Más notícias para a cena gótica e alternativa de Lisboa. Depois do encerramento do Club Noir na rua da Madalena, agora é o Metropolis Club a fechar as portas no Centro Comercial Imaviz. A festa de despedida do Metropolis é já no próximo sábado 1 de Fevereiro. A ultima noite no Club Noir da rua da Madalena foi a passagem de ano. Ambos os bares tiveram de fechar porque os espaços foram comprados. Para a “construção de apartamentos de luxo”, no caso do Club Noir, para uma “multinacional hoteleira” no caso do Metropolis, como se pode ler nas respectivas páginas de Facebook. O Club Noir promete reabrir em breve em espaço já encontrado em Alvalade. O Pórtico espera novidades.
No caso do Metropolis, a notícia foi em cima da hora mas não é uma surpresa. O bar já esteve fechado há dois anos, de Outubro a Novembro de 2017, por motivos relacionados com o próprio espaço do centro comercial. O Imaviz, nas Picoas, foi na sua época um centro comercial chique e caro (onde António Variações trabalhou num cabeleireiro unissexo Isabel Queiroz do Vale) mas o estado decrépito e cada vez mais lojas fechadas saltavam à vista de quem atravessava regularmente aquele espaço de “centro comercial fantasma” durante estes últimos doze anos de existência do Metropolis.
O Pórtico vai ficar atento e deseja boa sorte às gerências do Club Noir e do Metropolis na busca de espaços alternativos (em duplo sentido).
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
Club Noir e Metropolis encerrados ao mesmo tempo
Publicado no Pórtico:
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
domingo, 19 de janeiro de 2020
The Twilight Zone / A Quinta Dimensão (2019)
Quem não se lembra da velhinha Twilight Zone, que nos inícios da nossa televisão passava à tarde e me punha a dar voltas à cabeça sobre qual seria a Quinta Dimensão uma vez que eu só conhecia três? As histórias eram interessantes, às vezes inquietantes, oscilavam entre a ficção científica e o terror, e o final tinha sempre uma reviravolta inesperada.
Infelizmente, não posso dizer o mesmo desta nova Twilight Zone de 2019. Apenas dez episódios e muito pouco inspirados. Desde o primeiro, percebemos que esta série é extremamente politizada e vende a agenda dos Democratas norte-americanos. Não é que a agenda não me agrade, mas a série é demasiado óbvia, quase panfletária. Por exemplo, um miúdo de 12 anos que é eleito presidente dos Estados Unidos e que só faz o que lhe dá na gana. Ora, quem será, quem será?… Outro episódio em que só falta gritarem, de cartazes em punho: black lives matter! Outro todo ele dedicado ao movimento #metoo. Outro que fala de imigrantes e dos horrores da deportação. E por aí fora, tudo do mais anti-Trump possível, sem qualquer subtileza.
Até o meu episódio preferido, “The Blue Scorpion”. A princípio até fiquei espantada que o episódio não estivesse a vender uma mensagem qualquer. É a típica história de um objecto amaldiçoado, neste caso uma pistola, com as particularidades de que ninguém a encontra, é a pistola que encontra a pessoa, e que a pistola tem de ser guardada num sítio iluminado porque (ela, a pistola) tem medo do escuro. Muito interessante e promissor. O seu proprietário mais recente fica obcecado por ela. Primeiro, a pistola aterroriza-o. De seguida, domina-o. O homem adora a pistola. Não vou dizer qual é a reviravolta, mas quando finalmente o homem se consegue livrar da pistola esta acaba por “encontrar” dois miúdos que andavam à pesca. Ah, lá está a agenda! Mais subtil, desta vez, mas para bom entendedor é o que basta.
Outros episódios conseguiram fugir um pouco ao panfleto político: "The Comedian", "Nightmare at 30,000 Feet", "A Traveler", "Six Degrees of Freedom", mas todos a arrancar com uma boa premissa que acabou sempre desaproveitada. Já o episódio “Blurryman” não teve mesmo pés nem cabeça.
