terça-feira, 5 de março de 2024

The Girl On The Train / A Rapariga No Comboio (2016)

Este é um daqueles filmes baseados em romances que talvez não tenham sido bem traduzidos para o cinema, fazendo com que a princípio pareça um drama psicológico que subitamente se transforma num suspense/policial à Hitchcock. A sensação geral é de que estes dois elementos andam sempre desconjuntados.
Começa logo pelo princípio, em que somos apresentados a três personagens femininas distintas, uma de cada vez, nenhuma delas particularmente empática. Achei aborrecido e fez-me questionar porque é que nos devíamos interessar por elas. Rachel, a protagonista, é uma alcoólica que todos os dias finge que vai trabalhar (embora tenha sido despedida) e se mete no comboio que passa à frente da casa do ex-marido, onde este agora mora com outra esposa e uma filha bebé. Da perspectiva desta nova esposa, descobrimos que Rachel não se limita a observar. Passa os dias e as noites de embriaguez a telefonar e a mandar mensagens ao ex-marido, e certa vez, bêbeda, entrou em casa deles (que tinha sido também a casa dela) e pegou na bebé e levou-a com ela, o que é aterrador para uma mãe.
Mas o interesse de Rachel não se limita ao ex-marido. Durante as viagens de comboio desenvolveu um fascínio/obsessão com outra vizinha que parece viver o amor perfeito com o marido (desta outra vizinha). Se soa confuso, é porque o filme também é algo confuso. Demorei um bocadinho a perceber que este “casal perfeito” é vizinho do ex-marido e que Rachel possivelmente só ficou fascinada por eles porque passava por lá todos os dias. Quando Rachel descobre que esta mulher (que Rachel não conhece mas fantasia conhecer) anda a trair o marido, fica enraivecida porque a vê a destruir algo de perfeito. Perfeito na cabeça de Rachel, isto é. Embriagada, Rachel tem um apagão e acorda em casa coberta de sangue e nódoas negras. Pouco mais tarde vê no jornal que a mulher, chamada Megan, desapareceu. Rachel pensa que a matou e fica apavorada. Continuando na linha stalker, apresenta-se ao marido de Megan como amiga dela, imiscui-se na investigação, começa a frequentar o psiquiatra de Megan. E aqui o filme começa a ser um “quem matou Megan?”, mas significativamente mais interessante do que tinha sido nos primeiros 20 minutos.
Infelizmente, após tanto tempo de filme, a revelação aparece um bocado aos trambolhões. Não era nada do que pensávamos porque o filme nos tentou enganar noutra direcção e também não nos deu nada para suspeitarmos outra coisa. Logo, o fim parece-nos uma reviravolta forçada. Aliás, toda a dinâmica entre estes vizinhos e Rachel parece forçada e “coincidência a mais”. Foi pena, porque o filme até estava a tomar forma e a recompensar-nos pelos 20 minutos em que tivemos de conhecer personagens sem percebermos qual era o papel delas na história.
Das críticas que li, o livro resulta, o filme é que não. Mesmo assim, tem momentos interessantes e vale a pena ver. A parte do saca-rolhas é de algum humor negro. Quem melhor do que um alcoólico para usar um saca-rolhas como arma? Acho que não era para rir, mas ri-me.

12 em 20

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