Os Siglo XX são uma banda belga formada em 1978. Uma banda que só descobri graças, mais uma vez, ao festival Extramuralhas do ano passado. Não posso dizer que nunca tinha ouvido falar deles, porque afinal até tenho um tema dos Siglo XX na compilação “Fuck Yeah Goths Mix One” (2010), mas simplesmente não lhes tinha prestado a atenção que merecem. Desde o Extramuralhas 2019, que lhes descreve o género musical como Coldwave, Gothic Rock, Darkwave e Post-Punk, fui finalmente aprofundar a discografia desta excelente banda. E fiquei perplexa de como é que me passaram ao lado este tempo todo. Mas mais vale tarde do que nunca.
Um dos motivos para isto, suspeito, é que a música dos Siglo XX não é exactamente dançável (pode ser, mas é mais para ouvir do que para dançar, no meu gosto pessoal) e passa muito discretamente no meio de outras bandas do mesmo género. Não é banda em que se repare numa disco ou bar, por exemplo, enquanto se conversa com amigos.
Às vezes os temas lembram-me Joy Division, outras Bauhaus, outras ainda Siouxie and The Banshees, e Sisters of Mercy e Nick Cave do início, e até Dead Can Dance do primeiro álbum. Como é que é possível perdê-los?
Os Siglo XX fazem um som subtil e envolvente, com letras fortes e sombrias, que merecia ser mais conhecido. Recomendo que os vão já descobrir se eles também vos passaram ao lado.
domingo, 27 de dezembro de 2020
Siglo XX, ilustres desconhecidos
domingo, 20 de dezembro de 2020
O fantástico som Pioneer
Deixem-me contar-vos a história de como me apaixonei pelo som Pioneer.
Mas antes, deixem-me dizer-vos que este post não foi de forma alguma patrocinado pela marca. Este é um post de amor. E um post que já devia ter escrito há muito tempo, mas que foi ficando para “depois”.
Nos anos 80 e 90, quando eu despertei para a música, comprar Pioneer era impensável. Era uma marca cara, inacessível a gente que ainda andava na escola. Habituei-me a comprar Sony, que naquele tempo era a marca que oferecia melhor relação preço/qualidade.
Aqui há uns anos valentes, o meu amplificador Sony deu o berro e dirigi-me a uma loja para comprar outro. Foi aí que tive a sorte de os Sony estarem esgotados e de ver um amplificador Pioneer ao mesmo preço. Como tinha pressa (viver sem música não é uma opção), comprei o Pioneer. Mas não estava convencida. Achei que era um produto abaixo do Sony, para bolsas pobres.
Quando cheguei a casa e experimentei, foi como pela primeira vez ter ouvido o som do paraíso. Límpido, cristalino, um som em que se percebem todas as palavras cantadas e todas as subtilezas instrumentais, mas ao mesmo tempo potente, forte, com uma batida de nos fazer estremecer. Eu nunca julguei que as duas coisas fossem possíveis. Em amplificadores deste preço, tudo isto é uma amálgama de ruído. Sei-o agora porque já ouvi o som como ele devia ter sido sempre ouvido, a preço acessível.
Fiquei completamente apaixonada pelo som Pioneer e grata por a marca ter finalmente decidido competir com a concorrência preço/qualidade. E o amplificador tem durado tanto que já nem sei quando o comprei. Nunca os meus aparelhos anteriores duraram tanto.
Quando foi a altura de substituir os meus auscultadores, experimentei uns Pioneer também, não muito mais caros do que uns Sony. E como é que eu posso descrever esta experiência? O som límpido e forte do amplificador ficou ainda mais forte e límpido com os headphones. É de viciar um melómano.
Desde aí tenho comprado auscultadores da gama SE-MJ500, destes que mostro na imagem, que são leves e cómodos e dobráveis (mas eu não os dobro para não desgastar), e com uma potência e sensibilidade superior a todos os outros que experimentei antes. Recentemente tive de comprar novos headphones e apercebi-me que muitos destes modelos foram descontinuados, o que é pena. E se calhar é isso que me faz agora escrever este post atrasado.
Consegui mandar vir (de Espanha!) o modelo SE-MJ512, On Ear (mas como tenho orelhas pequenas faz o efeito de Over Ear e são muito mais leves), um modelo com uma qualidade de som superior a alguns da mesma gama que se lhe seguiram e que também experimentei. E mesmo assim os de qualidade inferior superavam, largamente, qualquer outro headphone em preço/qualidade.
Vou ficar fiel à marca até esgotar todos os exemplares disponíveis. Foi bom, mas não sei se vai continuar. O único defeito destes auscultadores são os fios, finos e pouco resistentes, que se enrolam facilmente e começam a fazer mau contacto. Se não fosse isso não seria preciso substituir os headphones tão frequentemente. Assim, para uma utilizadora intensiva como eu que os usa umas 12 horas por dia, só duram dois anos com sorte. Mas como não são caros, nem considero um problema. Valem muito bem o preço. Ainda fica mais barato do que muitos auscultadores de 100 euros e mais que se calhar duram o mesmo tempo.
Como disse, este post não foi patrocinado, mas se a Pioneer passar por aqui e me quiser oferecer uns headphones como agradecimento pela publicidade gratuita, o meu email está ali ao lado. E quem diz headphones diz outros aparelhos ao critério da marca. Meus amigos, aceito tudo e ainda faço crítica!
Link para os Pionner SE-MJ512 aqui, com todas as especificações e modelos.
domingo, 13 de dezembro de 2020
Perdidos (2017)
“Perdidos” é a versão portuguesa do filme “Open Water 2: Adrift” (2006). Seis amigos embarcam num iate e decidem dar um mergulho no oceano. Mas o dono do barco, irresponsável, esquece-se de descer a escada. Agora as pessoas na água não conseguem escalar o barco. A escapadinha entre amigos transforma-se em tragédia.
“Perdidos” é de tal modo a “tradução” do filme original que, tendo gostado do segundo, também tenho de gostar da primeira. É quase tudo igual. As únicas referências à cultura portuguesa são Porto Santo (de onde partem) e a canção de Sérgio Godinho “O Primeiro Dia”. De facto, logo ao chegar, um dos personagens vai trauteando a canção, com o conhecido refrão “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”. Achei esta utilização do clássico demasiado óbvia (dentro de um dia ou dois o personagem está morto) e não vejo nada de literal na canção de Godinho para a trivializar assim, apenas como presságio num filme de terror. Ainda por cima um filme de terror que já toda a gente viu. Sinceramente, não gostei.
Tem-se colocado em questão a própria necessidade de filmar este mesmo enredo em português, tendo em conta que “Open Water 2: Adrift” é bastante recente, e este filme já é o aproveitamento do sucesso de ainda outro filme, igualmente uma tragédia no mar, “Open Water” de 2003. (Ora aqui está algo que eu só descobri a pesquisar para este artigo. Os dois filmes originais são perfeitamente autónomos, também não percebo porque é que quiseram relacionar os títulos.) A melhor explicação é que a costa portuguesa tem o cenário perfeito para o filme (fica barato nesse aspecto), e somos um povo de velejadores. Tudo bem. Mas podiam ter inserido algo mais original, ou da nossa cultura ou a nível das personagens ou do próprio enredo. Eu, pelo menos, esperava esse toque de originalidade.