Esperava muito mais desta edição actual de The Twilight Zone. Mas, mesmo sem a política à mistura, os episódios foram fraquinhos (embora poucos, o que ainda torna mais estranho que sejam fracos) e sem o efeito de choque da série original.
domingo, 12 de janeiro de 2020
Les Misérables (2018-2019)
Tirando algumas raras excepções, geralmente as adaptações de romances ao cinema ou à televisão conseguem desmotivar-me completamente de ler o livro. Esta mini-série da BBC, adaptação do clássico de Victor Hugo “Os Miseráveis”, é uma das raras excepções. Depois de ver esta série decidi mesmo ler o livro.
Não é a primeira adaptação que eu vejo deste clássico. Lembro-me principalmente de filmes. Mas não sei porquê, se calhar porque o livro é muito grande e o enredo muito extenso, todas as adaptações que vi me pareceram apressadas, sem que houvesse tempo para explorar os pormenores, e algo falhou em arrebatar-me. Esta série conta tudo como deve ser porque não tem essas limitações de tempo.
“Les Misérables”, como é típico destes clássicos com mais de mil páginas, tem vários enredos simultâneos, mas o principal é a história de Jean Valjean, condenado foragido mas intimamente boa pessoa, na sua busca de redenção. Encontra-a ao resgatar a pequena órfã Cosette de uma vida de miséria.
Para mim, a história mais comovente é a de Fantine. Assalariada numa casa de costura (hoje chamar-lhe-íamos operária), Fantine e duas colegas aceitam os convites de três fidalgos que as convidam a passear e jantar. Uma das colegas, mais sabida, avisa-a de que estes fidalgos só querem divertir-se e que vão deixá-las para casar com as donzelas bem nascidas que os pais ricos escolherem para eles.
Mas Fantine julga-se amada. Quando o amante a abandona com uma filha pequena nos braços (como a colega avisou) Fantine tem de procurar um emprego que sustente a ambas. Entretanto, deixa a filha, Cosette, numa estalagem no campo, onde os anfitriões, os Thénardier, prometem cuidar dela como se fosse de uma filha. Longe disso, a menina é maltratada, transformada em criada da estalagem, obrigada a trabalhar noite e dia e a carregar baldes de água do rio até à estalagem em pleno inverno. Estes Thénardier são um casal de patifes, dispostos a explorar a pobre Fantine o mais que puderem, fazendo pedidos de dinheiro cada vez mais elevados para “o bem da pequena”, e chegando mesmo a mandar por carta a Fantine que a menina se encontra às portas da morte e precisam de uma enorme soma para a salvarem. Fantine não tem este dinheiro e no seu desespero vende os dentes e o cabelo. Mas os Thénardier ainda pedem mais. Fantine tem de recorrer à prostituição. Aqui, Jean Valjean também é culpado, porque a despede apenas porque Fantine não revelou que tinha uma filha a seu sustento, razão que dificilmente justifica um despedimento. Espero que o livro explique melhor esta passagem.
Seja como for, Fantine tem tuberculose e morre. No seu leito de morte, Jean Valjean promete-lhe tomar conta da pequenita. Mas o tenaz inspector Javert, que há muito tempo persegue Valjean, acaba de o encontrar e leva-o de volta para as galés.
Valjean consegue fugir, ainda mais agora que tem uma promessa a cumprir, e usa a sua fortuna roubada para resgatar Cosette. Começa aqui a segunda parte mais comovente da história. Valjean e Cosette encontram abrigo num convento, onde ela se torna mulher e ele trabalha como jardineiro. Cosette habitua-se a chamar-lhe Papá, e com razão. Nunca aquela infeliz teve alguém tão semelhante a um pai, e Valjean adora-a como a uma filha.
Não vou contar mais do que isto, mas segue-se um romance entre Cosette e um revolucionário. Espero que o livro não nos aborreça com política revolucionária do século XIX (penso que são republicanos, mas a série, graças a Deus, não nos massacrou com isto).
Os episódios são bem equilibrados a nível da acção e deixam-nos sempre em suspense à espera do próximo. A série foca-se no que é realmente importante, os personagens e o seu desenvolvimento.
