Tinha uma imagem melhor para este post, mas mostrava mamilos. O Blogger está armado em Facebook e censurou.
Estava a ver este filme há meia hora quando comecei a olhar para o relógio. Meia hora depois parei a gravação e percebi, para minha angústia, que não ia sequer a meio. Escusado será dizer que este foi um dos filmes mais chatos, daqueles considerados sérios e candidatos a Óscares e blá blá blá, que tive o desprazer de ver na vida.
A certa altura lembrei-me de que é um filme de Stanley Kubrick, de quem nunca fui fã, e que o nome me lembrava uma experiência ainda mais penosa. É claro, o insuportável “2001 - Odisseia no Espaço”, um filme que tentei ver duas vezes e em ambos os casos comecei a beber e acabei a dormir à mesa. (“2001 - Odisseia no Espaço” é considerado por um vasto número de espectadores, eu incluída, como o filme mais chato alguma vez produzido.) Mas desta vez percebi o motivo das minhas experiências gémeas com “2001”, um filme que eu devia comprar para ver nas noites de insónia. Da mesma forma, ao tentar sobreviver à seca de “Eyes Wide Shut”, pensei em beber qualquer coisinha. Infelizmente não me dava jeito beber na altura, ou teria provavelmente acabado a dormir também. Está explicado o efeito tiro e queda de “2001”.
Isto também explica a grande bezana que eu e alguns amigos apanhámos quando nos reunimos em casa de alguém para ver “The Shining”, e acabámos a rebolar-nos a rir. Mas neste caso foi injusto. “The Shining” é um grande filme.
Sei perfeitamente que todos os fãs do grande Stanley Kubrick me estão a rogar pragas neste momento e a chamar-me de ignorante para baixo, mas consolem-se no facto de que o (mau) gosto não se discute. E sim, notei a cinematografia, o contraste e aproveitamento da iluminação, é tudo muito giro, mas nem só de técnica se faz um filme.
Então vamos lá à história. Ou melhor, à não-história, porque tudo espremido não fica muito. Um casal jovem, rico, que tem tudo, mesmo tudo, está em crise por tédio. Já não sabem o que hão-de fazer para não se aborrecerem. (Isto é o problema de ter dinheiro a mais e imaginação a menos, ou, dá Deus nozes a quem não tem dentes.) Na noite seguinte a um baile de Natal na casa de um cliente rico do marido (médico de profissão), em que a esposa flirta descaradamente com um gajo qualquer que a tenta seduzir e o marido faz o mesmo com duas fulanas que o querem levar para a cama, o casal mata o tédio como pode a fumar ganzas. Com a pedrada, começam a discutir o que se passou no baile, falam de ciúmes e da falta deles, e a esposa acaba por confessar que uma vez teve a fantasia de dormir com um oficial da Marinha (o que nunca aconteceu).
Foi o bastante para o médico ficar roído de ciúmes e aproveitar uma visita ao domicílio que o tirou de casa para andar pela rua a meter-se em sarilhos. Acaba numa orgia privada, para gente muito rica e influente que esconde a cara com máscaras, onde é “detectado” como “intruso” e ameaçado de morte antes de ser expulso. Aqui o filme toma contornos de thriller. Ser ameaçado de morte não é brincadeira. No dia seguinte, o médico tenta visitar o amigo que o informou da festa, e descobre que este foi levado do hotel onde se hospedava por dois “capangas” bem vestidos. Uma mulher da festa aparece morta na morgue. Obcecado, e por esta altura com razão, o médico dirige-se à mansão onde a festa se realizou, só para receber um bilhete num envelope que o ameaça novamente para parar de fazer perguntas ou algo lhe acontece e à sua família.
Não percebi, sinceramente, como é que por esta altura ele não foi directamente à polícia, que é o que uma pessoa faz quando nos ameaçam de morte, especialmente por escrito, e especialmente quando nos ameaçam a família também. Sociedade secreta que se dane, nem que lá estivesse o próprio presidente dos Estados Unidos, isto é grave, e além de ir à polícia o médico devia ter ido também aos jornais se tinha assim tanto medo.
Só que isto não acontece porque o filme não é um thriller. Numa reviravolta muito anti-climática, o tal cliente rico do médico chama-o a sua casa e explica-lhe que tudo o que viu foi a fingir, era tudo teatro, ninguém matou ninguém, tudo o que lhe disseram foi para o assustar. Enfim, não se passa nada. “E a mulher, quem era a mulher da festa?”, pergunta o médico, todo desvairado como se ela fosse muito importante, embora só tenham trocado meia dúzia de palavras. “Era uma prostituta”. (Ai, não me digas! E eu a pensar que todas aquelas gajas boas ali estavam por gostar de ir para a cama com homens de meia-idade carecas e barrigudos!)
Então, foi mesmo tudo a fingir ou era a sério? Nunca saberemos, porque o filme também não se interessa mais pelo assunto. Acaba com o marido a chorar baba e ranho a pedir perdão à mulher, apesar de não ter feito nada. Pois é, durante isto tudo a única coisa que ele fez foi o mesmo que os espectadores: assistir a uma orgia. Se eu fosse a mulher dele tinha-me chateado por ele não me ter levado também. Há quem não saiba mesmo divertir-se a dois.
Quando o filme apareceu, pelas imagens e sinopse, sempre pensei que isto ia ser uma história de swingers com sado-maso levezinho à mistura. Afinal nem isso. É apenas uma história que não é história, um estudo sobre um casal em crise que já não sabe o que fazer para se livrar do tédio.
E as actuações, valha-me Deus! Que direcção de actores mais atroz. Se eu não conhecesse a Nicole Kidman e o Tom Cruise de outros Carnavais teria concluído que são péssimos actores. (Não são.) Até parece que alguém disse à Kidman: fala o mais devagar… que conseguires… para vermos quando é que… os espectadores começam… a sair da sala. O mesmo deve ter sido dito a Tom Cruise, com certeza, que também se esforçou por falar devagar, mas não conseguiu tão “bem” como a Nicole. Se não acreditam, vejam/ouçam por vós próprios.
A grande cena do filme é mesmo a orgia, isso nem discuto, e não estou a ser irónica: aquele segmento do início, com o “sacerdote” e as “bacantes”, em que tanto a coreografia como o som podiam ter saído de um vídeo de uma banda gótica, pode explicar alguns fascínios que tenho encontrado por este filme. Se calhar o que o realizador queria mesmo era fazer um filme todo assim, porno-chique, mas a reputação não o deixou.
13 em 20 (menos 1 ponto pela seca, mais 2 pela orgia)