Por falar nas personagens, confesso que estas vão ser menos esquecíveis para mim do que as do filme original, que ainda eram mais bidimensionais. O jovem casal com o bebé em plena crise conjugal, o ex-namorado que tem dinheiro e é um “merdas” (epíteto que lhe dão no filme e que não podia ser melhor escolhido), a namorada deste (que não tem nada a ver com os amigos dele), e os dois amigos “fixes” que podem ou não estar num relacionamento. Não falta aqui conflito e o filme sabe explorá-lo como deve ser. Tal como no original, o que aconteceu a estes “portugueses” é perfeitamente realista, principalmente com o conflito à mistura. Logo, tenho de gostar.
Há um problema técnico com este filme, que é o som. Não preciso de ser grande especialista para o identificar. Não percebi a maior parte do que eles diziam, especialmente o personagem Vasco (mas os outros também), e muitas vezes dei por mim a olhar para o rodapé da televisão à procura das legendas. Isto tornou-se mais frustrante nas partes mais tensas. Por exemplo, quando o merdas pega na mulher que tem fobia à água e se atira com ela para o mar. Ele diz-lhe alguma coisa, mas escapou-me. Era interessante saber que justificação é que ele lhe está a dar. Assim foi como ver uma cena de filme mudo.
Outra coisa mal explicada é a presença da faca dentro de água. No filme original esta questão não se me pôs, o que significa que a presença da faca foi explicada ou mostrada de forma tão natural que eu não achei estranho. Aqui não, e perguntei-me “de onde raio saiu a faca”?
Também há uma cena de micro-segundo, no fim do filme, em que se vê que a escada é accionada, mas isto foi tão rápido que já li algumas críticas a dizerem que perderam este pormenor. Confesso que tive de voltar atrás e rever, e se não tivesse visto o filme original se calhar também não percebia.
Gostei da última cena, longa e focada nas reacções faciais da sobrevivente, um bocado mais na linha da tradição cinematográfica portuguesa. Nunca ninguém me vai ouvir elogiar cenas demasiado longas, mas acho que aqui fez todo o sentido. Foi um toquezinho de classe à filme europeu que me agradou bastante neste contexto. Pena ter sido o único.
14 em 20 (não posso dar mais porque o filme é uma cópia)
domingo, 6 de dezembro de 2020
Silence / Silêncio (2016)
Que grande filme! 20 em 20.
“Silêncio”, a adaptação do romance homónimo do autor católico Endō Shūsaku, é um regresso de Martin Scorcese ao tema de Deus e da fé que tornaram “A última tentação de Cristo” um filme tão controverso.
Dois padres jesuítas portugueses, Rodrigues e Garupe, partem para o Japão do século XVII onde se trava uma cruel perseguição aos cristãos. Rodrigues e Garupe são informados de que o seu mentor, o padre Ferreira, missionário no Japão, tinha cedido à tortura e apostatado contra a fé cristã, mas não conseguem acreditar e pretendem encontrá-lo nem que para isso tenham de arriscar as suas vidas.
O perigo é muito real assim que põem o pé no Japão. Guiados por um japonês duvidoso, Kichijiro, ele próprio um cristão obrigado a renegar a fé, são acolhidos numa aldeia de pescadores tão devotos como miseráveis, que querem acima de tudo a presença dos padres para se poderem confessar e baptizar as crianças, que dão mais valor do que deviam aos símbolos tangíveis da fé: um crucifixo verdadeiro (em vez das cruzes de palha improvisadas), as contas dos rosários que os padres trazem com eles. O próprio Rodrigues faz esse comentário, é como se para os nativos a fé não fosse algo de abstracto, mas sim algo que podem praticar todos os dias e segurar nas mãos.
As autoridades japonesas consideram a religião cristã perigosa (nunca é explicado directamente porquê, mas fiquei com a ideia de que na sociedade feudal do Japão a religião oficial era mais uma maneira de controlar as pessoas e que uma seita diferente poderia potencialmente acarretar o risco de rebelião) e querem esmagá-la por todos os meios necessários. Conhecedores do seu povo, pedem aos suspeitos que pisem uma imagem de madeira com a representação de Cristo ou de uma cena cristã. Não o fazer significa uma morte atroz para os cristãos: escaldados com água a ferver, queimados vivos, afogados. Uma verdadeira reprodução do que significava ser cristão nos primeiros séculos depois de Cristo, os dias dos apóstolos e dos mártires. Pelo menos é assim que a fé ardente dos jovens padres encara a provação que os espera, como se fossem eles próprios uma espécie de apóstolos, em que o martírio é a maior “honra” concedida a um missionário.
Isto é na ingenuidade inicial, mas após verem a realidade das mortes e das torturas dos pobres pescadores que os tinham acolhido, os dois padres começam a vacilar. “Eles querem que a gente pise”, queixavam-se os pescadores, voltados para os padres como se esperassem deles a absolvição pelo que tinham de fazer. “Pisem! Pisem!”, diz-lhes Rodrigues, o primeiro a adoptar o pragmatismo, mas Garupe contradiz: “Que dizes? Não podem!”
Mais tarde Rodrigues e Garupe são separados, e quando Rodrigues o torna a encontrar (embora nunca cheguem a ter oportunidade de falar) tudo leva a crer que Garupe se tornou um pragmático também.
Este filme está carregado de cenas de tortura muito perturbadoras e é necessária preparação mental para o ver. Mesmo assim, a câmara mantém sempre uma certa distância do que está a acontecer, como se Scorcese nos estivesse a dizer que o importante não é a brutalidade e a repressão, o importante vem depois.
Depois de ver tanta crueldade, o padre Rodrigues começa a ter dúvidas. Deus, que devia amar os seus fiéis, não responde aos seus gritos de agonia. Tudo é silêncio. Será que Deus se importa? Será que Deus sequer existe? Nada responde ao padre Rodrigues senão mais gritos, seguidos do silêncio ensurdecedor de Deus.
“Silêncio” é um filme que levanta mais perguntas do que respostas. Da mesma maneira que os cristãos acreditam sinceramente que o Cristianismo é o único caminho para a salvação, também as autoridades japonesas acreditam que deixar propagar uma religião tão intransigente é uma ameaça à estabilidade social do país. Se há uma maneira aconselhável de ver este filme, eu diria que não é pelo prisma dos japoneses malvados que matam cristãos, mas pelos resultados da intolerância de parte a parte. Rodrigues acaba por perceber que o mundo não é tão a preto e branco como a fé o fazia crer, que é nas zonas cinzentas que o homem mais se confronta com Deus e com a sua própria natureza.
Não tenho nada de negativo a dizer sobre este filme, mas fiquei surpreendida que a identidade portuguesa dos protagonistas não tivesse sido mais explorada. Não que seja o importante, e é por isso que não é exactamente uma crítica, apenas uma observação. Nunca vemos nada que identifique Rodrigues e Garupe (e Ferreira) como portugueses, apesar de o serem. Podiam ter sido espanhóis ou italianos que não tinha relevância nenhuma. Os únicos vestígios de português que aparecem no filme estão na linguagem dos nativos, que adoptaram palavras portuguesas para expressar a fé cristã, como “paraíso” (mal pronunciado) e Deus-u. Gostaria de ter visto isto muito mais explorado, até porque nos interessa.