Só tenho um reparo a fazer. Parece que a BBC decidiu incluir uma “quota” de actores de cor nas suas produções, independentemente do tempo histórico em que elas se passam. Em “Les Misérables” temos um dos protagonistas negro, o inspector Javert, e um em cada cinco parisienses é negro. Curiosamente, o politicamente correcto não incluiu asiáticos. Sinto-me na legitimidade de perguntar porquê. Ora, não acredito nem por sombras que existisse tanta população negra na França do séc. XIX. Inclusive fui investigar, e outros tantos como eu, se era possível que um inspector da polícia na altura fosse negro. Parece que sim, mas em circunstâncias muito excepcionais. Não era, de todo, normal. Pelo contrário. Ainda há pouco tempo vi um documentário sobre os zoos humanos. Este ainda era o tempo em que Paris tinha um “Jardim de Aclimatação” onde se exibiam os “selvagens” das colónias francesas, embora os organizadores destas exibições soubessem muito bem que estavam a lidar com pessoas normais e até lhes pagavam para fazerem de selvagens. Estes selvagens, portanto, eram actores. Mas isso não implica que a população parisiense não os visse como selvagens e que se organizassem passeios, aos domingos, para ir ver os “selvagens”, tal como hoje em dia vamos ver os animais ao Jardim Zoológico. (Se puderem, vejam o documentário. É muito elucidativo. E isto não se passou só em França como em todas as metrópoles europeias “civilizadas” e até nos Estados Unidos.) Neste clima racista, um inspector da polícia negro seria um acontecimento raro, mas ainda assim possível. Tanta população negra nas ruas de Paris é que não.
Será uma questão de habituação? Afinal, o teatro tem uma grande tradição de usar actores não convencionais nos seus papéis. Napoleão pode ser interpretado por um negro, por um asiático, ou até por uma mulher. Aliás, todos os actores podem ser homens ou mulheres em papéis masculinos e femininos. Estamos habituados. Mas o teatro, por outro lado, foca-se na interpretação, não no realismo histórico. Não estará a reconstituição histórica a ser sacrificada ao politicamente correcto? Gostaríamos de ver um D. Afonso Henriques negro, ou asiático, ou mulher (fora do teatro)? Fica a questão.
É claro que os actores não-brancos não têm culpa que certos dramas históricos não os representem porque as suas etnias não estiveram envolvidas neles. Mas isto não é verdade para todos os dramas históricos. Assim de repente estou a lembrar-me da série “Spartacus”, onde havia gente de todas as cores e feitios, do negro da Núbia ao nórdico loiro e de olhos azuis. Sim, também é verdade que eram todos escravos dos romanos, mas é essa a verdade histórica. A História não pode ser branqueada. Qualquer branqueamento, mesmo aquele feito com “boas intenções”, é mais grave do que todos os “politicamente correctos” da actualidade. No que concordo é que podia haver maior produção de dramas a representar várias etnias. E aqui recordo-me de outro exemplo, “Shogun”, passado no Japão feudal. Se a série fosse produzida hoje pela BBC será que íamos ver lá pelo meio samurais africanos? (Se calhar íamos, transformando um drama numa paródia.)
Polémicas à parte, “Les Misérables” é uma excelente série. Gostei principalmente do fim. Depois de os protagonistas chegarem a um final satisfatório, deixando de ser pobres e desgraçados, a série termina com dois meninos a mendigar na rua sem que ninguém lhes dê esmola. Ou seja, sempre haverá miseráveis. Já não os chamamos assim, mas eles existem, muitas vezes onde não desconfiamos.
Recomendo vivamente. Mas conhecendo a RTP2, onde passou a série, será difícil que repitam.
RTP2, se me lês: não é vergonha nenhuma repetir programas, especialmente quando são de qualidade. Nem toda a gente os apanha à primeira.
Não é a primeira adaptação que eu vejo deste clássico. Lembro-me principalmente de filmes. Mas não sei porquê, se calhar porque o livro é muito grande e o enredo muito extenso, todas as adaptações que vi me pareceram apressadas, sem que houvesse tempo para explorar os pormenores, e algo falhou em arrebatar-me. Esta série conta tudo como deve ser porque não tem essas limitações de tempo.
“Les Misérables”, como é típico destes clássicos com mais de mil páginas, tem vários enredos simultâneos, mas o principal é a história de Jean Valjean, condenado foragido mas intimamente boa pessoa, na sua busca de redenção. Encontra-a ao resgatar a pequena órfã Cosette de uma vida de miséria.
