que os trataram muito bem. Momento WTF?!
Então eu explico: a alminha acha que para salvar a floresta é preciso gerar empatia para com os índios (estes mesmos índios). O que é um momento em que o dito cujo não tem nada a ver com as calças. Como diria o outro, uma coisa é uma coisa. Proteger selvagens canibais é outra coisa completamente diferente. Acabei o filme a pensar: mas o que é que eu acabei de ver, qual é o argumento que o realizador quer estabelecer? Porque isto não tem pés nem cabeça (o que é consentâneo, afinal, com o conteúdo canibal). Há pessoas que deviam dedicar-se ao que fazem bem, porno-tortura, e não se meterem em coisas que não percebem. Tudo isto foi tão completamente estúpido que não posso dar mais do que a nota abaixo. Não recomendo este filme a ninguém, nem aos amantes da porno-tortura, não por causa dos canibais, mas por causa da estupidez. Por outro lado, este é daqueles filmes que convém ver para não nos esquecermos do que é um filme mau, muito mau.

10 em 20 (nota meramente técnica, o resto não vale nada)

 

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