Por exemplo, porque é que os jesuítas portugueses parecem tão chocados com as torturas japonesas? Acaso nunca tinham visto um Auto de Fé da Inquisição? Não deviam já estar habituados ao horror? Ou, para eles, se fossem heréticos a sofrer não fazia mal nenhum, porque o fogo até lhes poupava as penas no Inferno? Isto nunca é abordado, mas basta ir às caixas de comentários das críticas a “Silêncio” para se perceber que filmes destes ainda fazem todo o sentido. É tanto o ódio, hoje no século XXI, entre ateus e cristãos fundamentalistas, que só falta mesmo acenderem as fogueiras.
Quanto a algumas críticas de que o filme é demasiado longo (e é um filme comprido), só tenho isto a dizer: por mim, via três temporadas desta história. Houve ali muitos personagens que não puderam ser mais desenvolvidos, muitos aspectos culturais a aprofundar, muita política a explicar. Era bem caso para fazerem uma série onde tudo isto pudesse ser detalhado, incluindo a identidade portuguesa dos protagonistas.
20 em 20
domingo, 29 de novembro de 2020
The Moon Pool, de A. Merritt (Abraham Merritt)
"The Moon Pool” é um livro de 1919 e nota-se. Durante a leitura perguntei-me muitas vezes porque é que tinha ido fazer este download ao Projecto Gutenberg. Foi numa altura em que andava à procura dos clássicos iniciais do vampirismo. "The Moon Pool” é efectivamente um deles, mas na minha opinião um dos piores. Este livro é uma salada de Géneros. Terror, Fantasia, Ficção Científica, Acção, Aventura, e, note-se, até Intriga Internacional e Distopia ele conseguiu lá meter! É obra. O problema é que nenhum dos géneros sai bem feito e o livro acabou por se perder nesta salsada toda.
O início até é promissor, uma típica história de Terror. A linguagem é antiquada e datada, mas suporta-se. (Li o livro em inglês.) Um grupo de cientistas vai estudar umas ruínas numa ilha remota do Pacífico. Durante várias noites, na ilha, começam a desaparecer um por um. Os nativos das ilhas próximas são supersticiosos e recusam-se a passar uma noite na ilha em causa, e quando há Lua Cheia nem se querem aproximar dela. Os cientistas estão por sua conta. Apenas um sobrevive, e consegue fugir antes de “desaparecer” também, na intenção de ir buscar ajuda para resgatar os colegas e a mulher. De volta à civilização, já a bordo do navio que o levará a procurar equipamento e ajuda, encontra o narrador desta história, o Dr. Goodwin, outro cientista, a quem conta tudo o que se passou. Goodwin aceita regressar com o amigo e ajudá-lo a encontrar a expedição perdida. Mas, a meio do oceano, um «ser» brilhante de luz aproxima-se do navio através de um feixe de luar, e leva também, nos seus tentáculos de energia, o cientista sobrevivente. Goodwin ainda fica mais determinado a encontrar as ruínas malditas e salvar o amigo.
No caminho encontra um tenente irlandês, piloto na Primeira Guerra Mundial, e um marinheiro nórdico, a quem o mesmo «ser de luz» tinha igualmente levado a mulher e a filha. A este «ser de luz» chamam o Dweller das ruínas.
E aqui está uma história de terror com bases pseudo-científicas. Mas depois as coisas mudam de tom. Os três salvadores, com o uso de engenhocas, conseguem penetrar no túnel secreto do Dweller, que por sua vez os leva ao mundo subterrâneo de Muria, onde existe uma civilização desconhecida. Aqui já estamos no reino da Fantasia. Mas não foram sozinhos. Com eles entrou também um outro personagem de intenções duvidosas, um cientista russo que não parece estar do lado dos nossos heróis.
Ora, desde Júlio Verne que tudo o que são mundos no centro da Terra me dá urticária. Talvez fosse interessante em 1919, mas actualmente considero isto tudo uma patetice. Mesmo assim alinhei, porque na Fantasia temos de fazer cedências. Neste mundo de Muria há uma Distopia em que as pessoas são escolhidas para a elite ou para as massas só por causa da cor de cabelo. Os de cabelo loiro prateado são sacerdotes do Shining One, nome que eles dão ao Dweller, a quem adoram como a um deus. Uma raça de anões também faz parte desta elite. E a elite são todos uma cambada de malvados. Os desgraçados das massas, além de trabalharem e servirem a elite, ainda são oferecidos como sacrifício ao Shining One. Estes desgraçados vivem aterrorizados. O Shining One é mesmo uma espécie de vampiro que enche as vítimas de êxtase e terror ao mesmo tempo. (Não percebi como, mas avançando.)
Tanto estes sacerdotes louros e belíssimos, como os anões, fizeram-me pensar se Tolkien não leu isto também. Foi como entrar no mundo do Senhor dos Anéis, só que com Elfos e Anões malvados. Aliás, o próprio Merritt usa a palavra “élfico” para descrever os sacerdotes.
Os três salvadores têm de lidar com esta civilização sem serem dados como sacrifício ao Shining One, ao mesmo tempo que procuram os amigos desaparecidos. Mas, e aqui entra a parte da intriga internacional/espionagem, o cientista russo está em Muria para arranjar aliados para a Rússia e, com a ajuda do tenebroso Shining One, tomar conta do mundo.
Perda de tempo
O ambiente de terror inicial perde-se num instante e até os sacrifícios ao Shining One são tratados com tanto distanciamento que não causam impacto ao leitor. A história transforma-se depressa em Aventura, sendo o fim escapar de Muria e/ou combater os maus. As personagens são bidimensionais. Apesar de ser uma história narrada em primeira pessoa nem assim conseguimos estabelecer uma relação com o protagonista que nunca passa do cliché do homem de ciência. Os bons são muito bons e muito heróicos, os maus são muito maus. Tudo a preto e branco. Até o vilão russo é explicado “porque a Rússia já fez tantas atrocidades”. Aqui ri-me um bocadinho. Antes da Segunda Guerra Mundial, antes da Guerra Fria. Malvados dos Russos.
A explicação de todos estes fenómenos (a civilização no centro da terra, o ser de energia, etc) cabe no campo da ficção científica, embora completamente risível. O autor é palavroso, muito palavroso. A Wikipedia diz que Merritt influenciou Lovecraft, e vice-versa, mas se em Lovecraft o excesso de palavras funciona para criar um ambiente de terror, aqui em “The Moon Pool” só serve para encher. Um quarto do livro extirpado e não se perdia nada.
A leitura foi efectivamente aborrecida. O que me trouxe a este livro, o vampirismo, existe de facto, à sua maneira, mas quase como algo de secundário. Pior, nunca faz sentido. É-nos dito que as vítimas do Shining One/Dweller ficam exangues. Mas como? Que necessidade de sangue tem um ser feito de energia? Como é que ele consumia o sangue e onde é que o metia? Para que é que o queria? Mais importante ainda, para que é que ele queria as vítimas, afinal, se não precisava delas para coisa nenhuma? Se isto não faz sentido, nada na história faz sentido.