Para mim, a história mais comovente é a de Fantine. Assalariada numa casa de costura (hoje chamar-lhe-íamos operária), Fantine e duas colegas aceitam os convites de três fidalgos que as convidam a passear e jantar. Uma das colegas, mais sabida, avisa-a de que estes fidalgos só querem divertir-se e que vão deixá-las para casar com as donzelas bem nascidas que os pais ricos escolherem para eles.
Mas Fantine julga-se amada. Quando o amante a abandona com uma filha pequena nos braços (como a colega avisou) Fantine tem de procurar um emprego que sustente a ambas. Entretanto, deixa a filha, Cosette, numa estalagem no campo, onde os anfitriões, os Thénardier, prometem cuidar dela como se fosse de uma filha. Longe disso, a menina é maltratada, transformada em criada da estalagem, obrigada a trabalhar noite e dia e a carregar baldes de água do rio até à estalagem em pleno inverno. Estes Thénardier são um casal de patifes, dispostos a explorar a pobre Fantine o mais que puderem, fazendo pedidos de dinheiro cada vez mais elevados para “o bem da pequena”, e chegando mesmo a mandar por carta a Fantine que a menina se encontra às portas da morte e precisam de uma enorme soma para a salvarem. Fantine não tem este dinheiro e no seu desespero vende os dentes e o cabelo. Mas os Thénardier ainda pedem mais. Fantine tem de recorrer à prostituição. Aqui, Jean Valjean também é culpado, porque a despede apenas porque Fantine não revelou que tinha uma filha a seu sustento, razão que dificilmente justifica um despedimento. Espero que o livro explique melhor esta passagem.
Seja como for, Fantine tem tuberculose e morre. No seu leito de morte, Jean Valjean promete-lhe tomar conta da pequenita. Mas o tenaz inspector Javert, que há muito tempo persegue Valjean, acaba de o encontrar e leva-o de volta para as galés.
Valjean consegue fugir, ainda mais agora que tem uma promessa a cumprir, e usa a sua fortuna roubada para resgatar Cosette. Começa aqui a segunda parte mais comovente da história. Valjean e Cosette encontram abrigo num convento, onde ela se torna mulher e ele trabalha como jardineiro. Cosette habitua-se a chamar-lhe Papá, e com razão. Nunca aquela infeliz teve alguém tão semelhante a um pai, e Valjean adora-a como a uma filha.
Não vou contar mais do que isto, mas segue-se um romance entre Cosette e um revolucionário. Espero que o livro não nos aborreça com política revolucionária do século XIX (penso que são republicanos, mas a série, graças a Deus, não nos massacrou com isto).
Os episódios são bem equilibrados a nível da acção e deixam-nos sempre em suspense à espera do próximo. A série foca-se no que é realmente importante, os personagens e o seu desenvolvimento.
Só tenho um reparo a fazer. Parece que a BBC decidiu incluir uma “quota” de actores de cor nas suas produções, independentemente do tempo histórico em que elas se passam. Em “Les Misérables” temos um dos protagonistas negro, o inspector Javert, e um em cada cinco parisienses é negro. Curiosamente, o politicamente correcto não incluiu asiáticos. Sinto-me na legitimidade de perguntar porquê. Ora, não acredito nem por sombras que existisse tanta população negra na França do séc. XIX. Inclusive fui investigar, e outros tantos como eu, se era possível que um inspector da polícia na altura fosse negro. Parece que sim, mas em circunstâncias muito excepcionais. Não era, de todo, normal. Pelo contrário. Ainda há pouco tempo vi um documentário sobre os zoos humanos. Este ainda era o tempo em que Paris tinha um “Jardim de Aclimatação” onde se exibiam os “selvagens” das colónias francesas, embora os organizadores destas exibições soubessem muito bem que estavam a lidar com pessoas normais e até lhes pagavam para fazerem de selvagens. Estes selvagens, portanto, eram actores. Mas isso não implica que a população parisiense não os visse como selvagens e que se organizassem passeios, aos domingos, para ir ver os “selvagens”, tal como hoje em dia vamos ver os animais ao Jardim Zoológico. (Se puderem, vejam o documentário. É muito elucidativo. E isto não se passou só em França como em todas as metrópoles europeias “civilizadas” e até nos Estados Unidos.) Neste clima racista, um inspector da polícia negro seria um acontecimento raro, mas ainda assim possível. Tanta população negra nas ruas de Paris é que não.
