Admito que fui à procura deste livro assim que descobri que foi a base de inspiração dos desenhos animados “Conan, o rapaz do futuro”, tão queridos da minha infância. Não fiquei desapontada. Se os desenhos animados estão cheios de exagero, de infantilidades, de super-poderes, “The Incredible Tide” é uma história realista e adulta, entre o mundo pós-apocalíptico, a ficção científica e a distopia.
Conan é realmente um rapaz do futuro, mas um rapaz muito mais vulnerável do que aquele que conhecemos. A Terceira Guerra Mundial aconteceu. Ambos os lados beligerantes insistiram em usar armas magnéticas para destruir as cúpulas magnéticas que protegiam as cidades de ataques, ignorando os avisos do Professor Briac Roa. (O livro foi publicado em 1970, em plena guerra fria; de certeza o autor queria referir-se às armas nucleares.) O que conseguiram com o uso das armas magnéticas foi a inversão dos pólos da Terra (como no filme “2012”), destruindo o planeta. Os poucos sobreviventes a esta gigantesca tsunami (o mar que cobriu os continentes) são aqueles que conseguiram refugiar-se em picos elevados.
Conan, ainda muito jovem, vai dar a um destes refúgios, sozinho, sem utensílios. Para sobreviver tem de construir tudo pela força braçal. Alguns anos depois é de facto um adolescente forte, mas devido ao esforço físico que a própria sobrevivência lhe exigiu.
No pós-guerra, um poder assume-se, intitulado a New Order, que tem como sede a cidade de Industria e procura incessantemente o Professor Briac Roa, o último cientista capaz de produzir a energia de que Industria precisa desesperadamente. Esta New Order é tão tirânica como se podia esperar de um regime único num mundo apocalíptico e o Professor faz tudo para lhes fugir.
Entretanto, Conan é “resgatado”, ou melhor, capturado, e levado para Industria onde, para sua surpresa, encontra o Professor disfarçado debaixo dos narizes da New Order sem que ninguém desconfie.
O Professor tem planos de se reunir à sua família, noutro refúgio chamado High Harbor. É aqui que entra outra das melhores personagens, a sua neta Lana. Lana conseguiu desenvolver uma espécie de comunicação telepática com os animais, especialmente com os pássaros. O Professor e a filha dele, por outro lado, conseguem comunicar telepaticamente um com o outro.
Juntos, num barco construído pelo Professor, atravessando oceanos tão novos como desconhecidos, e perante uma estranha ameaça climática chamada a “época dos nevoeiros”, Conan e o Professor vivem a aventura de chegar a High Harbor perseguidos pela New Order e por outro perigo iminente. Acontece que a cidade de Industria está sobre uma falha tectónica e não tarda a cair para o mar, o que vai provocar uma tsunami gigantesca. Conan e o Professor têm de chegar a terra antes dela.
Eu estava realmente a gostar até chegarmos ao fim: o fim é tão abrupto que me perguntei se a minha edição estava completa. Mas parece que sim, está mesmo completa, e o final não faz justiça ao resto. Mesmo assim, uma boa leitura para quem gosta de aventura, ficção científica, distopia e mundos pós-apocalípticos.
“Conan, o rapaz do futuro”
Não podia acabar sem falar do desenho animado que me levou a ler “The Incredible Tide”. É claro que não esperava o mesmo, mas comparativamente fiquei desiludida. O papel de Lana é muito mais extenso no desenho animado de Hayao Miyazaki. Senti também a falta de Monsley, personagem de “Conan” que não entra no livro. Acontece que Monsley era a minha personagem preferida, o meu primeiro contacto com uma vilã “cinzenta”, como se diz agora. Monsley trabalha para Industria e persegue Conan e os amigos. Extremamente traumatizada pela tsunami a que sobreviveu quando era criança, tem momentos de vulnerabilidade que a tornam empática. Recordo perfeitamente a cena fulcral em que a tsunami se aproxima e Monsley fica paralisada. Conan, que tem à disposição um submarino para escapar à onda assassina, arrisca a vida para sair do submarino, pega nela ao colo e leva-a para segurança, o que inicia uma nova dinâmica entre Monsley e os heróis. A personagem mais parecida, no livro, é Doctor Manski, uma pesquisadora completamente devotada à New Order que abre os olhos quando percebe que o regime que serve não é inteiramente benévolo. Mas Manski não tem a profundidade de uma Monsley, na minha opinião a melhor adição que “Conan, o rapaz do futuro” fez à história original.
Apesar de tudo isto, gostei de rever estas personagens de infância, se bem que em versão adulta e num livro muito sério. Aconselho a todos os fãs de “Conan, o rapaz do futuro”, e aos outros também.
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