Obviamente, não gostei nada deste livro, embora reconheça ao autor a imaginação, a criatividade e a originalidade tendo em conta a data em que foi escrito.
Não recomendo “The Moon Pool” a ninguém, excepto àqueles interessados em “arqueologia literária”, como eu, que gostam de descobrir os primórdios dos seus géneros preferidos. De resto, uma descomunal perda de tempo.
Teria muito mais a criticar em “The Moon Pool”, mas só vou gastar um último instante a falar do que detestei mais neste livro. Também há Romance, para ajudar à salsada. Um romance muito mau. Merritt consegue colocar as duas protagonistas femininas, a vilã e a boazinha, a lutar pelo irlandês. Porque uma mulher não pode passar sem um homem, e este irlandês é pintado como a oitava maravilha deste mundo e do mundo subterrâneo. Só que, palavra de honra, o irlandês é irritante até dizer chega. Não só como é descrito por Goodwin, mas também quando abre a boca. Para dizer a verdade, as duas protagonistas também são super-irritantes. E este péssimo romance foi para mim o último prego que selou o caixão.
Tenho mesmo de começar a praticar a arte de abandonar os livros a meio.
domingo, 22 de novembro de 2020
Bates Motel [segunda temporada]
Quando fiz aqui a crítica à primeira temporada, questionei-me até que ponto a série ia conseguir convencer-nos de que este puto adorável, Norman, se ia transformar num serial killer. Nesta segunda temporada começamos a chegar lá. A mente de Norman está cada vez mais fragmentada, os episódios dissociativos são cada vez mais frequentes e graves. E continuamos a sentir simpatia por ele porque, afinal de contas, Norman não sabe o que faz. No seu estado normal, Norman não era capaz de fazer mal a uma mosca. Mesmo assim, quando Norman está zangado, o actor Freddie Highmore transfigura-se e mete medo. Ele semicerra os olhos, as pestanas escuras a encobri-los, de uma maneira que os próprios olhos parecem ficar totalmente negros, tudo isto sem efeitos especiais, ao mesmo tempo que contorce os lábios num esgar de raiva que pode rebentar a qualquer momento. Não admira que o jovem actor tenha conseguido este papel. Quando ele faz isto vimos o verdadeiro Norman Bates, aquele que é capaz de matar. Nesta segunda temporada somos levados a crer que ele já matou durante um dos seus apagões dissociativos, e não vou revelar quem, ou pelo menos ele está convencido disso devido a memórias que recordou. A questão é que também não podemos confiar nas memórias de alguém que frequentemente tem alucinações. Continuo sem saber se de facto ele já matou alguém ou se apenas fantasiou essa “memória”. Na série ainda não o vimos cometer o acto propriamente dito, excepto em legítima defesa ou para defender a mãe.
Mas começa a ser óbvio que Norman está a piorar. Se ainda não matou, pouco falta.
Norma
Esta série podia chamar-se “The Vera Farmiga’s” show. Norma continua a mesma de sempre, quando mais esbraceja mais se afoga. Não conhecia esta actriz e fico boquiaberta com a versatilidade com que ela faz tudo, dos apontamentos cómicos às cenas dramáticas mais pesadas. Graças a Vera Farmiga e Freddie Highmore, conseguimos ver a relação cada vez mais imprópria desenrolar-se entre mãe e filho e perceber como é que eles chegaram até ali. O que mesmo assim não se torna menos desconfortável quando os vemos discutir como um casal de namorados, ou deitarem-se lado a lado na cama e dormirem abraçadinhos, ou quando dançam juntos, ou aquele beijo nos lábios com que Norma beija o filho. Para eles é tudo tão puro e platónico que nem se apercebem de como aquela relação já ultrapassou todos os limites do que é saudável, pouco a pouco, um gesto e uma palavra de cada vez.
Dylan, o xerife Romero, e os outros bandidos
Nesta segunda temporada a série já não comete erros como os das escravas sexuais chinesas. Finalmente encontrou o seu espaço e sabe onde pisa. O sub-plot do tráfico de droga e da cidade em que toda a economia vive de actividades ilegais está lá apenas como pano de fundo, mas graças a Dylan, irmão mais velho de Norman, acaba por se integrar nos problemas da família, magnificando-os.
A primeira temporada enganou-me quanto ao xerife Romero. Podia ter jurado que era ele próprio o grande chefão da droga, acima de todos os chefões. E de certa forma não me enganei assim tanto. Romero não é um criminoso, mas é ele quem manda em todas as actividades ilegais de White Pine Bay para que elas não passem de certos limites. E quando é preciso o xerife não olha a meios para atingir os fins, mesmo que não sejam os meios mais legais. De outra forma, como ele diz, toda a cidade estava atrás das grades. Romero quer impedir isso. Dylan está em White Pine Bay há pouco tempo, mas até ele percebe que com Romero não se brinca. O xerife é mesmo o chefão lá do sítio.
Mas isto é cenário. Tudo o que interessa e empolga nesta série acontece entre quatro paredes, na casa dos Bates, onde a família continua a aprofundar uma dinâmica disfuncional que psicólogo nenhum já poderia resolver.
Apesar de a primeira temporada ter andado ali um bocado aos tropeções, “Bates Motel” está cada vez melhor e recomendo vivamente.
Tenciono voltar a comentar aqui a série inteira depois de ver as cinco temporadas.
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
domingo, 15 de novembro de 2020
A Febre das Bruxas, de Leif Esper Andersen
Este conto é a história de Esben, um rapaz cuja mãe foi queimada por bruxaria. A acção passa-se algures em terras nórdicas, o que sabemos pelos fiordes, pela toponímia e pelos nomes dos personagens (o autor é dinamarquês). Nunca nos é dada uma data. Mas nada disto realmente interessa excepto que aconteceu, e aconteceu em todo o lado.
A mãe de Esben era uma curandeira, conhecedora de medicina popular. As pessoas iam procurá-la quando estavam doentes. Certa vez alguém lhe levou uma menina com tuberculose e a Mãe disse que não a conseguia curar. A menina morreu. A mãe da menina foi ao padre dizer que a Mãe era uma bruxa. Para “piorar” a situação, Esben e a Mãe tinham uma vaca que era a inveja dos vizinhos. Também o facto de a vaca dar mais leite do que as outras foi considerado prova de pacto com o demónio. A Mãe foi queimada viva e a vaca foi leiloada.
Esben tem de fugir, porque já o queriam apanhar também por ser “filho do Diabo”, e na sua fuga encontra Hans, um homem sábio e solitário que vive na encosta do fiorde. É a ele que Esben conta a sua história, aos bocadinhos de cada vez, uma história dolorosa de contar e de ler. Hans é igualmente um curandeiro e sabe que um dia virão por ele também. Mas Hans fugiu a vida toda e não quer fugir mais. “Talvez um dia haja lugar para aqueles que são diferentes. Talvez.” Mas ainda não será tão cedo, e quando vêm efectivamente buscar Hans, na febre da caça às bruxas, Esben tem de fugir outra vez.