Será uma questão de habituação? Afinal, o teatro tem uma grande tradição de usar actores não convencionais nos seus papéis. Napoleão pode ser interpretado por um negro, por um asiático, ou até por uma mulher. Aliás, todos os actores podem ser homens ou mulheres em papéis masculinos e femininos. Estamos habituados. Mas o teatro, por outro lado, foca-se na interpretação, não no realismo histórico. Não estará a reconstituição histórica a ser sacrificada ao politicamente correcto? Gostaríamos de ver um D. Afonso Henriques negro, ou asiático, ou mulher (fora do teatro)? Fica a questão.
É claro que os actores não-brancos não têm culpa que certos dramas históricos não os representem porque as suas etnias não estiveram envolvidas neles. Mas isto não é verdade para todos os dramas históricos. Assim de repente estou a lembrar-me da série “Spartacus”, onde havia gente de todas as cores e feitios, do negro da Núbia ao nórdico loiro e de olhos azuis. Sim, também é verdade que eram todos escravos dos romanos, mas é essa a verdade histórica. A História não pode ser branqueada. Qualquer branqueamento, mesmo aquele feito com “boas intenções”, é mais grave do que todos os “politicamente correctos” da actualidade. No que concordo é que podia haver maior produção de dramas a representar várias etnias. E aqui recordo-me de outro exemplo, “Shogun”, passado no Japão feudal. Se a série fosse produzida hoje pela BBC será que íamos ver lá pelo meio samurais africanos? (Se calhar íamos, transformando um drama numa paródia.)
Polémicas à parte, “Les Misérables” é uma excelente série. Gostei principalmente do fim. Depois de os protagonistas chegarem a um final satisfatório, deixando de ser pobres e desgraçados, a série termina com dois meninos a mendigar na rua sem que ninguém lhes dê esmola. Ou seja, sempre haverá miseráveis. Já não os chamamos assim, mas eles existem, muitas vezes onde não desconfiamos.
Recomendo vivamente. Mas conhecendo a RTP2, onde passou a série, será difícil que repitam.
RTP2, se me lês: não é vergonha nenhuma repetir programas, especialmente quando são de qualidade. Nem toda a gente os apanha à primeira.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
domingo, 5 de janeiro de 2020
The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 1 / Amanhecer - Parte 1 (2011)
Quarto episódio de Edward-o-vampiro-que-brilha e sua amantíssima esposa Senhora-Dona-Bella-Cullen.
O filme não perde tempo. Arranca logo com o casamento. Eu sempre pensei que eles não se casassem tão depressa, que houvesse mais peripécias antes disso. Mas a Bella não quer outra coisa senão ser vampira, e afinal há a ameaça dos Vulturi, por isso faz sentido.
O Jacob, pobre Jacob, nem assim a tira da cabeça. Continua um cachorrinho atrás dela. Será que no último filme/livro este desgraçado sem auto-estima vai finalmente partir para outra? Eu estou a torcer para que sim.
Edward e Bella vão passar a lua-de-mel no Rio de Janeiro, onde descobrimos que Edward sabe falar português. Não percebi nada do que ele disse, mas enfim, pelo menos arranha. Não ficam muito tempo no Rio. Afinal a lua-de-mel vai ser numa ilha privada dos Cullen.
E depois acontece a cena da cama. Na noite de núpcias, Edward consegue partir a cama toda. Ora, eu não costumo pedir pormenores quando o que se passa é normal, mas isto é tudo menos normal! Como é que aquela cama acabou naquele estado? Sim, queria ver isso. Ao pormenor.
Admito que já sabia da cena da cama porque uma amiga me tinha contado. Fartámo-nos de rir as duas. Não sei como é que isto não acabou num Scary Movie. (Para quem não sabe, “Scary Movie” é uma série de filmes-paródia aos filmes de terror. Não costumam ter muita piada.) Esta cena da cama é já de si uma anedota, só precisava de ser condimentada.
