domingo, 6 de fevereiro de 2022

The King in Yellow, de Robert W. Chambers

Esta foi uma das minhas leituras mais decepcionantes dos últimos tempos. O título do livro devia ter sido antes “The King in Yellow and Other Stories”, e a decepção não seria tanta.
Chambers começa muito bem, com uma série de contos à volta de um misterioso livro (“The King in Yellow”) que supostamente levaria os leitores à loucura. Com “passagens” do livro e tudo. Daqui, o leitor é inclinado a esperar um horror cósmico do tipo Lovecraft, só que foi ao contrário: Lovecraft é que se inspirou em Chambers, seu antecessor.
A primeira história é muito boa. O personagem principal é o típico “narrador não confiável” (parece que Chambers foi dos primeiros a fazer isto) e à medida que o conto decorre apercebemo-nos de que estamos a ler as palavras de um doido varrido e nada do que ele diz é de acreditar. O que sabemos ao certo é que este personagem, depois de ler o livro “The King in Yellow”, está completamente convencido de que é herdeiro indirecto do trono dos Estados Unidos da América. Sim, leram bem. Só que para complicar as coisas na mente desta alminha, o herdeiro directo seria um seu primo, primo este que não faz a mais pequena ideia de que tem direito à coroa dos USA. Deste modo, o personagem principal decide que o primo (o herdeiro) tem de morrer para ser ele o rei.
O segundo conto também é muito bom e uma história de terror arrepiante. Um escultor (que também leu “The King in Yellow”) inventa um líquido que transforma coisas vivas nas mais belas “esculturas”: uma rosa, um coelho… Só que têm de ser imersos no líquido ainda vivos. O que é horroroso!
Mais uma ou duas histórias à volta do perigoso livro e… e depois o autor “esquece-se” do tema, e as histórias seguintes já não têm nada a ver com “The King in Yellow”. Foi aqui que me questionei retoricamente se ainda estava a ler o mesmo livro, que veio do Projecto Gutenberg. Não, não é erro de edição, é mesmo assim, e o título é mesmo este. Continuei a ler na esperança de que no fim todos os contos estivessem interligados, mas na verdade não estão. O livro é mais uma antologia do que outra coisa. Mas como o título não o diz, tenho o direito de me sentir defraudada. Por exemplo, os últimos contos são histórias vulgares sobre as vidas de privilégio de alguns estudantes de pintura em Paris. Nem vou falar das descrições exaustivas da cidade, porque naquele tempo escrevia-se assim. (E ainda bem, porque à data de publicação, 1895, não havia o benefício da imagem que temos hoje em dia. Muitas vezes estas descrições na narrativa de ficção são um autêntico documento histórico, aborrecidas que sejam de ler, especialmente para o leitor moderno.) São contos realistas ao gosto da época, que me lembraram das deambulações dos personagens de Eça de Queirós. Mas nada de sobrenatural, muito menos de terror, e nada mesmo de “The King in Yellow”. Parece que o autor não se conseguia decidir sobre o que queria escrever, ou que abandonava as ideias quando se fartava delas. Aliás, como na sua própria vida.
Se valeu a pena? As primeiras histórias são boas e tudo vale a pena se inspirou H. P. Lovecraft. Mas não chegou para me convencer.

 

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