Eu adquiri este livro através do Círculo de Leitores quando era ainda miúda. A tiragem é de 1981, o que significa que o li quando tinha uns 10 anos. Esta é uma leitura pesada e perturbadora que não é de todo para crianças, e eu sabia disso, e preparei-me psicologicamente para o que ia ler, mas sempre tive um fascínio pelo Mal. Não um fascínio no sentido em que me atrai. Pelo contrário, um fascínio no sentido em que o Mal tem de ser compreendido e explicado. A perseguição a estas pessoas que praticavam medicina, sob a alegação de bruxaria e pacto com o Diabo, sempre foi uma coisa que me fez muita confusão. Anos mais tarde li um longo livro espanhol dedicado à Inquisição e outras perseguições, e foi o mesmo em todo o lado. Superstição e ignorância, sim, mas estas perseguições foram também motivadas por invejas, cobiça e conflitos entre vizinhos. Por causa de uma vaca que dava mais leite do que as outras, por exemplo.
Neste livro, Hans diz que “todos nós temos um bocadinho de caçador de bruxas”. Eu diria que todos nós temos uma natureza negra e perigosa, debaixo da normalidade, que só precisa de uma desculpa para vir à superfície. Não conhecer isto é não conhecer nada da natureza humana.
Há pouco tempo, e de repente, lembrei-me novamente deste livro, assim do nada. (Nunca nada vem do “nada”, mas quase pareceu assim.) Ao longo dos anos tive de dar vários livros por questões de espaço, e senti-me tomada de pânico de ter dado este também. Mas não dei. Assim que abri o baú (é mesmo um baú) encontrei-o logo à minha frente, como se quisesse saltar-me para as mãos. Era um livro em que eu não pensava há décadas. Ainda bem que o guardei porque a segunda leitura ainda me disse mais do que a primeira, como era de esperar. É curioso como naquela altura eu fiquei com a ideia de que o livro era muito maior. Afinal é um conto que nem chega às 20 mil palavras, num livro decorado por ilustrações igualmente sombrias como a da capa, que se lê numa hora. Mas apesar de ser um livro curto é um grande livro.
Aconselho a toda a gente que gosta de conhecer a natureza humana, nem que seja preciso encontrar este livro em segunda mão.
terça-feira, 10 de novembro de 2020
O método resulta! – como nasceu “Nepenthos”
“The method works!” é uma faixa da banda sonora do filme “O Perfume, história de um assassino”. Aconselho vivamente, tanto a banda sonora como o filme como o livro homónimo de Patrick Süskind. “The method works!” é um tema ao mesmo tempo sinistro e empolgante, o tema em que o protagonista descobre como preservar o perfume das suas vítimas.
Mas este post não é sobre nada disto, excepto que também fala sobre o momento eureka que um criador sente quando descobre o método que funciona.
Começou com uma troca de ideias sobre métodos de escrita com a autora Patrícia Morais, que usa o método do planning. E depois a conversa foi por ali fora.
O conceber de um livro
Vou também revelar o meu método, ou pelo menos tentar. Já conhecia o método de planning, mas, honestamente, só de olhar para ele me dá arrepios. Isto não quer dizer que eu seja desorganizada, embora a alguém de fora pareça irracional e caótico. Mas até não. Eu gosto de chamar ao meu método de escrita “apaixonado”. Pode não parecer mas sou uma pessoa muito apaixonada. Sem paixão não consigo fazer grande coisa, em todas as áreas da minha vida.
Como é que isto se aplica à minha escrita? Também só consigo escrever uma história que me apaixone. Às vezes tenho ideias que nunca chego a desenvolver porque falta ali o “clic”, a química, a necessidade de escrever para contar a história.
Começo por ver a história na minha cabeça como se fosse um filme. Ou melhor, uma série de episódios. Começa com uma pequena cena, depois vou vendo mais cenas, como quem está a ver uma série, e deixo que a história toda chegue até mim. Nunca escrevo nada sem saber o fim. Acho que nem sequer um post do blog eu escrevo sem saber o fim. Se calhar é este o meu grande “segredo”.
Por falar em segredo, enquanto estou a conceber a história esta é um segredo só meu. Acho que é isto a que alguns escritores chamam “dar à luz” um livro. Quando chega a um certo ponto de maturação, a história tem de nascer. Pode ser um parto fácil ou pode demorar dez anos. Algumas cenas até podem ser concebidas, como embriões, mas perdem-se pelo caminho sem que se tornem histórias. Prefiro que fiquem em segredo.
Só falo nas histórias quando elas já estão escritas. Até lá, são o meu prazer secreto, o visionamento do “filme” em exclusivo só para mim, em que começo a conhecer os personagens, a ver os cenários, a sentir o ambiente, a ouvi-los falar. Escrever é pôr tudo isto no papel, quando já vi o filme todo e gostei. Às vezes tenho a sensação de que as histórias me são transmitidas e me aparecem na cabeça. Charles Dickens também dizia isto.
Pode demorar meses ou anos. “Nepenthos”, ou melhor, a história de Reena, na suas versões mais antigas, foi algo que eu comecei a inventar (ou a “ver”, prefiro assim) desde os doze anos. À medida que eu ia crescendo as primeiras versões do filme já não me agradavam, mas a ideia continuava lá, em semente, à espera de ter terreno fértil onde se desenvolver. Esse “terreno fértil” só chegou com a maturidade.
Mesmo assim, apesar deste método demorado, escrevi o primeiro draft em três meses. Trezentas mil palavras, o que dá uma média de cem mil palavras por mês. E já lá estava tudinho, até estavam coisas a mais que tive de cortar…
Na altura eu não sabia nada de técnicas de escrita. Ia pelo instinto. A história estava muito mais contada do que mostrada. Passei nove anos a corrigir, e a ler sobre escrita (em inglês) e a aprender com as dicas que encontrava. Fiz o percurso ao contrário: primeiro escrevi, depois é que fui aprender porque não estava satisfeita com o draft e não sabia como resolver. Andei doida à procura de beta readers. Encontrei alguns, poucos mas bons.
Agora já consigo escrever um primeiro draft muito mais limpo e apresentável, mas também demora mais tempo. Mas o método de escrita, quando me sento para escrever, não se alterou. Quando começo, nada me faz parar. Desapareço durante meses, ponho tudo em stand by, não falo com ninguém. É como viver uma paixão, tal e qual, entre mim e a história. Só nós duas, em segredo. Desta paixão resulta o tal nascimento, que é o livro.
Só depois é que partilho o meu “bebé” com os outros. Com os beta readers, primeiro, e só muito mais tarde, depois de muitas revisões, quando o meu trabalho está completo e não consigo melhorar mais, com o público. Não chega ao público sem um trabalho que demora sempre anos. Mas não espero que um leitor entenda isto.
O que eu tenho em comum com o planning, embora eu nunca pense nisto racionalmente quando estou a ver o “filme”, é o personagem começar num ponto A e acabar num ponto B. É como se eu visse a primeira cena, e me contassem como vai ser o fim, e eu fizesse a pergunta: o que é que lhe acontece para ele chegar do ponto A ao ponto B? E então começam-me a ser transmitidos mais “episódios” que eu vou vendo, como numa série de televisão, como se eu não tivesse influência no enredo e fosse apenas uma espectadora. Quando gosto muito do “filme” tenho de o escrever e partilhar, porque o filme não se encontra em mais lado nenhum senão na minha cabeça. Posso demorar muito tempo a começar a escrever (ou não), mas quando começo é para escrever tudo de uma vez e até ao fim.