Em resultado, e como estão numa ilha isolada onde não há IKEA para comprar camas baratas, Edward e Bella passam o resto da lua-de-mel a jogar xadrez. Pobre Bella. Eu fiquei aborrecida só de assistir.
Mas tudo isto para chegarmos ao verdadeiro enredo do filme: a gravidez de Bella. E é uma gravidez digna de um “Rosemary’s Baby”, ou pior ainda, em que a gestação progride a um ritmo vertiginoso. Os vampiros estão surpreendidos que isto pudesse acontecer e também não sabem o que vai sair dali. Mas Bella quer o bebé, por muito monstro que seja. O que é natural. Vão lá dizer a uma mãe que o seu bebé é um monstro.
Agora fiquei muito curiosa para ver como é que ela explica isto ao pai dela. “Olá pai, cheguei da minha lua-de-mel de duas semanas. Aqui tens a tua neta.” Vai ser o ponto alto de toda a saga para mim.
Os lobisomens decidem que este monstro não pode existir e querem ir matar a Bella. Pouca curiosidade científica da parte dos lobisomens, para quem é lobisomem. A primeira vez que um vampiro tem um filho com uma humana e não querem saber o que vai nascer? Mas os lobisomens de Twilight têm esta característica xenófoba de achar que todos são monstros menos eles, como já assinalei na crítica ao filme anterior.
Por falar em lobisomens, e como também já disse do filme anterior, aquela reunião de lobisomens em estado lobo e a falar inglês entre eles é algo entre o infantil e o ridículo. Percebo como é que pode funcionar nos livros em que as falas telepáticas têm de ser verbalizadas, mas nos filmes resulta muito mal. Teria sido melhor que os lobisomens se reunissem em estado humano, e sempre se evitava mais um bocadinho de CGI mal conseguido.
A princípio Jacob quer matar o Edward, mas depois o amor fala mais alto e decide antes proteger a Bella e o bebé, como já se esperava, e agora não estou a ver o que é que possa acontecer de interessante no último filme. (Tirando a parte em que têm de explicar isto ao pai da Bella, isso eu quero ver!)
Mas esperem, o filme ainda não acabou. Já corriam os créditos finais e eu já estava com o dedo no “apagar”, quando acontece a cena mais interessante do filme todo e eu quase a perdia! Por um minuto ou dois aparecem os Vulturi, os vampiros mais riceanos e vilanescos desta saga e por isso os únicos que me fazem vibrar alguma coisa, dizendo entre eles que os Cullen têm algo que eles querem. Aposto que é a Renesme, a filha da Bella. E devem querê-la porque são vilanescos e malvados, mas pelo menos têm curiosidade científica. Estes Vulturi devem mesmo ter sido inspirados no vampiro Armand. Só pode.
E sim, a pobre criança chama-se Renesme. Não bastando ser filha de dois vampiros, ainda tem de viver com este nome o resto da vida possivelmente imortal. Ninguém merece.
Enfim, o que dizer de sério sobre isto tudo? O filme nunca apresenta uma explicação sobre esta gravidez, mas se é possível, e um pouco mais atrás ainda, se os vampiros podem fazer sexo com humanos, então duvido muito que Renesme tenha sido a primeira vez. De certeza já devia ter acontecido e os Cullen teriam conhecimento disso.
Na mitologia clássica, um vampiro é um morto que se levanta do túmulo por meios sobrenaturais (diabólicos ou outros) sustentados pelo sangue das suas vítimas. (“O sangue é a vida.”) Os vampiros de Twilight parecem-me cada vez menos “mortos” e sobrenaturais e cada vez mais seres humanos geneticamente modificados pelo tal “veneno” (vírus?) que os transforma em imortais com força e rapidez sobre-humanas. Mas fica a questão. Se não estão mortos (Edward produziu um bebé, por isso definitivamente não está morto) porque é que precisam de sangue? O propósito do sangue é mesmo esse, sustentar a vida sobrenatural do vampiro através da ingestão da vida das vítimas simbolizada no sangue. Se não existe esta necessidade sobrenatural, porque é que os vampiros de Twilight são vampiros?
Mas de certeza ninguém quis saber de nada disto.
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