O filme começa quando Herman Melville (futuro autor de “Moby Dick”) procura o último sobrevivente do estranho naufrágio de um baleeiro. O objectivo? Melville está obcecado pela baleia que terá afundado o navio, embora a versão oficial diga que o baleeiro encalhou. “Receio que se não escrever esta história nunca mais consiga escrever nada na vida, mas receio mais, se a escrever, não a conseguir escrever bem”, confessa o escritor ao antigo marinheiro, agora de idade avançada. Muito traumatizado, a princípio o sobrevivente recusa-se a falar do assunto. Só a pressão da esposa para que aceite as moedas que Melville oferece (e para que o marido finalmente desabafe) o faz finalmente contar.
“Não há nada de especial nesta história. É a história de dois homens”, relata o sobrevivente, que na altura da viagem malograda era ainda um rapaz de 14 anos.
A história que ele conta é a mais velha do mundo: um marinheiro experiente, mas de família humilde, julga que será desta vez que vai conseguir ser nomeado capitão, quando é ultrapassado por um novato de boas famílias. Uma história bastante conhecida, infelizmente, e que tem sempre os seus méritos quando é contada. Mas uma história vulgar quando de repente surge uma baleia branca de 30 metros que dá uma lição de humildade a quem se julgava amo e senhor da Natureza.
No século XIX, e o filme explica bem o contexto, o óleo de cachalote era necessário para tudo, desde a indústria à iluminação das ruas. Isto levou à caça excessiva que quase extinguiu o cachalote (e nós aqui fomos bem culpados).
Este filme lembra-me um pouco “The Terror” porque também é um conto de húbris, de arrogância e ganância perante a Natureza. Quando já não havia cachalotes nas águas conhecidas, o capitão do baleeiro aventurou-se pelas desconhecidas. Encontrou cachalotes, sim, e a baleia branca descomunal que atacou e afundou o barco. O filme não tentou dar à baleia sentimentos de “vingança” irrealistas, apenas reacção ao que já sabia ser um inimigo mortal. Toda ela foi arpoada muitas, muitas vezes, e escapou. É claro, eu estava a torcer pela baleia. Bem feita!
Os poucos sobreviventes têm de recorrer aos horrores dos náufragos, a “lei do mar”.
Gostei desta adaptação de “Moby Dick”, mais realista e ecológica. Esta vertente moderna acaba com ironia, quando um dos personagens diz que descobriram o petróleo, logo, já não era preciso matar e morrer no mar pelo óleo de baleia. Ou seja, da exploração de um recurso finito para outro. Recomendo vivamente.
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domingo, 13 de fevereiro de 2022
In the Heart of the Sea / No Coração do Mar (2015)
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