Sem ser uma planner, também não estou a improvisar. Está tudo organizado, no tal filme que vi na minha cabeça. O complicado é escrever o filme em palavras. Imagina o teu filme preferido. Imagina que o viste numa realidade paralela. Imagina que gostaste tanto do filme que tens de o partilhar com a nossa realidade nem que seja a última coisa que fazes na vida, mesmo que não saibas se alguém mais vai gostar tanto como tu. É assim que funciona para mim.
Eu “culpo” por este método duas coisas:
1, sou filha única. Não sei o que é a experiência de ter irmãos, mas todos os filhos únicos sabem que tinham de arranjar coisas com que se entreter sozinhos. Se calhar foi assim que comecei a ver os “filmes”, para me entreter. Ainda hoje arranjo desculpas para ficar sozinha e abstraída e ligar a minha “televisão mental” para ver os filmes “exclusivos”, feitos de propósito para o meu gosto pessoal. Dito assim, até pode parecer que eu tinha vontade era de fazer filmes em vez de escrever livros, mas não. Ao contrário dos filmes, os livros permitem entrar dentro da mente dos personagens e contar as coisas que os filmes não conseguem mostrar.
2, sou da geração em que a televisão era a nossa baby sitter. Punham-nos em frente à televisão e nós ficávamos ali entretidos o dia todo, a ver tudo, a absorver tudo, até coisas que não eram para a nossa idade mas que naquela altura passavam sem preocupações a qualquer hora do dia. Há quem diga que a televisão estupidifica mas para mim a televisão é como uma mãe. Quando não a tenho, sinto tanta falta dela. Por televisão, aqui, estou a dizer écran. Écran onde ver coisas. Se calhar esta educação “televisiva” teve influência na forma como a minha imaginação se manifesta em filmes e cenas e episódios, com uma narrativa mais visual do que escrita. É bem possível. Mas agora já é uma questão para a psicologia. Como cobaia criada à frente da televisão, acho que não me prejudicou nada.
Gostei tanto de escrever este email que acho que o vou aproveitar para um post. Há muito tempo que eu queria contar isto a alguém para ter “desculpa” de escrever isto tudo.
E contei, e aqui está.
domingo, 8 de novembro de 2020
The Purge / A Purga (2013)
Mais uma distopia a juntar às muitas que têm aparecido nos últimos anos. Para resolver o alto nível de criminalidade na América, uma nova ordem política institui uma noite chamada A Purga, em que durante 12 horas todos os crimes são autorizados, incluindo o homicídio. O objectivo é dar vazão aos instintos violentos da população nesta noite apenas, reduzindo assim –ou mesmo eliminando, não percebi bem– o crime durante todo o ano.
Primeiro comentário: compreendo a lógica subjacente, mas não acredito que isto resultasse. Muito do crime violento não obedece a qualquer lógica, e aquele que obedece, o crime profissional, digamos assim, “trabalha” o ano todo. Esta seria apenas mais uma noite de violência, e ainda por cima uma noite pior do que as outras.
Mas esquecendo esta objecção, a noite da Purga é o cenário perfeito para o terror que já se adivinha que vai sair daqui.
Na noite da Purga, os Sandin, uma família de classe média alta, barricam-se em casa, protegidos por um sistema de segurança semelhante a um bunker. O pai de família é precisamente um vendedor destes sistemas de segurança e o ano correu-lhe particularmente bem (alguém lucra com a Purga). O pai e a mãe explicam ao filho mais novo, ainda um miúdo, os benefícios da Purga do ponto de vista de quem conheceu as coisas “como eram dantes”. Declaram-se ambos apoiantes da medida, mas nota-se que nem a mãe nem o pai estão perfeitamente convencidos do que dizem, especialmente a mãe. O puto, definitivamente, não está nada convencido. Na televisão, em voz-off, alguém comenta que os detractores da Purga acusam o governo de pretender desembaraçar-se assim dos fracos, pobres e doentes que não se conseguem defender. (Uma ideia tanto mais perigosa porque até já foi aplicada por certos regimes durante a História e nada nos garante que não volte a ser.)
Mais tarde, durante a noite, um homem aparece na rua de vivendas desta classe média alta, perseguido por alguém que o quer matar, implorando que lhe dêem abrigo. Sem que os pais saibam, o puto abre-lhe a porta e deixa que o homem se esconda. Mais tarde vimos a saber que o homem é um sem-abrigo, embora sinceramente não pareça (ou os nossos sem-abrigo são muito mais miseráveis do que os sem-abrigo americanos), mas não é um sem-abrigo qualquer porque usa uma chapa de identificação de veterano de guerra. Aqui percebi logo que este acto de altruísmo ia ter repercussões quando fosse preciso salvar a família. Previsível e “subtil” que nem um calhau. Ainda por cima o homem em questão, pobre e perseguido, é negro. Ainda por cima é um ex-militar, abandonado pelo país que serviu, como “Rambo – A Fúria do Herói”. Podia haver maior cliché?
Pouco depois, um grupo sinistro bate à porta dos Sandin a exigir que lhes “devolvam” a presa, o tal homem que o miúdo escondeu. Senão, serão os Sandin a presa. Este grupo, composto por jovens de classe alta, é especialmente arrepiante porque foram sem qualquer dúvida inspirados nos seguidores de Charles Manson. Já o líder deles é a versão rica e privilegiada do psicopata de “A Laranja Mecânica”. O grupo de psicopatas só quer uma coisa, matar e divertir-se, divertir-se a matar. Os Sandin, que no princípio da noite pareciam tão protegidos, estão agora em grande perigo. E coloca-se-lhes a questão moral: devem entregar um inocente a um bando de assassinos que dizem descaradamente que “a única razão da existência dessa gente é para serem purgados por nós” e outras atrocidades do género? Afinal os Sandin não são assim tão adeptos da Purga como se julgavam.
Não vou revelar o fim, mas a reviravolta final também não me surpreendeu. Pelo contrário, até já estava à espera dela. No fim, são os vizinhos que querem matar os Sandin, invejosos do seu sucesso. Eu até me pergunto como é que ainda não tinham planeado, todos juntos, matar os Sandin mais cedo.
Este filme não é subtil, mas é um bom filme que pretende chamar a atenção para a parte mais negra da natureza humana se lhe for dada oportunidade de se manifestar impunemente. Como filme de terror cumpre a sua obrigação de manter a tensão do princípio ao fim, apesar dos clichés e do enredo previsível. Como filme de comentário social, era preciso muito mais para me chocar. Só podia ficar chocada se não conhecesse a natureza humana, e a natureza humana já fez muito pior do que isto.
Mesmo assim, um filme interessante para reflectir nas coisas antes que elas nos aconteçam a nós.
14 em 15, por ser tão previsível
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
–GIVE AWAY– “Nepenthos”, de D. D. Maio
Este vai ser um give away especial, em que os leitores podem receber os capítulos iniciais de “Nepenthos”, a Primeira Parte inteira, ou até o livro todo!
Como?
Primeira fase
Para leitores interessados em tomar contacto com o livro. Para receber os capítulos iniciais de “Nepenthos” basta escrever-me – email d.d.maio.email@gmail.com – e pedir o exemplar para divulgação (ebook em formato epub). Mais nada.
Segunda fase
Para leitores que leram os primeiros capítulos e gostaram. Basta escrever-me e convencer-me de que gostaram. A Primeira Parte, na sua totalidade, será enviada. Mas, ressalvo, só se me convencerem!
Terceira fase
Para leitores que já estão em pulgas para ler o livro todo. Agora é que é preciso mesmo convencer-me! “Nepenthos” não é um livro gratuito mas será enviado aos verdadeiros fãs. Em troca peço uma crítica na vossa rede social e/ou uma avaliação no Goodreads (basta ter conta no Goodreads e ir lá pôr as estrelinhas).
A minha página no Goodreads: www.goodreads.com/author/show/19718238.D_D_Maio
“Nepenthos” está disponível em papel e ebook em www.bubok.pt/livros/12182/Nepenthos
Esta promoção vai acontecer até ao fim do mês de Novembro.
NEPENTHOS
© 2020 D. D. Maio
Sinopse
Num gesto de encoberta bondade, o jovem imperador salva uma rapariga da ignomínia na taberna da vila. Devia ter sido inconsequente, mas o encontro muda para sempre as suas vidas.
Acaso, escolha ou destino?
Reena deseja morrer. Serva órfã, presa de abuso em menina e forçada à prostituição desde jovem, há muito que o desespero lhe sussurra ao ouvido. A súbita oferta de uma vida melhor no castelo do imperador não é o trabalho digno que teria almejado, mas dá-lhe esperança de vir a conquistar uma humilde posição de criada. No castelo, Reena experimenta uma liberdade que nunca lhe tinha sido permitida e recorda sonhos de rapariguinha, de um amor e de uma família. Mas sucessivos envolvimentos românticos, fracassados, tornam a lançá-la na escuridão da derradeira escolha. Por muito que tudo ainda melhore, conseguirá alguma vez resgatar-se a si mesma desse inimigo oculto no âmago da sua alma?
Eric, o imperador, já desceu demasiado baixo. Enraivecido por uma infância de abandono, endurecido por um passado de guerra, envereda voluntariamente pelos nefastos caminhos de que talvez não haja regresso. Um último passo na direcção errada desmorona o homem de pedra que já não o quer continuar a ser. Mas não será demasiado tarde para mudar?
Tão afastados nos extremos do destino, Eric e Reena partilham difíceis veredas na busca da longínqua felicidade que não lhes parece reservada. Para ambos, nenhuma felicidade poderá ser vulgar.
“Nepenthos” é um drama em Low Fantasy, pesado e realista, por vezes desconfortável, mas com bastantes tons de romântico.
Tudo sobre “Nepenthos”: ddmaio.blogspot.com/p/nepenthos.html
domingo, 1 de novembro de 2020
Maria Theresia (2017–2019)
sábado, 31 de outubro de 2020
O grande abanão
E porque logo é Halloween, aqui vai um post do diário pessoal do terror quotidiano, 100% Gotika™.
Transcrevo de seguida parte do artigo de opinião de Pedro Gomes Sanches, “Portugal: crónica de uma morte anunciada?”, publicado no Observador online a 25 de Outubro.
É sempre tão saboroso quando encontro quem diz tudo o que eu já ando aqui a dizer há 17 anos! Só é pena os mesmos não terem aberto os olhos mais cedo, e agora já é tarde para mim. Se calhar bateu lá à porta dele? Desculpem lá o cinismo, é o que tenho observado nestes 17 anos de blogosfera, desde o tempo em que eu dizia coisas destas e me mandavam para o psiquiatra porque estava “deprimida” (nunca lhes tinha batido à porta deles):
Até aqui concordo com tudo. Excepto com a parte de jovens qualificados “sem expectativa de ganhar mais que mil euros”. Quais mil euros, ó pázinho? Onde é que se ganha mil euros, até já com experiência profissional de 20 anos? No meu tempo os jovens qualificados iam trabalhar para as empresas de borla, como estagiários, durante anos! Com os paizinhos a financiar.
Mas depois o autor estraga tudo, e revela a sua agenda política, quando diz: “Neste país manda o Governo mais incompetente de que há memória, pelo menos, desde o PREC.”
A memória do autor do artigo não pode andar muito bem, porque eu lembro-me de muito mais incompetência e, acima de tudo, de corrupção endémica e sistémica. Este é o governo mais incompetente desde o PREC? Não me façam rir. Isto não começou aqui nem ali, isto vem “de longe, de muito longe”, como diz a canção, e todos têm sido incompetentes e, acima de tudo, corruptos.
Este também foi o governo que se deparou com as maiores tragédias que tenho em memória no pós-25 de Abril (corrijam-me se falhar alguma), os incêndios de 2017 e a pandemia. Já nem falo da pedreira de Borba porque já é normal que de vez em quando caia uma ponte (Entre-os-Rios, 2001, 59 mortos), devido à inépcia e incúria na sua conservação (em Portugal o dinheiro tem sempre para onde ir menos para onde é importante, não se sabe já?).
Mas se pensam que estou aqui a defender o Costa, nem lá perto. O Costa anda numa deriva autoritária, não porque goste, coitado, mas porque o obrigam, porque se as pessoas fizessem o que ele quer o Costa não precisava de ser autoritário. (Não fui à procura do link para isto nem acho que precise. Toda a gente ouviu.)
O Costa precisa de um “abanão”, como ele próprio diz, assim tipo a polícia a mandá-lo parar na rua e a pedir-lhe os documentos que provem que é Primeiro-Ministro, porque é sempre muito agradável ser parado na rua, como um criminoso, para provar que vamos trabalhar, como se o simples facto de ir trabalhar não fosse já suficientemente desagradável. E já agora, ao Presidente da República também: “Mostre lá os documentos de Presidente, faxavor.”
Aliás, todos os partidos do “arco” estavam a precisar de um abanão, e tiveram-no quando lhes entraram pela porta dentro quatro novos partidos, algo impensável, por exemplo, quando comecei este blog. Eleger o Bloco de Esquerda lá para dentro já custou o que custou, digo eu que ajudei.
Aqui não me interessam as doutrinas, ideologias e filosofias dos novos partidos na Assembleia, mas apenas que foram eleitos. Interessa-me que houve um número significativo de portugueses que se fartou de votar com a carneirada e começou a votar nas alternativas que se lhe apresentaram. Portugueses que quiseram “ser a ovelha negra” (os leitores mais antigos lembrar-se-ão deste slogan do PSR). Portugueses que realmente deram um “abanão” aos partidos comodamente instalados a distribuir tachos pelos amigos, família, e negociatas ainda mais sórdidas.
Ainda se deve ter esperança, afinal, no povo português?
Quando é que são mesmo as próximas eleições?
domingo, 25 de outubro de 2020
“A Estranha Morte do Professor Antena”, de Mário de Sá-Carneiro, in “A Dança dos Ossos”
[contém spoilers]
“A Estranha Morte do Professor Antena” é o último conto de autores portugueses na colectânea “A Dança dos Ossos”. Tal como “A Confissão de Lúcio”, também de Sá-Carneiro, na antologia em ebook “Dentro da Noute” que deu origem a esta edição em papel, “A Estranha Morte do Professor Antena” é a chegada à modernidade numa colecção de clássicos iniciada com “O Defunto” de Eça de Queirós.
Li “A Estranha Morte do Professor Antena” ainda na adolescência e devo confessar que fiquei perturbada. Enquanto que em “A Confissão de Lúcio” temos um surrealismo psicológico (a mulher que desaparece perante os olhos de Lúcio, será que ela existe mesmo ou não passa de uma manifestação da homossexualidade do protagonista?), cheio de segundos sentidos e simbolismos, “A Estranha Morte do Professor Antena” é uma história de terror. Mais propriamente, uma história de ficção científica de terror, embora a explicação científica nunca entre em pormenores, deixando as culpas aos apontamentos (convenientemente) incompletos do Mestre.
É difícil analisar este conto sem o spoiler logo nas primeiras páginas, o spoiler que, afinal, dá título ao conto. O Prof. Antena morre vítima do que é oficialmente um atropelamento. Mas só agora o seu assistente, e narrador da história, vem a público revelar o que realmente aconteceu. O Prof. Antena descobriu uma maneira de viajar entre dimensões paralelas, só que teve o azar de entrar na dimensão errada à hora errada. Algo dessa dimensão o trucidou como a alguém colhido por um comboio. Desde que li este conto nunca mais achei interessante andar por aí a viajar entre dimensões. Sim, foi um conto difícil de esquecer, por muito que a base científica que lhe dá origem peque por insuficiente. Para conto de terror, no entanto, chega e sobra.
Nesta segunda leitura, o que mais me impressionou não foi a morte chocante do Prof. Antena, mas antes a questão das dimensões paralelas. Esta história foi publicada em 1915 (compilação “Céu em Fogo”). Onde é que Sá-Carneiro foi buscar estes conhecimentos científicos? Lovecraft, no mesmo período, arranja maneira de explicar estas coisas com portais abertos por deuses e extraterrestres. Havia sequer hipóteses científicas nesta época sobre dimensões paralelas, pergunto eu que não percebo quase nada do assunto? Mas de repente Mário de Sá-Carneiro fala do Espiritismo, e, por muito que os cientistas de hoje esperneiem de nojo, basta ler “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, publicado em 1857, para ficar com uma ideia clara de vidas sucessivas em diferentes dimensões, até em diferentes mundos. E, de facto, o Prof. Antena não tenciona ir a uma dimensão “paralela” a esta em termos espaço-temporais; ele pensa que vai para uma dimensão da (sua) vida futura. O que difere da doutrina Espírita, se não estou em erro, é a questão de a vida futura poder decorrer em espaço-tempo simultâneo com a vida presente a ponto de ser possível atravessar de uma para a outra, como nas dimensões alternativas de ”The Man in the High Castle”. Mas outro livro de cariz igualmente espiritualista, “Conversas com Deus”, de Neale Donald Walsch, publicado em 1995, e com a Teoria das Cordas por base/inspiração, afirma que é bem possível que todas as dimensões, passadas, presentes e futuras, existam “agora” e que nós não tenhamos capacidade de as percepcionar. Rebuscado? A Teoria das Cordas também me parece rebuscada, uma coisa de ficção científica. Mas aparentemente há cientistas que trabalham a sério para a provar, bem como a uma Teoria de Tudo. Quem sou eu, ignara, para falar do que não sei?
Isto tudo para dizer que fiquei algo baralhada quanto ao conhecimento de dimensões espaço-temporais que haveria no tempo de Sá-Carneiro. Não era um bocadinho cedo para isto? Nesta altura ainda o Einstein andava a trabalhar na Teoria da Relatividade. Ter-se-á Sá-Carneiro realmente inspirado no Espiritismo?
Aceite a hipótese das vidas sucessivas – e, de resto, preocupando-nos apenas com a de hoje e com a de ontem – onde se localizarão essas vidas, quais serão os seus meios?...
«Essas vidas existem sobrepostas, bem como os seus meios» – parece ter concluído o sábio. Unicamente os seres adaptados a uma vida, seriam insensíveis a outra. Assim não a poderiam ver, não a poderiam sentir, embora ela os trespassasse, os entrecruzasse.
(Citação do conto, mas de outra fonte que não “A Dança dos Ossos”.)
A nível espiritualista, acho tudo isto interessantíssimo. A nível científico é que não me interessa tanto.
A escrita de Mário de Sá-Carneiro é a de um poeta e o seu estilo é tão único quanto a certa altura se torna cansativo. Principalmente as sinestesias e os galicismos, que aparentemente estavam tanto na moda que toda a escrita de Sá-Carneiro se agita* deles. (*Agitar, aqui, é um dos exemplos de galicismo que não devia aqui estar nem faz sentido em português.) É interessante na poesia, embora na minha opinião não deixe de ser batota linguística, mas permite-nos, pelo menos, experiências de dinamização da linguagem: umas que ficam, outras que se perdem. Mas esta linguagem em conto, especialmente quando lemos alguns contos seguidos, e neste conto em particular, não ajuda a criar o tal contexto de credibilidade que uma história de ficção científica de terror precisa. É claro que isto é a minha opinião de leitora do século XX-XXI, mas entretanto o terror escreve-se com uma linguagem mais próxima da realidade, exactamente para convencer o leitor a “acreditar”. Ao ler este conto eu lembro-me constantemente de que é um conto, e um conto escrito por um poeta, e a história perde muito do seu impacto por causa disso. Uma escrita mais científica e este conto seria perfeito. Mas, ressalvo novamente, isto é uma opinião de 2020, de uma leitora amante de um género que evoluiu para a excelência ao longo de um ou dois séculos. Mário de Sá-Carneiro ainda estava no domínio da experiência, de uma escrita “fora da caixa” para a altura, e aí é que está o seu grande mérito. Ademais, conseguiu que a história me perturbasse, sinestesias e galicismos à parte, e não é fácil perturbar uma leitora de Terror de finais do século XX.
“A Dança dos Ossos”
Mais algumas notas sobre a colectânea. Além dos contos já publicados em “Dentro da Noute” – clicar na etiqueta abaixo para ver comentários a todos os contos portugueses presentes no ebook – a versão impressa inclui uma biografia resumida de cada autor antes do respectivo conto.
Saliento igualmente o excelente prefácio de António Monteiro, onde se debatem as origens da literatura fantástica em português e do género gótico em geral, de que já se falou aqui várias vezes.
Volto a expressar os meus parabéns pela iniciativa e a recomendar este livro a todos os que estão agora a tomar contacto com a literatura fantástica em português, bem como àqueles que a queiram recordar.
O design do Livro B, bem como as lendárias páginas azuis, vão certamente despertar nostalgias.
Para quem ainda não pensou nisso, eis aqui um excelente presente para as pessoas que gostam de literatura gótica. Mas não mo ofereçam a mim porque já tenho um exemplar. ;)
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Crítica ao conto "Miasma", de D. D. Maio - por o.chefdoslivros (Instagram)
Ver esta publicação no InstagramUma publicação partilhada por 𝕺 𝕮𝖍𝖊𝖋 𝕯𝖔𝖘 𝕷𝖎𝖛𝖗𝖔𝖘 (@o.chefdoslivros) a
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domingo, 18 de outubro de 2020
Crítica ao conto "Miasma", de D. D. Maio - por book.serotonin (Instagram)
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